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Crítica | Heleno

por Luiz Santiago
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Cinema e futebol no Brasil é uma mistura que vem desde o início do século passado, com o filme Partida Internacional Entre Brasileiros e Argentinos (1908). O esporte que representa culturalmente o Brasil (e isso é inegável, mesmo para os desafetos), teve  bons filmes a representá-lo, do reverenciado Garrincha, Alegria do Povo (1963) aos divisores de opinião como Boleiros – Era Uma Vez o Futebol (1998) e Linha de Passe (2008). Mais recentemente, alguns filmes “institucionais” patrocinados por grandes clubes ou por torcedores/executivos de diversos Clubes chegaram aos cinemas, somando “mais um” ao catálogo futebolístico do cinema brasileiro. Em 2011, entrou para as partidas cinematográficas a cinebiografia Heleno, que mesmo não sendo plena de qualidade, garante um bom entretenimento ao espectador e se firma com mais um passo na ousadia temática da nossa Sétima Arte. Nem que seja só por isso, o filme já vale a sessão.

A história, como se sabe, é sobre o mineiro Heleno de Freitas (1920 – 1959), filho de um industrial e proprietário de cafezais que, desde muito cedo, demonstrou sua paixão pelo futebol. Mesmo tendo se formado em direito, Heleno nunca exerceu a profissão. Sua carreira no Botafogo entre 1937 e 1948 marca a ascensão de uma lenda do futebol nacional e a popularização de um temperamento colérico em campo. O que mais chama atenção nesse aspecto é que o diretor José Henrique Fonseca e os outros dois roteiristas problematizam o tema, mais ou menos afetados pelo reflexo do nosso tempo, onde não raramente bons e jovens atletas deixam-se consumir pelo orgulho e pelo mau comportamento, abrindo as portas para um futuro de inimigos e consequências pouco louváveis.

Heleno não é um filme sobre o futebol ou sobre a carreira em campo do jogador Heleno de Freitas. Não sei se os leitores perceberam, mas tem se tornado cada vez mais comuns as cinebiografias que procuram mostrar a face privada de seus objetos de estudo, usando da fama ou da ocupação pública apenas como alavancas narrativas para expor uma história íntima e desconhecida. Até aí, o roteiro e a direção de Fonseca funcionam bem. A história consegue uma força considerável e fisga o público muito cedo. O que incomoda a partir de um certo ponto são as escolhas que o diretor se permitiu fazer, e a montagem é o exemplo mais grave nesse quesito. O trânsito entre o presente e o passado, através de flashbacks, é bem cansativo, e o tempo passa a ser mal aproveitado a partir daí, porque adequar com um bom ritmo espaços temporais tão longos e diferentes não é fácil para nenhum editor. O resultado não é algo que se possa chamar de inesquecível.

Dado o problema das escolhas narrativas, minha tendência é apontar o diretor como responsável pela queda de qualidade e marasmo (mesmo que palatável) do filme. Mas há coisas que merecem aplausos efusivos em Heleno: a brilhante atuação de Rodrigo Santoro, a linda trilha sonora e a produção visual, destacando-se a fotografia, a direção de arte e o figurino. É impossível não gostar dos ambientes iluminados por Walter Carvalho (que uma safra antes, assinara um documentário sobre Raul Seixas), a delicada criação do guarda-roupa de Valeria Stefani (que já havia feito um ótimo trabalho em A Suprema Felicidade) e os ambientes muito bem projetados e decorados pela direção de arte. O que o filme perde em narrativa, ganha em qualidade de produção visual.

Por incrível que possa parecer, mesmo tendo escorregado na condução do roteiro em idas e vindas cansativas e às vezes desnecessárias, o filme tem uma finalização maravilhosa. Ajudado por Santoro (e pelo elenco de apoio, com boas atuações), que criou um personagem complexo e forte, Heleno entra nos trilhos e nos presenteia com um final “aberto”, sugestivo e inquietante. Se alguma coisa parece não ter se saído bem e uma sensação de vazio permanece enquanto os créditos finais aparecem, é um reflexo dos tropeços no desenvolvimento, mas se olharmos friamente para o longa, veremos que a partida jogada merece ao menos o título de “valeu a pena”.

Heleno (Brasil, 2011)
Direção: José Henrique Fonseca
Roteiro: José Henrique Fonseca, Fernando Castets e Felipe Bragança
Elenco: Rodrigo Santoro, Othon Bastos, Edson Capri, Aline Moraes, Angie Cepeda, Erom Cordeiro, Orã Figueiredo, Henrique Juliano, Duda Ribeiro
Duração: 116min.

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