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Crítica | Hellboy – Vol. 12: Tormenta e Fúria

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leia, aqui, todo nosso material sobre Hellboy.

Depois de dois encadernados seguidos que compilaram contos soltos de Hellboy, a Dark Horse Comics finalmente trouxe Tormenta e Fúria que encerra a narrativa macro do Vermelhão iniciada em Sementes da Destruição, mas mais diretamente os enormes desenvolvimentos narrativos que Mike Mignola trabalhou em O Clamor das Trevas e Caçada Selvagem. Claro que é um encerramento parcial, já que as aventuras da criação de Mignola continuou no inferno, mas essa é uma outra história.

Tormenta e Fúria, na verdade, reúne duas minisséries de três edições cada de Hellboy, cada uma com um dos nomes que compõe o título duplo do encadernado e que foram publicadas entre 2010 e 2011. A situação que foi desenvolvida antes é repetida aqui. Nimue, a rainha das bruxas, está viva novamente e quer destruir o mundo. Hellboy, por sua vez, depois de visitar Morgana Le Fay, descobre que é destinado a brandir Excalibur e literalmente tornar-se o rei da Inglaterra, capaz de comandar um exército de cavaleiros medievais há muito mortos. Junto com Alice, a mulher que ele salvara das garras de Gruagach quando ela ainda era bebê em O Caixão Acorrentado, a história começa em uma igreja onde aparentemente corpos de cavaleiros medievais haviam sido enterrados. É o começo da indicação de que a profecia do tal exército é mesmo verdade, algo que Hellboy só lida mesmo depois de sair na pancadaria com um emissário de Nimue, um porco-espinho transformado em Orc (ou algo semelhante) de maneira muito próxima à criação dos super-Orcs por Saruman na Trilogia O Senhor dos Anéis.

Quando Hellboy e Alice finalmente têm um tempo para respirar em uma misteriosa estalagem servida por um simpática – e muito sábia! – senhora, as peças começam a vagarosamente se encaixar para o nosso grande. Paralelamente, Nimue percebe que sua sana por poder e destruição apenas a transformou em um vetor de ninguém menos do que Ogdru Jahad, o dragão lovecraftiano que Rasputin queria conjurar usando Hellboy como chave. Essas duas linhas narrativas que não demoram a convergir em uma pancadaria sem fim, porém, merecem comentários mais detalhados e não tão elogiosos de minha parte.

(1) Tormenta e (2) Fúria.

Na primeira delas, Hellboy acaba renegando Excalibur e seu legado objeto de uma detalhada construção por Mignola. Em outras palavras, o autor desfaz aquilo que estabelecera em Caçada Selvagem. Não é o fim do mundo (sem trocadilho), porque transformar a história de Hellboy em uma espécie de continuidade das lendas arturianas é algo que apareceu de forma razoavelmente repentina na trajetória do personagem, não estando presente até 2008 ou 2009. Portanto, esse desfazimento de algo bem recente (não podemos esquecer que a saga de Hellboy começou em 1994) não é mortal, mas sem dúvida parece uma traição, um retrocesso narrativo que torna praticamente vazios o volume cronologicamente anterior. Chega até mesmo a parecer que Mignola mudou de ideia e resolveu afastar seu personagem desse legado – e o epílogo deixa isso bem estabelecido – para levá-lo de volta às raízes mais demoníacas. Essa incerteza sobre o que fazer com Hellboy, algo que não sai de minha cabeça desde quando ele largou o B.P.D.P. ao final de O Verme Vencedor manifesta-se fortemente aqui e confesso que não apreciei a maneira como Mignola lidou com essa questão.

Na linha narrativa paralela, o problema é mais pontual, mas também de certa forma trai o que vimos em A Caçada Mortal. É que Nimue foi revivida pelos esforços de Gruagach desde o volume anterior, O Clamor das Trevas, como a grande bruxa que traria o fim do mundo dos homens, abrindo espaço para os seres mágicos. Eis que, sem cerimônia, ela transforma-se, contra sua vontade (pelo menos isso) em um vetor de Ogdru Jahad e começa a transformar-se fisicamente em um dragão monstruoso (seria pleonasmo?). Sim, com isso Mignola “amarra” as pontas do monstro que sempre povoou a mitologia que criou, mas o problema é que tudo acontece sem nenhum preparo, sem nenhum desenvolvimento. Posso estar me repetindo, mas parece que o autor sentou, pensou bem no que havia escrito e falou “não, não dá, tenho que voltar ao monstrão original”. E é verdade, ele tinha mesmo, mas não assim, de maneira que reputo jogada e instantânea demais.

E, como se isso não bastasse, depois do interminável embate entre Hellboy e Ogdru Jahad, Mignola ainda insere um deus ex machina desagradável para que seu herói dê cabo no bicharoco. Considerando que Hellboy tinha Excalibur até algumas páginas antes, inventar uma outra espada que se materializa em sua mão foi preguiça demais do roteiro, quase que como – e lá vou eu me repetir novamente – Mignola estivesse em dúvida sobre como terminar a história. A luz no final do túnel é a arte de Duncan Fegredo, novamente excepcional e, aqui, com amplo espaço para mostrar toda sua vitalidade em combates de larga escala e panorâmicas bem trabalhadas. É seu ponto alto trabalhando com Hellboy, sem dúvida alguma. Uma pena que a história não esteja a altura.

Tormenta e Fúria, no final das contas, acaba desapontando como encerramento de décadas de construção narrativa. Não é uma história ruim, longe disso. Mas ela é muito distante da qualidade consistente que Mignola sempre mostrou. Pelo menos a história de Hellboy continua nas profundezas do inferno.

Hellboy – Vol. 12: Tormenta e Fúria (Hellboy – Vol. 12: The Storm and the Fury, EUA – 2012)
Contendo: Hellboy: The Storm e Hellboy: The Fury
Roteiro: Mike Mignola
Arte: Duncan Fegredo
Cores: Dave Stewart
Letras: Clem Robbins
Editoria: Scott Allie
Editora original: Dark Horse Comics
Datas originais de publicação:
– The Storm and the Fury (encadernado original americano): março de 2012
– (1) Hellboy: The Storm, publicada de julho a setembro de 2010;
– (2) Hellboy: The Fury, publicada de junho a agosto de 2011.
Editora no Brasil: Mythos Editora
Data de publicação no Brasil: março de 2015
Páginas: 176 (encadernado brochura americano)

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