- Há SPOILERS! Confira a crítica para os outros episódios da série aqui.
Se os dois primeiros episódios desta temporada final foram pesados em mitologia e contextualizações da Guerra, The Intention Craft e Lyra and Her Death têm um foco diferente: personagens. Notem como as tramas do conflito se movem de maneira claudicante pelos roteiros, dando mais atenção para alguns dilemas, encontros e enfrentamos de indivíduos. Sou realmente fascinado pelo Universo de His Dark Materials, mas é interessante como o seriado sempre parece achar seus melhores episódios quando muda sua direção para o elenco, apesar de alguns atores não serem exatamente incríveis.
Pode ser um efeito tanto de um mérito dramatúrgico da produção quanto uma reação a como Childs não tem qualidade com uma história de aventura e exploração, seja por sua narrativa burocrática, seja pela distribuição ruim de tempo entre núcleos – ainda é possível ver esse problema aqui nas aparições arbitrárias e desconjuntadas da Mary Malone. Toda a construção da Terra dos Mortos, porém, é louvável, desde aquela fotografia amarelada até o sentimento mundano do cenário, com filas, salas de espera e locações de concreto. É, sem dúvidas, um espaço mórbido, como deveria ser. Veremos como é o “outro lado”.
Mas direção de arte e cenários exóticos acabam ficando em segundo plano dessa vez. A palavra-chave do episódio é confronto. Asriel vs Coulter; Lyra vs Pan; Coulter vs MacPhail; e, em menor medida, até Iorek vs Lyra e Will carregam um episódio cheio de emoção, discussões calorosas e despedidas melancólicas. Vemos desenvolvimentos de arcos a torto e a direita, seja Will encontrando sua missão ou Asriel demonstrando seu lado moralmente complexo, novamente com atuação arrasadora de James McAvoy.
Sua conversa com Coulter é um misto de sensações que vão de egoísmo, inveja, complexo de grandiosidade (irônico para ele), manipulação até amor e (anti)heroísmo, com um momento poderoso na tortura do anjo encarcerado, destacando novamente a obsessão de Asriel em um discurso ao mesmo tempo ameaçador e perturbador. MacPhail também ganha contornos dramáticos importantes em sua caminhada tênue entre fanatismo e heresia.
Mas o destaque, claro, fica com a separação entre Pan e Lyra. Ainda que Dafne Keen peque um pouco em sua falta de latitude dramática, temos um momento emocionantemente arrasador, seja pela metáfora espiritual com a quebra entre corpo e alma, seja os laços genuínos que são quebrados quando Lyra escolhe Roger. Adoro quando a série dá consequências às escolhas impulsivas de Lyra. Veremos se o sacrifício valeu a pena.
Narrativamente falando, esses dois episódios também nos atiçam e levantam um senso de urgência à história. O que tem depois do rio/mar na Terra dos Mortos? O que vai acontecer com aquela bomba do Magisterium? Quais são os próximos passos de um Asriel determinado e obcecado? E o que vai ser de Pan? Muitas perguntas bem colocadas e desenvolvidas em um pacote de emoções humanas, metáforas religiosas e confrontos íntimos.
His Dark Materials (Fronteiras do Universo) – 3X03 e 04: The Intention Craft e Lyra and Her Death — Reino Unido, 2022
Direção: Jamie Childs
Roteiro: Jack Thorne, Amelia Spencer
Elenco: Dafne Keen, Ruth Wilson, Amir Wilson, Simone Kirby, Ruta Gedmintas, Jade Anouka, Remmie Milner, Will Keen, Sasha Frost, Bella Ramsey, Ella Schrey-Yeats, Cristela Alonzo, Kit Connor, James McAvoy, Adewale Akinnuoye-Agbaje
Duração: 50 min. (cada)
