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Crítica | Hellsing – Vol. 1

por Guilherme Coral
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estrelas 4

O ano 1997 foi bastante curioso e nos trouxe duas obras renomadas protagonizadas por personagens de nome Alucard (Dracula de traz para a frente, para quem ainda não percebeu). A primeira é o clássico game Castlevania: Symphony of the Night, divisor de águas da franquia, considerada por muitos (eu incluso) como o melhor jogo da série. A segunda, por sua vez, lançado poucos meses depois, é Hellsing, do mangaká Kouta Hirano, que também lida com vampiros e outras criaturas da noite, trazendo inúmeras semelhanças com o game da Konami.

O mangá gira em torno de Alucard, um vampiro que trabalha para a organização Hellsing, uma divisão do governo britânico especializada em combater os bebedores de sangue e outros seres que assolam o território inglês. Logo descobrimos, porém, que há algo que diferencia esse caçador de vampiros de outros de sua espécie, seu enorme poder que apenas começa a ser revelado nesse primeiro volume. Funcionando, como de costume, para introduzir os personagens principais e o universo que habitam, a edição traz algumas histórias para nos situar, mas não perde tempo e já parte para a problemática central da obra, introduzindo um dos principais antagonistas na sua segunda metade.

É essa agilidade que torna Hellsing uma leitura tão prazerosa – certamente que a ideia de um vampiro caçando outros iguais a ele não é nenhuma novidade, mas o que diferencia esta de outras obras com a mesma premissa é a forma como os personagens são construídos. Há um grande mistério envolvendo Alucard e Hirano sabe dosar as respostas que nos oferece na medida certa. Embora os dois capítulos iniciais funcionem como apenas um prólogo, ele os utiliza para moldar os indivíduos que fazem parte desse cenário, especialmente a ex-policial Seras Victoria, que é trabalhada como uma filha e aprendiz do vampiro ao mesmo tempo.

Kouta também sabe mesclar o humor com sua narrativa sombria e bastante séria de forma homogênea, criando quebras de expectativa que não prejudicam nossa imersão na leitura. A relação entre o protagonista, Seras e Integra, líder da Hellsing, é construída de forma bastante descontraída, gerando uma sensação de familiaridade entre nós e os personagens, ao mesmo tempo que diferencia os bonzinhos dos malvados. Interessante também é todo o cunho religioso presente no mangá, que é mostrado de forma política, um verdadeiro negócio de almas com o Catolicismo em uma frágil trégua com o Protestantismo.

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A arte, também de Hirano, sabe contar com bastante detalhes, principalmente nas vestimentas e objetos dos personagens – a arma de Alucard é um perfeito exemplo disso. Os indivíduos, desenhados com membros bastante alongados, nariz espichado e grandes olhos, garantem uma identidade visual ao mangá. Existe, contudo, uma discrepância quando o humor se estabelece ou muitos elementos aparecem em quadro, visto que o traço se torna menos detalhado, algumas vezes parecendo como um esboço do mangaká. Felizmente, já nesse primeiro volume, podemos sentir uma melhoria de sua técnica conforme nos aproximamos dos capítulos finais, especialmente nos trechos de ação, que são mostrados de forma concisa, fácil de entender e bastante envolventes.

A aparição do Padre Anderson na segunda metade ainda cria uma nítida tensão no leitor, desconstruindo a figura aparentemente imortal de Alucard. A presença insegura de Seres também amplifica esse sentimento, visto que sua fragilidade é bastante evidente, especialmente nesse combate final da edição. É interessante como o autor consegue nos fazer gostar de praticamente todos os personagens, trazendo, em cada um deles, diferentes personalidades que se complementam e antagonizam – há uma riqueza na forma como os desenvolve, o que apenas nos deixa mais ansiosos pelos números posteriores.

O primeiro volume de Hellsing, portanto, já consegue nos mostrar toda a força da narrativa construída por Kouta Hirano, que nos proporciona com uma história ágil, envolvente e com personagens facilmente relacionáveis. Seu traço certamente necessita mais refino, mas sua evolução com o passar dos capítulos nos deixa confiantes em relação ao que veremos nas próximas edições. Para quem gosta de vampiros, do sobrenatural e seus caçadores, esta é uma história altamente recomendável, que pode ser lida de forma fluida em um instante, praticamente nos forçando a virar uma página após a outra.

Hellsing – Vol. 1 — Japão, 1997
Roteiro:
Kouta Hirano
Arte: 
Kouta Hirano
Editora (no Japão):
Shōnen Gahōsha
Editora (no Brasil): 
Editora JBC
Páginas: 
200

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