Home QuadrinhosArco Crítica | Homem Animal #1 – 6: A Caçada (2011)

Crítica | Homem Animal #1 – 6: A Caçada (2011)

por Luiz Santiago
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O retorno do Animal Man a um título solo, na fase dos Novos 52, fez com que muita gente tivesse contato com o seu Universo pela primeira vez. Desde Os Últimos Dias do Homem Animal (2009), ele estivera apenas como coadjuvante e em cameos e participações especiais/limitadas em sagas, crossovers e arcos de outros personagens. E que bom que o tal retorno aconteceu em um run com esse porte, capitaneado por Jeff Lemire. Sem nenhuma enrolação, o autor apresenta a base dos conflitos de Buddy Baker: ele é um Avatar do Vermelho (assim como Alec Holland é um Avatar do Verde) e está parcialmente aposentado de sua patrulha, trabalhando como ator em filmes independentes. No momento em que este arco começa, o personagem mata um pouco a saudade de vestir o uniforme e sair para ajudar a cidade, ao passo que lida com alguns terríveis pesadelos envolvendo sua filha Maxine, de 4 anos, que sem ele saber, guarda um importante pepel de representação do Vermelho, situação que se estabelece como um dos focos de A Caçada.

O interessante do argumento de Lemire para esta nova fase é o apelo às reflexões sobre a vida, sobre o papel da carne e aquilo que pode deformá-la, desde a sua concepção genética até as manipulações do sangue e da matéria celular que um Ser do Parlamento da Decadência (os anfitriões do Podre, o câncer que quer infectar o Parlamento da Carne e atingir a Árvore da Vida) pode realizar. Isso traz para o leitor uma série de pensamentos sobre a relação entre vida-e-morte na natureza, com a ideia de que nada morre, de fato, apenas é incorporado a uma outra forma de vida in natura, tornando-se vida novamente. Nesse trajeto reflexivo, os traços e a finalização sombreada, solta, suja e extremamente deformada de Travel Foreman (como deveria ser, em uma saga que fala de todos os possíveis cânceres infectando tudo o que é carne e sangue) fazem um ótimo papel de contextualização visual e muito macabra.

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O Parlamento da Carne e como o Podre começou…

Sem excluir as forças da natureza, mesmo as destruidoras — e nesse ponto, eu sempre me lembro de Princesa Mononoke, aquela fantástica animação de Hayao Miyazaki –, ficamos apreensivos quanto ao futuro da humanidade, já que esse abalo na Teia da Vida está enlouquecendo o comportamento animal em todos os lugares. Passamos por uma chocante cena no Zoológico da cidade (me deu um dó daquelas hipopótamos-fêmeas!) e presenciamos a conexão dos Três Caçadores do Podre com o nosso mundo, utilizando da carne dos bichos para chegar à carne dos homens e então possuir seus corpos. Os Caçadores, porém, não consigam manter a forma humana por muito tempo, pois sua infeção da carne é muito forte, atraindo moscas e fazendo com que o corpo exploda e desemboque nas mais bizarras mutações.

Inserida em um contexto bastante pertinente em nossos dias — tempos de ataque, infecção e envenenamento Corporativo de homens e animais — e da qual podemos tirar uma série de interpretações, a história é um exemplo de como a doença da carne pode ganhar novas dimensões se olharmos para além do óbvio. Peguemos, por exemplo, o início da edição #3, que aborda a chegada de Buddy e Maxine ao Vermelho. O leitor percebe a dualidade de proteção ou classificação que existe à sua volta: o Vermelho, responsável por toda matéria animal; o Verde, responsável por toda matéria vegetal. No entanto, entendemos que há uma ligação intrínseca entre as duas partes, que são o núcleo de renovo e transformação da vida na Terra. É como se fossem uma espécie de “Santíssima Trindade” (sendo os avatares a terceira parte, a ligação), onde a individualidade e o domínio específico de cada um é defendido, mas ambos interferem no domínio do outro, quase como um complemento necessário.

Jeff Lemire consegue resultados espantosos com o roteiro, levando adiante duas frentes de história até o final do arco (a viagem de Buddy e Maxine ao Vermelho e a permanência da esposa e do filho mais velho em casa e depois na fazenda da mãe de Ellen). É claro que não há nesse texto uma tendência mais filosófica ou a exposição mais eloquente do que é o Vermelho ou o Podre, mas vejo essa diferença de abordagem como um fator crucial para manter os dois mundos em pontos diferentes, principalmente porque já assoma no horizonte um crossover com a “metade verde”, esta sim, mais filosófica, embora não menos agressiva.

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O Parlamento da Decadência, Buddy e Maxine no Vermelho e Os Três Caçadores confrontando Buddy.

É importante lembrar que tanto o Verde quanto o Vermelho estão se armando para uma guerra, e que em ambos os lados existem inimigos potentes à espreita. A constante nos dois mundos é o Podre, que assume diversas formas e que tenta possuir crianças para poder manipulá-las — aqui, Maxine; em Monstro do Pântano, William Arcane. No entanto, a presença do Podre nesse mundo do Homem Animal é mais forte. O Vermelho, a carne, o sangue são a verdadeira fome e vontade de possessão do Podre. Isso ainda não está completamente explorado nesse primeiro bloco da saga, mas os elementos para o próximo arco sugerem muita coisa nessa linha.

Volto a dizer que a arte mais “bagunçada” ou “agressiva” de Foreman combina bastante com o tema da revista. Chega a ser verdadeiramente assustador o modo como as coisas más surgem nesse título — em texto e em arte –, isso porque não há aquela aparição do tipo “buuuu” do monstro para os mocinhos, sendo mais fortes o contexto psicológico e interdimensional. O contexto e as motivações certas tornam tudo ainda mais forte e aumentam a aura de bizarrice em torno do Podre, tornando-o medonho a cada página. Com o fim da primeira parte da caçada e um crossover pela frente, fica aquela sensação de ameaça absoluta à vida no planeta que não dá para resistir. Um baita retorno do Homem Animal.

Homem Animal: A Caçada (Animal Man Vol.2 #1 – 6) — EUA, novembro de 2011 a abril de 2012
No Brasil:
Dark #1 a 4 (Panini, 2012)
Roteiro: Jeff Lemire
Arte: Travel Foreman, Dan Green, John Paul Leon
Arte-final: Travel Foreman, Dan Green, Jeff Huet, Steve Pugh, John Paul Leon
Cores: Lovern Kindzierski
Letras: Jared K. Fletcher
Capas: Travel Foreman, Lovern Kindzierski
Editoria: Joey Cavalieri, Kate Durré
24 páginas (cada edição)

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