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Crítica | História da Matemática: Série Completa

Um fascinante passeio da BBC pelo mundo fantástico dos números.

por Leonardo Campos
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Documentar é metaforizar o real. Na série História da Matemática, transmitida e produzida pela BBC, metáforas, símbolos, equações e muita filosofia embalam os quatro episódios que em linhas gerais, seguem os ditames de uma produção documental, isto é, narrativa não-ficcional, caracterizada por manter determinado compromisso com a exploração de questões reais, salvaguardadas as devidas proporções criativas para aqueles que ousam e inserem, em modelagem híbrida, elementos ficcionais para ampliar o senso estético da produção. Aqui, temos o modelo mais tradicional, no entanto, ainda muito interessante e, não monótono, algo que os desinteressados por Ciências Exatas esperam de um produto do tipo. Documentários representam uma visão de mundo: e é assim que os idealizadores desta série documental com episódios na média dos 55 minutos apresentam aos espectadores uma longa jornada pelo mundo dos números, numa abordagem eficiente, cheia de efeitos visuais que vão além da preocupação exclusivamente estética, funcionando como conteúdo didático para permitir que aqueles não envoltos com a Matemática compreendam melhor os pormenores biográficos dos filósofos expostos durante a exibição.

No episódio 01, A Linguagem do Universo, os realizadores apresentam como os avanços da matemática surgiram diante do interesse da humanidade em compreender melhor as formas que faziam parte de seus respectivos entornos. A Proporção Áurea, relacionada com a beleza e detalhismo das formas da natureza, era parte da estratégia destas buscas por conhecimento para aplicabilidade no cotidiano em desenvolvimento. Os egípcios são os primeiro estudados, com destaque para as suas pirâmides, obras arquitetônicas consideradas de grandiosa genialidade, uma alusão ao Teorema de Pitágoras antes mesmo do próprio ter estabelecido as suas considerações sobre o assunto. O episódio também reflete as ressonâncias dos babilônicos na evolução da matemática, povo que utilizou elementos diferentes dos egípcios no processo de avanço desta área do conhecimento, sendo também tributários da formação do pensamento matemático nas sociedades vindouras. Medir áreas de terras e canalizar água para dinâmicas na agricultura estão entre as práticas comuns nesta época, realizadas ainda na contemporaneidade.

Ainda neste primeiro capítulo de História da Matemática, o narrador nos explica a noção de entendimento do espaço para as pessoas destes tempos remotos, passando por questões filosóficas sobre vida e morte, demonstrando que até os animais possuem relacionamento com a matemática em sua irracionalidade, seja na fuga de um predador, no cálculo para aplacar uma presa, em linhas gerais, na condução pela sobrevivência da cadeia alimentar, além da execução de seus projetos de contribuição para a natureza, afinal, cada ser vivo que compõe nosso ecossistema possui uma função, mesmo aqueles que odiamos tanto, tal como as baratas. Curioso entender como os egípcios calculavam os elementos do calendário por meio das cheias dos rios, fases da lua, etc. São métodos antigos, mas que ainda servem de referência matemática para muitas áreas do conhecimento na atualidade, campos que utilizam os estudos numéricos para compreender noções de tempo e espaço. Foi no Egito também que temos registros sobre frações, proporções, utilizados nas práticas comerciais e difundidos posteriormente para outros espaços de execução das ações humanas, um povo que usava o corpo como base para medidas.

No episódio 02, O Gênio do Oriente, o documentário viaja para a história dos cálculos matemáticos na China, por volta de 200 a.C., dando ênfase para a Dinastia Han, conhecida por estimular os interessados em matemática e compilar um livro chamado Os Nove Capítulos, material que serviu de catalogação e preservação das lições destes chineses no campo em questão, conteúdo até hoje útil para abordagens diversas de pesquisadores contemporâneos. Em sua estrutura, podemos encontrar tentativas de resolução de problemas básicos, tais como a divisão de terras e produtos, administração de trabalhos de construção, dentre outros. Os indianos também ganha destaque no episódio, em especial, pela colaboração da inserção do zero como um símbolo numérico ainda não pensado pelos povos anteriores, delineando assim um marcador, culminando na criação do espaço vazio. Ao partir para o século 7 a.C. os realizadores desta produção apresentam as transformações no centro de Bagdá, efervescente na época, local de estabelecimento de uma grandiosa usina de intelectuais no mundo todo, ponto da Casa de Sabedoria, empreendimento que tentou reunir os conhecimentos matemáticos da Grécia, da Índia, da Babilônia e de outros contribuintes para o campo do saber em questão.

Em As Fronteiras do Espaço, terceiro episódio da série, viajamos para o século XVII, numa investigação que busca nos mostrar como a Europa se transformou no centro matemático do mundo. Foi uma era de passos largos para os estudos nesta área, momento de compreensão mais ampla da geometria dos objetos fixos no espaço e no tempo. René Descartes é um dos destaques, filósofo que conseguiu unificar geometria e álgebra. Há também uma análise do antagonismo entre Isaac Newton e Gottfried Liebniz, figuras determinantes para o pensamento matemático da época. Em seu encerramento, o narrador expõe as implicações de três nomes considerados gigantes no campo dos números: Glauss, Euler e Riemann, num panorama que delineia as importantíssimas contribuições de cada um para o avanço da Matemática. Ademais, gosto de ressaltar o quão didática é a abertura do episódio, com uma representação da pintura O Flagelo de Cristo, de Piero dela Francesca, observada pelo viés dimensional. Suas perspectivas, a tridimensionalidade antes não compreendida, agora adotada nas artes visuais, num passeio fascinante pelo campo dos estudos matemáticos e seus desdobramentos em outras áreas de nossas vidas. Há, ainda neste episódio, uma abordagem da contribuição de Fermat, o responsável pela teoria moderna dos números. Em linhas gerais, um episódio denso.

Por fim, no quarto episódio, intitulado Para o Infinito e Além, o ponto principal é a exposição dos realizadores na concepção da Matemática como um campo do saber que possui prazer no entendimento de um problema, não necessariamente na solução correta de sua questão. Aqui, temos os dilemas estabelecidos por Godel, o trabalho de Paul Cohen, a teoria do caos de Henri Poincaré, a geometria algébrica de André Weil, as colaborações do francês David Hilbert, num panorâmico processo de catalogação de contribuições que vai da quebra de códigos durante a Segunda Grande Guerra Mundial aos cálculos e fórmulas que permitiram a invenção de elementos tecnológicos essências para a comunicação na contemporaneidade, em especial, o computador tal como conhecemos hoje, um protótipo bem diferente em seu primeiro momento de apresentação e uso para pesquisadores. No geral, por meio de suas histórias cativantes e envolventes, o narrador Marcus du Sautoy, narrador da produção veiculada pela BBC, entrega ao público uma série documental em quatro episódios que fascina até mesmo aqueles que se consideram resistentes ao supostamente complexo campo de atuação dos estudos matemáticos.

Moby Dick (Idem/Estados Unidos,2008)
Criação: David Berry, Robin Dashwood, Karen McGann
Roteiro:David Berry, Robin Dashwood, Karen McGann
Elenco: Marcus du Sautoy
Duração: 04 episódios/50 min. cada

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