Home TVTemporadas Crítica | He-Man e os Mestres do Universo (2021) – 2ª Temporada

Crítica | He-Man e os Mestres do Universo (2021) – 2ª Temporada

Perdendo a força.

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, a crítica da temporada anterior, e, aqui, todo nosso material sobre He-Man.

A reimaginação de He-Man e os Defensores do Universo por Rob David para o Netflix teve uma primeira temporada que considerei incrível, pois foi capaz de reinventar a mitologia, reorganizar a bagunça geral da série clássica oitentista, ressignificar seus personagens, retrabalhar origens e evoluções e recuperar toda a aura infanto-juvenil da obra original, com o bônus de manter consideravelmente intactos – mas evoluindo-os – os consideravelmente fracos conceitos estruturais da obra de Lou Scheimer para a Filmation, sob encomenda da Mattel para a fabricante de brinquedos vender seus bonequinhos de hominhos fortinhos. A segunda temporada tem o mérito de continuar a história exatamente do ponto em que ela parou, com Esqueleto (Benjamim Diskin) e seus lacaios controlando Eternos, o Rei Randor (Fred Tatasciore) e Teela (Kimberly Brooks) escondidos na cidade e He-Man (Yuri Lowenthal) e os demais, juntamente com o próprio Castelo de Grayskull, teletransportados para lugar incerto e não sabido, mas a mágica parece ter sumido e os oito episódios desta segunda parte têm relativamente pouco a oferecer.

Além da introdução do reino de Avian, onde Grayskull se materializa nos segundos iniciais e de seu rei Stratos (Zeno Robinson), caracterizado como um tirador de onda de marca maior que diverte inicialmente, mas que, logo depois, cansa e de Man-E-Faces, ou somente Manny (Stephen Fry), como o rei do submundo de Eternos que acaba ajudando Teela, sua ex-pupila, e Randor, que são novidades interessantes, mas não muito desenvolvidas, a temporada gira em torno da caça de Esqueleto ao MacGuffin – dividido em três pequenas pirâmides genéricas – que lhe permitirá controlar de vez a energia do Caos e reviver a raça de serpentes humanoides que dominava Etérnia, com alguns outros personagens novos, mas pouco inspirados, como a libélula mutante Gary (Bobcat Goldthwait) e uma nova e mais aracnídea versão de Webstor (Dee Bradley Baker), além de outros.

Apesar de ter menos episódios, a temporada parece mais lenta e repetitiva, sem que as novas adições ao elenco ajudem muito (talvez até atrapalhem) e sem que os personagens já estabelecidos sejam brindados com evoluções que os mantenham relevantes e que não sejam algumas habilidades ou poderes novos, como He-Man descobrindo que pode voar surfando em sua espada. Muito ao contrário, o Homem-Fera (Trevor Devall) e Mandíbula (Roger Craig Smith) perdem seu destaque e passam a ser o que eram na série original, lacaios sem personalidade de Esqueleto, com Maligna (Grey Griffin) se destacando um pouco somente porque bate de frente com seu chefe e acaba sendo despossuída de seus poderes extras transferidos por Esqueleto via energia do Caos. No lado dos heróis, é curioso ver que, apesar de Adam aparecer muito pouco, abrindo espaço para sua contrapartida repleta de músculos ficar em tela mais tempo, sentimos pouco a presença de He-Man. E não só dele. Duncan (Antony Del Rio) e Pacato (David Kaye) não tem destino muito melhor, com Teela não progredindo também. Talvez somente Ork-0 (Tom Kenny) evolua de verdade, criando uma mente coletiva com os demais robôs-segurança de Eternos, o que promete recriar Trolla, desta vez em versão cibernética.

Deixei Aríete (Judy Alice Lee) propositalmente por último, por ela sim ganha evolução e um arco narrativo próprio e, diria, até apartado dos demais. Não é algo perfeito, vale dizer, pois ele não só demora a começar de verdade, como tem um gatilho narrativo brusco e fraco, basicamente a visão da jovem de que ela tem sido colocada em segundo plano por seu grande amigo Adam que, ainda por cima, deseja permanecer em Eternos, não retornando à tribo dos tigres lá no meio da floresta como ele prometera. Mas se aceitarmos que tirar conclusões apressadas e imaturas faz parte de sua personalidade – o que é bastante razoável considerando a idade aparente e a forma como ela foi construída -, creio ser possível apreciar seu arco que a leva ao “lado verde de Graskull”, por assim dizer, o que inclui a descoberta de que a pedra em seu capacete tem energia do Caos e que o fantasma do Esqueleto derrotado parece se aproveitar disso de forma, aliás, semelhante ao que acontece na outra série recente do He-Man, aquela das polêmicas estúpidas criadas por marmanjos que não cresceram.

Toda essa transformação de Aríete em uma força do mal, que ganha velocidade vertiginosa nos episódios finais, funciona como um eficiente cliffhanger para o que pode ser uma terceira temporada mais engajadora do que esta aqui, que parece ser a calmaria antes da tempestade. Agora é aguardar para ver se a qualidade excepcional da temporada inaugural não se prove como sendo aquele raio solitário que não se repete mais no trabalho de Rob David.

He-Man e os Mestres do Universo – 2ª Temporada (He-Man and the Masters of the Universe – EUA, 03 de março de 2022)
Desenvolvimento: Rob David (baseado em criação de Lou Scheimer)
Direção: Armen Melkonian, Lubomir Arsov, Ricardo Curtis, Matt Ahrens
Roteiro: Bryan Q. Miller, Lila Scott, Amanda Deibert, Peter Binswanger
Elenco: Yuri Lowenthal, David Kaye, Grey Griffin, Antony Del Rio, Kimberly Brooks, Trevor Devall, Judy Alice Lee, Roger Craig Smith, Fred Tatasciore, Benjamin Diskin, Tom Kenny, Zeno Robinson, Stephen Fry, Bobcat Goldthwait, Dee Bradley Baker
Duração: 201 min. (8 episódios)

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