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Crítica | Homem de Ferro: Extremis

por Ritter Fan
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Extremis é um arco ocorrido durante os seis primeiros números da publicação The Invincible Iron Man (vol. 4), originalmente publicado entre 2005 e 2006 e escrito por Warren Ellis e desenhado por Adi Granov (foi publicado no Brasil como encadernado em 2009, pela Panini). Foi uma série que literalmente redefiniu e restabeleceu o Homem de Ferro para uma nova geração, não só recontando (“rebootando”, na verdade) sua origem, como, também, transformando-o organicamente em um super-herói no sentido mais sobre-humano da expressão. E esse arco, além disso, é utilizado como base para a história de Homem de Ferro 3 nos cinemas.

E, realmente, o trabalho de Ellis é excelente. Primeiro, ele tem o cuidado de estabelecer que alguma substância ilegal foi roubada e testada em uma cobaia mais do que excitada para usá-la. É a substância Extremis, fruto da bioctenologia e capaz de literalmente reescrever o DNA de quem quer que a use e consiga, claro, sobreviver à transformação. Mas esse é o menor dos triunfos do autor, já que seu trabalho em reescrever a vida de Tony Stark sem deformá-la, preparando-nos para o que vai acontecer, é quase irretocável. Eu posso não gostar do resultado final – a transformação de Tony Stark no Homem de Ferro, mas com ele deixando de ser meramente humano – mas não tenho como negar a eficiência do trabalho feito.

iron man extremisPrimeiro, vemos Tony encerrado em seu porão. Ele está lá há seis semanas sem sair, sem ver a luz do dia e, principalmente, sem cuidar de sua empresa. A única coisa que o faz sair de lá é a insistência de sua secretária (o diálogo é hilário) ao telefone, pois ele havia prometido uma entrevista para um documentarista. Durante a filmagem, Tony é literalmente atacado pelo cinegrafista, sendo acusado de não se importar com as consequências de suas ações como designer e fabricante de armamentos. A condição do Homem de Ferro, como um guarda-costas de Tony (lembrem-se, esse arco é logo anterior à Guerra Civil, em que esse status quo muda), também é fortemente destruída pelo diretor, que não vê o herói como algo muito diferente de uma arma de destruição em massa.

Apesar de Tony manter a civilidade, a entrevista o deixa abalado e ele aproveita a primeira oportunidade para sair passeando como o Homem de Ferro, em uma armadura nova, que, porém, ele diz ser muito lenta para obedecer comandos de voz ou mesmo de retina (que ainda é algo experimental), além de ser grande demais para caber em uma valise, onde Tony costumava guardar sua roupa de super-herói no início da carreira. Com isso, cada vez que Tony tem que se valer dos serviços do Homem de Ferro, uma complicada e arriscada operação logística tem que ser posta em movimento.

Tony, que sempre andou a frente da tecnologia, agora está atrás.

E essa sensação se agrava quando ele é chamado por Maia Hansen, uma especialista em biotecnologia e velha amiga que conta sobre o roubo da tecnologia Extremis e o que exatamente ela pode fazer com um humano: a reprogramação total do corpo, transformando qualquer pessoa em um super0-humano. É uma versão altamente tecnológica do soro do super-soldado que transformou Steve Rogers em Capitão América.

O Homem de Ferro, então, sai ao encalço do terrorista que injetou em si mesmo uma dose de Extremis e descobre, quase que imediatamente, que sua tecnologia, a tecnologia de Tony Stark, é realmente coisa do passado. Vemos, em flahsback, sua origem ser recontada ou, na verdade, atualizada, mais ou menos na linha da origem do primeiro filme do Ferroso (afinal, em sua primeira origem, Tony Stark é preso por vietcongs em plena guerra do Vietnã, o que faria dele um homem de, no mínimo, 50 anos hoje em dia. Nada como um discreto reboot para justificar a sempre jovem aparência do herói.

Notando, então, que ele não tem chance alguma e quase morto pelo terrorista, Tony toma uma decisão radical: pede para Maia injetar nele mesmo o soro Extremis, conforme programação que os dois fazem em conjunto. O resultado é um Tony Stark reconstruído que, com o poder do pensamento, consegue fazer com que a camada de circuitos que veste embaixo da armadura (o centro nervoso de sua invenção) saia de dentro do oco de seus ossos. Além disso, também com a força do pensamento, consegue, usando a tecnologia de seus repulsores, fazer com que os vários pedaços do exoesqueleto da armadura montem-se sobre ele mesmo. E seu poder mental também permite que Tony seja a armadura, resolvendo o problema de tempo de resposta e de movimento. Depois disso, tenho certeza que o leitor pode deduzir o que acontece.

É uma ideia sensacional, mas que eu, particularmente, tenho dificuldades em gostar sem hesitação. Afinal de contas, Tony Stark, pelo menos no universo Marvel 616 (o normal) era um ser humano como outro qualquer, só muito inteligente. Sem a armadura, ele não tinha um joule de poder. Agora, mesmo sem a armadura, ele é um super-humano, não muito diferente das várias dezenas de heróis que há no universo Marvel. Esse é o ponto que me incomoda, mas que não me impede de apreciar esse ótimo arco.

O desenho de Adi Granov é lindo. Ele trabalha com algo que poderia ser classificado com semi-fotorrealista, criando rostos muito eficientes, ainda que, às vezes, um pouco sem vida. Sem se furtar a desenhar ação de extrema violência, ele sabe dosar e equilibrar os quadros, pulando de uma conversa para uma cena de pancadaria e de volta para a conversa sem esforço, sem perder a fluidez dos desenhos e sem atrapalhar o texto de Ellis. Especial destaque deve ser dado ao design da armadura Extremis (ou mesmo da logo anterior). Sem tornear músculos, Granov faz uma armadura lisa, limpa, quase orgânica, uma das melhores do herói nos seus 50 anos desde a criação.

Extremis merece ser lido e relido e apreciado. Não é perfeito, mas é um exemplo de como escrever quadrinhos mainstream e de como retrabalhar o status quo de um herói já estabelecido.

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