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Crítica | Hellraiser: O Retorno dos Mortos

Abuso infantil, traumas do passado e pouca presença dos cenobitas demarcam a narrativa do sétimo filme da franquia.

por Leonardo Campos
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Depois de uma viagem espacial, da opressão psicológica de um policial e do retorno da protagonista do primeiro filme em Caçador do Inferno, o que mais Hellraiser tinha para nos ofertar enquanto entretenimento? Não satisfeitos e capitalizando em torno de Pinhead e seus cenobitas, os produtores envolvidos no projeto decidiram lançar Hellraiser: O Retorno dos Mortos, em 2005, uma narrativa curiosa e com proposta interessante ao longo de seus 88 minutos, mas executada sem firmeza. O culpado? Talvez Rick Bota, com seu estilo peculiar. Ou então, produtores em torno do projeto, exigindo mudanças e minando a criatividade. Independentemente de qualquer um dos dois fatores, o filme beira ao desastre, mas até que apresenta alguns bons momentos. A condução musical de Henning Lohner, abaixo do esperado, se esforça para estabelecer uma atmosfera sombria, tal como a direção de fotografia de Vivi Dragan Vasile, dedicada com seus movimentos e enquadramentos virtuosos, recursos que, no entanto, não conseguem driblar a condução de Rick Bota para o roteiro escrito por Neal Marshall Stevens que, assim como alguns de seus antecessores, foi um texto inicialmente composto para ser outro filme de terror, reescrito para se encaixar na série, uma estratégia adotada desde Hellraiser: Inferno.

O filme acompanha a repórter investigativa Amy Klein (Kari Wuhrer), enviada a Bucareste por seu chefe Charles Richmond para investigar um vídeo de suicídio ritual ligado a uma seita secreta chamada “The Deaders”. Ao chegar, ela encontra o corpo de uma adolescente segurando a famosa caixa quebra-cabeças “Configuração do Lamento”, sem saber que este objeto é a chave para o mundo dos Cenobitas, criaturas centrais na mitologia da série. Ao abrir a caixa, Amy é imediatamente confrontada com visões aterrorizantes de Pinhead, o líder dos Cenobitas, interpretado por Doug Bradley em mais uma participação breve, que a avisa sobre os perigos que enfrenta. A partir desse momento, ela mergulha em uma jornada de alucinações e memórias traumáticas de abuso infantil, o que a leva a uma luta interna onde a linha entre realidade e ilusão se torna cada vez mais difícil de discernir. Ao longo do processo, ela se depara com Winter LeMarchand, o líder do culto que acredita ter a autoridade sobre a caixa e busca se conectar com o mundo dos Cenobitas por meio de rituais obscuros.

Em Hellraiser: O Retorno dos Mortos, Pinhead e os cenobitas acabam se tornando coadjuvantes em sua própria narrativa, aparecendo minimamente ao longo do filme. O roteiro utiliza excessivamente flashbacks para preencher a duração padrão do gênero, resultando em uma desconexão entre o que é apresentado e a realidade dos acontecimentos. Lançado diretamente em vídeo e com um orçamento modesto, o filme foi gravado em apenas 25 dias, o que não necessariamente implica em qualidade inferior, visto que vários filmes de terror de sucesso foram produzidos com recursos limitados, mas apoiados em roteiros e direções sólidas. Adicionalmente, a história sofre com a inclusão desnecessária de um personagem secundário do quarto filme, o artesão, que se revela irrelevante para a trama. Essa tentativa de criar um gancho não apenas confunde o enredo, mas também dilui a presença e a importância dos personagens principais, comprometendo a experiência do público. A combinação é mortal: uma narrativa fraca e personagens mal desenvolvidos, o que resulta em um filme que não consegue capturar a essência do que tornou a franquia significativa.

No final das contas, qual o saldo? “O Retorno dos Mortos” nos revela a exaustão criativa da franquia Hellraiser, evidenciada por sua execução confusa que mistura ilusão e realidade. A produção parece mais interessada em capitalizar sobre a icônica marca do que em oferecer uma narrativa inovadora, apresentando as investidas de Pinhead como um dos poucos atrativos, mesmo com sua aparição econômica e tardia. As cenas de violência, que são uma assinatura da série, ainda estão presentes, mas em quantidade reduzida em comparação aos filmes anteriores, resultando em um produto que se assemelha a muitos outros lançados anualmente. A principal falha reside no fato de que sua narrativa não foi originalmente concebida para estar inserida na mitologia de Hellraiser. Terá sido esse o problema? O encaixe forçado? A tentativa de integração à franquia foi feita de maneira ligeira, através de uma relação forçada entre o líder da seita Winter e o criador da caixa que abre as portas do inferno. Essa adaptação deixa o filme com uma sensação de falta de propósito e relevância dentro do universo estabelecido, culminando em um resultado que frustra as expectativas dos fãs e do público em geral. Mesmo com todos os problemas, no entanto, ainda é melhor que alguns antecessores e posteriores.

O filme antecede Hellraiser: O Mundo do Inferno, outra aposta desastrosa em torno da franquia.

Hellraiser 7: O Retorno dos Mortos (Hellraiser: Deader, EUA – 2005)
Direção: Rick Bota
Roteiro: Tim Day, Rick Bota
Elenco: Kari Wuhrer, Doug Bradley, Simon Bamford, Paulina Olszynski, Alexandra Mardell, Michael McMillian, Joann K. Fagan, Craig Conway
Duração: 97 min.

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