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Crítica | Homem de Ferro

por Ritter Fan
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  • Acessem, aqui, nosso índice do Universo Cinematográfico Marvel.

“Eu sou o Homem de Ferro.”

Como todos já sabem muito bem, Homem de Ferro é o primeiro de um até agora incrivelmente bem costurado projeto da Marvel, fazendo com seus filmes aquilo que há décadas seu braço editorial faz com os quadrinhos: histórias independentes que, porém, se passam dentro de um universo unificado. Chamado de Universo Cinematográfico Marvel, essa intrincada e arriscada aposta começou quando a Marvel Studios ainda era independente, em parceria com a Paramount, anos antes de sua aquisição pela Disney e chegou ao seu clímax com o estrondoso lançamento de Os Vingadores, em 2012, filme que mostrou de vez o acerto do planejamento.

E não é que Homem de Ferro tenha sido o primeiro filme de um dos heróis Marvel. Muito ao contrário, há várias outras obras anteriores de heróis da editora, mas que foram produzidos por outros estúdios, com um controle (bem) limitado sobre o que a própria Marvel poderia apitar. Nessa esteira, temos a franquia X-Men, com seus já dez filmes, a franquia Homem-Aranha, com seus seis filmes, Quarteto Fantástico, com quatro filmes e uma série de outros menores.

Mas o que a Marvel fez desde 2008, culminando em 2012 e continuando até os dias de hoje é simplesmente sem precedentes. Ela costurou um clímax a partir de cinco filmes independentes que, apesar de contarem histórias diferentes, são mantidos colados uns aos outros por pequenos detalhes, uns discretos (como o soro usado no Abominável em O Incrível Hulk ser uma versão do soro do herói-título de Capitão América: O Primeiro Vingador) até os mais óbvios, representados pelas já famosas cenas pós-créditos. E o melhor de tudo é que a Marvel conseguiu manter uma certa consistência na geralmente boa qualidade de seus filmes.

Homem de Ferro foi o primeiro e, portanto, a aposta mais arriscada da produtora. Como trazer um herói altamente tecnológico para as telas de maneira crível e sem gastar um valor estratosférico, especialmente considerando que esse herói, ainda que muito familiar para aqueles que lêem quadrinhos, não era tão conhecido assim do público em geral, aquele que realmente é importante para o sucesso ou fracasso de um filme?

A primeira resposta para essa pergunta foi respondida com a perfeita escalação de Robert Downey Jr. no papel do multi-milionário bon vivant Tony Stark. Quem não conhece os quadrinhos aceita Downey Jr. pelo seu usual charme e qualidade de atuação (quando ele realmente quer, como foi o caso em Homem de Ferro). Quem conhece os quadrinhos (e, para eles, há vários easter eggs), chega-se à conclusão que Stan Lee deve ter viajado ao futuro, visto o ator atuar e voltou para o passado para criar o personagem à sua imagem. Robert Downey Jr., como ele deixa claro ao final do filme, simplesmente é o Homem de Ferro. As demais escalações, Gwyneth Paltrow no papel da secretária de Tony, Pepper Potts, Terrence Howard, no papel do melhor amigo de Tony, Rhodey e, finalmente, Jeff Bridges no papel do vilão Obadiah Stane, também não ficam muito atrás.

A segunda resposta para a mesma pergunta foi o tom irreverente dado ao filme. Ele consegue ser um drama quando precisa ser e uma comédia leve por quase todo o tempo. Isso retira o peso que alguns heróis carregam (como na Trilogia Batman, de Christopher Nolan) e significa um approach diferente a esse tipo de fita, meio que voltando ao estilo Richard Donner de dirigir Superman.

A terceira resposta foi o design. Desde a armadura “de ferro velho” Mark 1, pesadona e pouco prática, até o modelo mais moderno, passando pela mansão e os carros de Stark e pelos figurinos dos atores, tudo aponta para uma coisa só: sofisticação. O filme é visualmente lindo e irretocável.

A quarta resposta foi o roteiro. Não houve perfeição aqui, pois o finalzinho, com a luta das armaduras, não é totalmente satisfatório e, talvez, até simplório demais. De toda forma, a história até esse momento é cativante: Tony Stark é um multimilionário fabricante de armas. Em um teste de sua tecnologia mais recente para o exército americano em pleno Oriente Médio, Tony é capturado e obrigado a construir armas para os bandidos. Durante a captura, ele se fere gravemente no coração e só consegue sobreviver montando um mini reator Arc para manter os fragmentos de metal longe de seu órgão vital. Meio recuperado, Tony e o outro prisioneiro, Yinsen (Shaun Toub), no lugar de fabricar armamento para o exército inimigo, criam uma armadura para permitir a fuga. Quando Tony volta aos EUA, ele está mudado e decide alterar sua política de fabricação e venda de armamentos, o que irrita seu sócio Obadiah Stane, já que as Indústrias Stark ganham muito dinheiro com a venda indiscriminada de suprimentos para os exércitos do mundo. Tony passa, então, a melhorar sua armadura, até chegar ao icônico modelo vermelho e dourado, passando a ter, então, uma vida dupla.

As peças do roteiro encaixam-se muito bem, com uma levando à outra naturalmente e de maneira muito crível. E eu acho que é aí que sentimos a presença do trabalho de Jon Favreau na direção (ele faz também o papel de Happy Hogan, o motorista de Tony). Egresso de filmes infantis de pouco destaque como Um Duende em Nova Iorque e Zathura – Uma Aventura Espacial, Favreau dá um toque todo especial ao filme, mostrando-se um excelente diretor de atores, ainda que não tente alçar grandes voos em termos da direção com um todo. O que ele não consegue, como mencionei brevemente, é nos apresentar um ponto alto completamente extasiante. A luta entre Stane, com a armadura do Monge de Ferro e Stark é bem coreografada, mas carece de perigo para o protagonista. Sim, claro, trata-se de Tony Stark e ele não morrerá. Isso todo mundo sabe. Mesmo assim, faltou a Favreau a construção de suspense e a escalação do perigo de maneira crível e que realmente leve o espectador a roer as unhas.

De toda forma, mesmo com um final menos do que perfeito, Homem de Ferro é um excelente exemplo de equilíbrio entre história de origem e ação, comédia e drama, espetáculo pirotécnico e construção de personagem. Quando chega a grande luta final, o espectador já está hipnotizado pelo brilho da armadura do herói e pelo charme de Tony Stark ao ponto de nada mais importar. E isso diz muito do cuidado com a produção e a direção.

  • Crítica originalmente publicada em 21 de julho de 2014 e devidamente atualizada para republicação.

Homem de Ferro (Iron Man) – EUA, 2008
Direção:
 Jon Favreau
Roteiro: Mark Fergus, Hawk Ostby, Art Marcum, Matt Holloway
Elenco: Robert Downey Jr., Gwyneth Paltrow, Terrence Howard, Jeff Bridges, Leslie Bibb, Shaun Toub, Faran Tahir, Clark Gregg, Bill Smitrovich, Samuel L. Jackson
Duração: 126 min.

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