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Crítica | Homem-Aranha 2 (2004)

por Ritter Fan
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O primeiro Homem-Aranha tinha como parte de sua inspiração o famoso arco narrativo da HQ do aracnídeo intitulado A Morte de Gwen Stacy. No segundo filme, produzido a toque de caixa e lançado meros dois anos depois, a ideia por trás é outra famosa edição do Aranha, conhecida como Homem-Aranha Nunca Mais (publicada originalmente na revista The Amazing Spider-Man #50). A continuação do respeito à mitologia do aracnídeo é algo que valeu muito para a fidelização dos fãs dos quadrinhos.

Mas os que não são fãs também foram agraciados com uma continuidade fluida, perfeitamente encaixada e derivada do primeiro. Não que não tenha havido recauchutagem de ideias, pois claramente houve, mas elas até podem ser perdoadas diante de um filme que não deixa nada a dever ao seu antecessor e, de certa forma, consegue superá-lo.

A vida de Peter Parker (Tobey Maguire) é um caos. Dois anos se passaram desde que ele foi picado por uma aranha geneticamente alterada e suas responsabilidades como super-herói o impedem de ter vida amorosa, profissional e estudantil. Ele teve que se afastar do amor de sua vida, Mary Jane Watson (Kirsten Dunst), para protegê-la. Não consegue cumprir prazos no trabalho e falta mais aulas do que assiste. Seu nível de estresse é tão alto que até seus poderes começam a falhar e ele tem sérias dúvidas se deve continuar sendo o Homem-Aranha.

Na outra ponta, assim como no filme anterior, vemos um cientista bom transformar-se em vilão. Dessa vez, a vítima de um experimento que dá errado é o Dr. Otto Octavius (Alfred Molina), que acaba com braços mecânicos fundidos ao corpo. Além disso, a inteligência artificial de seu aparato acaba controlando seus atos por inteiro e ele se transforma no Doutor Octopus, um dos mais clássicos vilões dos quadrinhos do Aranha. Paralelamente, Harry Osborn (James Franco), o melhor amigo de Peter Parker, continua achando que o Homem-Aranha matou seu pai e quer vingança.

Está estabelecido o cenário para uma eletrizante aventura do aracnídeo, que Sam Raimi soube construir muito bem a partir do material deixado pelo primeiro filme e pelo roteiro construído a oito mãos por Alfred Gough, Miles Millar, Michael Chabon e Alvin Sargent. Na verdade, muito do mérito do que vemos na tela, em termos de história, é, novamente, de Raimi, já que ele, assim como no primeiro filme, impediu a inserção de um segundo vilão na estrutura e, junto com Sargent, reduziu o escopo dos tratamentos anteriores dos demais roteiristas, tornando os conflitos mais enxutos e orgânicos.

Em termos de estética, Raimi não inventa moda. Ele sabia que havia alcançado um bom equilíbrio plástico entre quadrinhos e filme e manteve o mesmo padrão, reaproveitando seu trabalho anterior com as inevitáveis melhorias da tecnologia de efeitos especiais, ainda comandados pelo lendário John Dykstra. O que melhora, também, é o trabalho de câmera, que consegue acompanhar mais os movimentos do herói, como se o espectador estivesse em seu lugar. Até um sistema novo de câmeras foi desenvolvido para isso, sabiamente batizado de Spydercam.

Mas Sam Raimi tem, também, uma veia cômica (vide a série Evil Dead) e ele deixa isso transparecer claramente na continuação. No primeiro filme, ainda incerto do sucesso e querendo jogar da maneira mais segura, vemos poucos momentos de humor. No entanto, mais seguro de si, Raimi carrega no tom cômico e novelesco, o que acaba detraindo um pouco da aventura. São cenas como a de Peter desastradamente andando pela faculdade ao som de Raindrops Keep Falling On My Head e a abertura com uma conturbada entrega de pizzas, além de um foco exacerbado no ótimo J.K. Simmons como J.Jonah Jameson, que desviam um pouco a atenção do coração do filme. E não é que o Aranha não deva ter humor, mas, aqui, ele está em vários lugares, mas todos eles errados, como uma música desafinada.

Algumas cenas repetidas do primeiro filme também não ajudam. Afinal de contas, Mary Jane é novamente sequestrada e, como se isso não bastasse, o mesmo acontece com a Tia May (Rosemary Harris), em situações que entre si são parecidas e que espelham o ponto alto da obra original, mas sem a mesma carga dramática. Há até mesmo uma cena de incêndio que foi quase um “copia e cola”. Faltou um pouco de inspiração nesses momentos. Claro que a desde já antológica sequência em que o Aranha salva o trem de despencar e é carregado como um messias pelos cidadãos admirados com a coragem do herói é de se aplaudir de pé pela forma como acontece e quase compensa os tropeços anteriores.

De toda forma, os defeitos da fita são apenas detalhes menores, pois Raimi, livre das amarras determinadas pela obrigação de contar uma história de origem, leva os espectadores direto para a ação, sem perder tempo algum. Além disso, o visual  do Doutor Octopus é uma grande evolução em relação ao fraco design da armadura do Duende Verde no filme original, trazendo mais credibilidade e imersão na obra, muito ajudado por um Molina mais do que inspirado.

Apesar de Homem-Aranha 2 não ser um filme, em seu conjunto final, verdadeiramente melhor que o primeiro como muitos defendem por aí, ele consegue o mérito de ser tão bom quanto, algo raro em termos de continuação e só por isso Raimi já merece aplausos.

Publicado originalmente em 27/04/2014.

Homem-Aranha 2 (Spider-Man 2, EUA, 2004)
Direção: Sam Raimi
Roteiro: Alfred Gough, Miles Millar, Michael Chabon, Alvin Sargent
Elenco: Tobey Maguire, Kirsten Dunst, James Franco, Alfred Molina, Rosemary Harris, Willem Dafoe, J. K. Simmons, Donna Murphy, Dylan Baker, Bill Nunn
Duração: 127 min.

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