Em sua quinta incursão, Hellraiser: Inferno marca uma mudança significativa na franquia que mesmo diante de seus altos e baixos, conseguiu manter-se no cenário dos filmes de terror por bastante tempo. Este é o primeiro a ser lançado diretamente em vídeo, além de não contar com a participação de Clive Barker como produtor. Diferentemente das produções anteriores, que eram mais voltadas para o horror e o sobrenatural, a produção arrisca e adota um tom mais próximo do thriller policial, causando estranhamento para aqueles que esperavam apenas os suplícios dos cenobitas liderados por Pinhead. Lançado em 2000 e dirigido por Scott Derrickson, o enredo centra-se em Joseph Thorne, um detetive corrupto de Denver, interpretado por Craig Sheffer, cuja vida caótica inclui infidelidade e uso de drogas. Ele é um errante, tipo aqueles homens perdidos do cinema noir. A trama se desenvolve quando Thorne encontra uma enigmática caixa de quebra-cabeças durante uma investigação. Ao resolvê-la, ele começa a experimentar alucinações perturbadoras, sendo assediado por visões de mulheres mutiladas e uma criatura aterrorizante.
À medida que avança na investigação do assassinato de uma criança, ele fica obcecado pelo assassino conhecido como O Engenheiro, que começa a eliminar amigos e conhecidos de Thorne, deixando um dedo da criança sequestrada em cada cena do crime. Numa combinação de horror psicológico com elementos de um suspense policial, Hellraiser: Inferno vai refletindo a dualidade da luta interna de seu protagonista, ao passo que nos apresenta o transtorno de todos aqueles que gravitam em torno de sua existência. Ao longo de seus 96 minutos, em “Inferno”, durante a terapia para lidar com as suas alucinações, Thorne descobre que seu psiquiatra é ninguém menos que Pinhead, interpretado por Doug Bradley, o líder dos Cenobitas, que lhe revela algo indesejado: ele está sob o domínio dos Cenobitas desde que abriu a caixa, sofrendo torturas psicológicas que refletem sua própria crueldade e que levaram à deterioração da sua inocência. Ao ser enredado por correntes, Thorne é informado de que enfrentará uma eternidade de tormentos por seus pecados, enquanto mortes estranhas começam a ocorrer, levantando um mistério que Joseph precisa desvendar para evitar se tornar a próxima vítima.
Embora o filme não seja exclusivamente psicológico, grande parte da ação se concentra nesse aspecto, com Joseph acompanhando os eventos como uma testemunha ocular. O roteiro imerge tanto o personagem quanto o espectador em uma teia de mistérios com o tempo correndo contra eles. À medida que a trama avança, pistas são introduzidas gradualmente, culminando em uma conclusão impactante que ressoa com a intensidade do destino de Frank Cotton no primeiro filme, enfatizando que todo o horror e interesse começam na mente, salvaguardadas, obviamente, as devidas proporções comparativas, afinal, este aqui está longe do clima e da criatividade da narrativa de 1987. Um detalhe que considerei interessante é a presença dos cenobitas que voltam a ser apenas fios condutores e não vilões principais. Aqui, tais seres estão tão macabros quanto no filme original, com destaque para a fêmea dupla, que aos olhos de alguns, podem ressoar como macabras e sensuais, concomitantemente.
Sendo assim, apesar da mudança estrutural da narrativa trazer novos ares para a franquia, tais características, não foram tão bem recebidas por boa parte da base de fãs de Hellraiser. Em Inferno, não temos a mocinha bonitinha que é vítima dos cenobitas feios. O herói aqui é um policial corrupto que trai a esposa, engana os amigos e não liga para os pais idosos. Trabalhar no plano psicológico com sequências que nem sempre fazem sentido delineiam a postura mais autoral dos roteiristas, criando um panorama de simbologias e interpretações mais detalhadas que podem ter prejudicado o interesse de alguns fãs, mais focados na violência. Além disso, a ínfima participação dos cenobitas deixa a desejar. Mudar o foco de uma trama que leva o nome Hellraiser foi algo corajoso, mas a direção de fotografia de Nathan Hope entrega alguns trechos inspirados, o que não pode ser dito da trilha sonora de Walter Werzova, pouco impactante.
No geral, um filme razoável. Antecede Caçador do Inferno, trama que traz de volta uma icônica personagem da franquia.
Hellraiser: Inferno (Idem, EUA – 2000)
Direção: Scott Derrickson
Roteiro: Paul Harris Boardman, Scott Derrickson
Elenco: Doug Bradley, Craig Sheffer, Ashley Laurence, Kathryn Winnick, James Remar, Nicholas Turturro, Michael McGowan
Duração: 96 min.