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Crítica | Homem de Ferro 3

por Ritter Fan
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  • Acessem, aqui, nosso índice do Universo Cinematográfico Marvel.

O Homem de Ferro foi arrancado de sua qualidade de personagem desconhecido das massas para o Olimpo de personagens adorados por basicamente todos e de todas as idades. Sem dúvida alguma que grande parte dessa proeza se deve a Robert Downey Jr. literalmente transformando-se em Tony Stark, mas não podemos esquecer do papel da Marvel, de Kevin Feige e da equipe criativa por detrás de tudo, pois, sem esse azeitado conjunto, o Universo Cinematográfico Marvel pouco ou nada seria. As aventuras do Ferroso foram as que começaram tudo, com talvez o que até hoje continue sendo o melhor filme de todos da produtora: Homem de Ferro. O segundo, apenas passável, ainda sim ofereceu o suficiente para os espectadores quererem mais e, com isso, chegamos ao terceiro filme do herói  e primeiro da Fase Dois do projeto, que, porém, sofreu pesadamente nas mãos dos fãs, que, aparentemente, esperavam mais do mesmo.

Mas Homem de Ferro 3 não oferece mais do mesmo e surpreende ao voltar às raízes do primeiro filme sem copiá-lo, mas também sem esquecer o que veio antes, incluindo os acontecimentos de Os Vingadores. Só que Homem de Ferro 3, apesar de ser uma continuação em número e de não jogar fora seu passado, funciona sensacionalmente como um filme que existe sozinho, sem depender de absolutamente nenhuma bengala narrativa anterior, sendo completamente auto-contido também, sem pontas soltas irritantes para um “Homem de Ferro 4”. Sim, todos nós sabemos que uma quarta parte um dia será inevitável em vista do sucesso que esse terceiro merecidamente alcançou, mas o filme dirigido e co-escrito por Shane Black, que antes apenas comandara o ótimo Beijos e Tiros, também com Robert Downey Jr., não quer saber do amanhã e constrói o hoje e ainda aproveita para reescrever e reinventar o Homem de Ferro, mostrando, no final das contas, que roteiro e personagem bem construído são peças-chave para um bom Cinema.

Narrado por Tony Stark (Downey Jr.), a fita começa desesperançosa, com uma breve imagem das armaduras do Homem de Ferro explodindo, somente para, no momento seguinte, sermos levados em flashback para 1999, em Berna, na Suíça, onde encontramos um Tony completamente fanfarrão em uma exposição científica, aquela mesma conferência referenciada por Yinsen no primeiro filme. Mas descobrimos que, além de esbarrar em Yinsen, Tony dá início, sem querer, a um processo envolvendo um cientista hippie chamado Aldrich Killian (Guy Pearce) e uma bela bióloga de quem não desgruda, Maya Hansen (Rebecca Hall). Esse seu passado vem mordê-lo no presente, por meio de um soro de alteração genética batizado de Extremis, capaz de literalmente reescrever o DNA e criar super-humanos (essa narrativa é retirada – e melhorada – de um arco de quadrinhos de mesmo nome, cuja crítica pode ser encontrada aqui). E, como se isso não bastasse, um terrorista internacional, apenas conhecido como Mandarim (Ben Kingsley) vem explodindo alvos em solo americano. A convergência das histórias pode não ser genial, mas as reviravoltas o são, além de serem orgânicas ao filme.

O que importa mesmo é que Shane Black se utiliza dos acontecimentos psicologicamente devastadores de Os Vingadores para jogar Tony em uma espiral de paranoia de proteção de Pepper Potts (a sempre linda Gwyneth Paltrow) que o impede de dormir e gera desconcertantes ataques de pânico. Usando isso como trampolim, o roteiro metaforicamente devolve Tony para a “caverna” do primeiro filme e todo o segundo terço da película é utilizado para o protagonista, de um lado, entender realmente quem ele é e, de outro, fazer um thriller investigativo esperto, cativante e cheio de ação.

Pois ação é o que não falta. A destruição da mansão de Malibu, tantas vezes repetidas nos trailers, é apenas a ponta do iceberg. Shane Black nos brinda com diversas outras, valendo especial destaque para a luta no Tennessee, o resgate dos tripulantes do Air Force One e a batalha final, com set pieces gigantescos e muitos efeitos práticos misturados com computação gráfica.

E Black consegue fazer tudo isso sem perder o tom divertido, irônico e irreverente por toda a obra, mesmo em momentos que exigem mais gravidade e seriedade. Black é conhecido por saber escrever diálogos como ninguém (vide Beijos e TirosDespertar de um Pesadelo e, claro, Máquina Mortífera) e essa habilidade saindo da boca de Tony Stark como lâminas afiadas é um deleite só. Tamanho é o destaque de Downey Jr. que Don Cheadle, coitado, até que se esforça, mas não consegue se sobressair. Até Sir Ben Kingsley, que tem uma participação modesta, mas decisiva e absolutamente inesperada, não é páreo para o “mastigador de cenário” conhecido como Robert Downey Jr. E, em Homem de Ferro 3, o lado humano de Stark se sobressai, com ele agindo fora da armadura, como o homem que é, como o herói que é independentemente de qualquer tecnologia. Stark é falho como todos nós e, mesmo nas piores situações, sabe trabalhar com o que tem, sem que o filme nos traga um segundo ato que não difere em nada do que veio antes. Vemos Tony Stark, o homem, deixando de lado o Homem de Ferro por um momento. E isso é gratificante.

Há problemas no filme? Confesso que há, mas são poucos e incapazes de afetar o prazer que é assistir Homem de Ferro 3. Há alguns furos de lógica, como o encontro com a mãe de um soldado que, reza a lenda, se suicidara no Tennessee e alguns pequenos escorregões aqui e ali nos efeitos especiais e na montagem final. O conjunto da obra, porém, o fará esquecer de qualquer falha e torcer e rir com Tony e sua turma da mesma maneira que, tenho certeza, todos nós torcemos e rimos durante o primeiro filme da série. Isso, claro, se você não for um daqueles fãs cegos que não entendem o sentido da palavra “adaptação” e ficaram irritados com as modificações que o roteiro traz ao arco Extremis (que, repito, ficou bem melhor no filme do que nos quadrinhos) e, principalmente, com o aparente sacrilégio de alterar completamente a natureza do Mandarim.

Para esses eu digo algo que venho dizendo há algum tempo: quadrinhos são quadrinhos e o meio permite arroubos imaginativos que, em filme, muito provavelmente, não funcionariam, especialmente considerando o quanto a Marvel tem tentando galgar seu Universo Cinematográfico em uma lógica que trabalha dentro da realidade científica. Com isso, um vilão de bigode e cavanhaque, com unhas compridas, roupão e raios saindo das mãos definitivamente destruiria a suspensão da descrença do filme. O que o roteiro nos traz é algo novo, ousado, inteligente (duvido que alguém tenha adivinhado a reviravolta em torno do Mandarim e isso não tem preço em termos cinematográficos) e que faz uso de um vilão bem estabelecido dentro da lógica realista criada.

Alguns podem ter  interesse em saber como é o 3D desse filme e não posso me furtar a fazer breves comentários, apesar de ser avesso à essa tecnologia. Trata-se de 3D convertido e não nativo, mas é uma conversão muito boa, com Black ao menos respeitando a profundidade de campo e não atravancando a visão de ninguém com imagens turvas ou fora de foco. É bom, mas não agrega à narrativa, sendo, portanto, desnecessário, para variar.

E a já tradicional cena pós-créditos, que só aparece mesmo no final, em nada desenvolve a narrativa geral do Universo Cinematográfico Marvel, mas, talvez exatamente por isso, seja a melhor de todas essas cenas dos filmes da produtora. Esperta e funcionando como um encerramento à narrativa do começo, a sequência é memorável.

Homem de Ferro 3 é um dos melhores filmes do grande projeto da Marvel. Pena que muita gente adore defender o contrário.

Homem de Ferro 3 (Iron Man 3, EUA – 2013)
Direção: Shane Black
Roteiro: Drew Pearce, Shane Black
Elenco: Robert Downey Jr., Gwyneth Paltrow, Don Cheadle, Guy Pearce, Rebecca Hall, Jon Favreau, Ben Kingsley, James Badge Dale, Stephanie Szostak, Paul Bettany, William Sadler
Duração: 130 min.

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