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Crítica | Heartbeat – A Série Completa

A errante trajetória da excêntrica cirurgiã interpretada por Melissa George.

por Leonardo Campos
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Quase todos os dramas médicos populares da contemporaneidade trabalham com a subversão do sistema para permitir que determinados conflitos se desenvolvam com mais intensidade. Em Heartbeat, a Dra. Alexandra Panttiere, protagonista interpretada por Melissa George, é a musa da manipulação de situações para driblar o sistema e levar os seus casos para outras instâncias e possibilidades. Ela não escuta ninguém, muitas vezes é arrogante, quase sempre está certa quando o assunto é uma questão médica, mas a sua postura de errante constante torna alguns dos 10 episódios da série um pouco irritantes, haja vista a postura excessiva da personagem que deveria ser um pouco mais simpática e respeitosa com os demais. Ela é parte de um material dramático criado por Jill Gordon, responsável por dar vida aos seres que circundam por essa série que durou apenas uma temporada, produzida e transmitida pela CBS.

Baseada no livro da cirurgiã Kathy Magliato, Heartbeat apresentou em sua dezena de episódios, a estrutura tradicional de 42 minutos de duração média, com um arco maior a guiar os médicos e familiares da protagonista, numa abordagem procedural para cada caso, geralmente finalizado ao passo que o próximo episódio se oferta ao espectador. Transmitida entre março e maio de 2016, a produção é um drama médico típico, não muito diferente de tudo que já tínhamos ofertado na época, isto é, relacionamentos complexos, problemas de paternidade, pacientes em busca de procedimentos incomuns, anomalias genéticas extremamente exóticas, paqueras pelos corredores do hospital e aqui, acrescenta-se alguma dose de piadas com humor questionável, aquelas cenas com pessoas cegas de um olho ou com alguma limitação que adentram pelos espaços para causar o suposto riso de alguns espectadores. Não é algo frequente, mas o pouco que se oferta poderia ser excluído na edição final, pois não possui graça nenhuma.

Com a maioria dos episódios dirigidos por Allison Liddi-Brown, os roteiros da temporada foram escritos pela criadora, tramas voltadas para o presente da cirurgiã Alexandra Panttiere, uma médica de carreira bem-sucedida, com um namoro atual que atravessa bem os seus dilemas cotidianos, já que o seu novo amor também é parte integrante da equipe do hospital. A serenidade nestas áreas não impede que a doutora se comporte inadequadamente em outras diversas situações, em especial, por causa de uma situação do passado que é constantemente resgatada por quem a conhece e sabe que por trás de seu brilhantismo também existe alguém que já falhou e ainda possui alguns vícios desse período retrospectivo para ajustar. Mais emoção que razão, a Dra. Alexandra Panttiere pensa pouco e age rápido, mas nem sempre acerta pelas vias que deveriam ser acionadas. E isso lhe causa transtornos e confusões durante a trajetória cotidiana de trabalho, sempre ameaçada pela penumbra de demissão e de outras punições.

Diante do exposto, esse é o fio narrativo de Heartbeat. Tendo como ponto nevrálgico a história protagonista e suas subtramas, o drama em questão preenche os demais espaços com os procedimentos selecionados para cada episódio, todos sempre polêmicos, apresentados com humor e ironia. Há um namorado que pretende se matar para que seu coração seja doado para a namorada que tanto preza. Um paciente que só fala as coisas ao contrário, vítima de um acidente de carro, é levado ao hospital para atendimento neurológico. Um retransplante de coração é parte de uma polêmica entre a protagonista e sua chefe, disputa acirrada que termina em crise. Uma operação com um robô pode ser a solução para um caso, mas também oferta riscos, tal como o episódio com as gêmeas que decidiram pela não separação até então, unidas por um pulmão e pelas costelas, mas que agora precisam refletir sobre a cirurgia, haja vista o câncer numa delas. Para completar, ainda temos o pai da Dra. Alexandra Panttiere, homem que precisa de um rim e precisa fazer revelações nada agradáveis para a filha, bem como um paciente com problemas cardíacos que deseja ajuda para morrer.

Há até uma doença contagiosa que se espalha pelo hospital e coloca os médicos em perigo. Casos médicos trabalhados bem, tanto dramaticamente quanto visualmente afinal, em seus aspectos estéticos, Heartbeat consegue cumprir todos os procedimentos burocráticos para a devida construção da temporada. A direção de fotografia de Lloyd Ahern cumpre a função de passear pelos consultórios, laboratórios, salas de cirurgia e demais espaços hospitalares, captando imagens detalhistas, observando pormenores e nos entregando informações visuais que nem sempre estão disponíveis no texto verbal entoado pelos personagens. O design de produção de Joseph P. Lucky também trabalha certo entre os espaços do hospital, contrastado entre o azul e outros tons menos dominantes, com ótima cenografia e direção de arte, assinadas por Richard C. Walker e William J. Durrell Jr., respectivamente. Os figurinos de Jill Ohanneson vão das habituais peças para médicos em atendimento aos trajes que vestem os personagens em suas interações externas ao hospital, muitas por sinal, pois a série não se prende apenas ao que acontece neste ponto central. Há, inclusive, dramas externos que potencializam os internos.

Ademais, a condução sonora de John Ehrlic e Jason Derlatka acompanha os médicos e pacientes sempre em tons amenos, humorados, pincelados de tensão nalgumas notas entre um ponto e outro, mas geralmente o clima de Heartbeat é muito caloroso e “feliz”. Por ser uma série voltada ao tema cirúrgico, em muitas passagens, a equipe de maquiagem supervisionada por Melaine Tooker apresenta um trabalho convincente, com próteses, órgãos, respingos de sangue, etc. Como mencionado, é tudo muito adequado, mas não chega a ser suficiente para manter a quantidade de espectadores que lhe garantisse mais uma temporada. Os roteiros são razoáveis demais, médicos excêntricos já existem aos montes na teledramaturgia e a série tenta, por meio do humor e de alguns diferenciais, ir na contramão do mainstream, mas não rola. O público não comprou a ideia, a crítica não foi nada simpática e os produtores cancelaram. O final deixa algumas subtramas em aberto, mas basta fazer de conta que é um final alternativo, daqueles que nos faz imaginar o que pode ter sido resolvido entre os personagens.

“Gente boa”, excêntrica, confusa entre o profissional e o pessoal, a Dra. Alexandra Panttiere é uma protagonista que aparentemente bebe na fonte do tom excêntrico herdado de House. Como dito, ela é sempre teimosa, acerta constantemente, mas é um ser humano de convivência muito difícil. A enfermeira Ji-Sung (Maya Erskine) é uma grande parceira e sempre a acompanha nas aventuras pelos corredores do hospital. Panttiere é supervisionada constantemente pela Dra. Millecent Silvano (Shelly Conn), chefe que precisa defender as regras do regimento e diminuir os impactos judiciais e administrativos de algumas ações da protagonista explosiva. Na seara sentimental, ela é bem-resolvida com o seu ex-marido gay, Max (Joshua Leonard), namora com o já mencionado Dr. Harrison, mas ainda possui alguma queda pelo Dr. Jesse Shane (Don Hany), chefe de cirurgia e ex-mentor, uma dos principais subtramas do arco principal, sem o devido encerramento por causa do cancelamento da série. O episódio final deixa várias possibilidades. Escolha a sua e faça você mesmo a versão final para Heartbeat, combinado?

Heartbeat (idem, Estados Unidos/2016)
Criação: Jill Gordon (baseado no livro Heart Matters de Kathy Magliato)
Direção: Vários
Roteiro: Vários
Elenco: Melissa George, Dave Annable, Don Hany, Shelley Conn, Joshua Leonard, Maya Erskine, D. L. Hughley, Jamie Kennedy, Louis Mills, Caitlyn Larimore, Greyson Foster, Rudy Martinez, Bryan Espino, Isaac Wolf, Steele Stebbins, Greyson Foster
Duração: 45 min (cada episódio – 10 episódios no total)

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