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Crítica | Homens e Feras

por Leonardo Campos
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Tippi Hedren já foi atacada por pássaros no clássico comandado por Hitchcock. Retornou depois para uma breve participação na continuação sem ligação direta e fortalecida com o seu antecessor. Com isso, podemos afirmar que a garota entendia de ataque animal. Homens e Feras, de 1981, não é necessariamente uma produção do horror ecológico, mas coloca seres humanos e animais selvagens numa interação que descamba do científico para uma jornada de aventura e horror com toques de humor e pavor. Retomado recentemente em debates e matérias jornalísticas, o filme de 102 minutos divertidos e estranhos é considerado como o “mais perigoso da história”, haja vista o contato do elenco com felinos de verdade, adestrados, mas despreparados para atuar com elenco extenso. E o mais curioso de tudo: os momentos de perigo, as lesões sofridas por membros da produção, dentre outros detalhes, adentraram na edição final.

Sob a direção de Noel Marshall, tendo como base o seu próprio texto, material que ganhou a colaboração de Ted Cassidy, Homens e Feras é uma aventura razoável mais interessante por seu histórico bizarro que necessariamente a sua estrutura dramática. Na produção, Hank (Noel Marshall) é um pesquisador estadunidense que convive com leões, tigres, pumas e outros felinos numa casa isolada e longe dos grandes centros urbanos. Lá, com base nos investimentos de patrocinadores, ele pesquisa a interação entre os felinos e os seres humanos. Certo dia, a sua esposa Madeleine (Hedren), juntamente com os seus filhos Melaine (Melaine Griffith), John (John Marshall) e Jerry (Jerry Marshall), decide visita-lo e passar um período breve no local. O problema é que algumas coisas saíram do controle e Hank não conseguiu estar no centro de pesquisas enquanto os seus visitantes chegavam.

Diante do exposto, a recepção ficou por conta dos felinos, criaturas que desconheciam estas pessoas e partiram para uma sequência de ataques sem o tom selvagem e animalesco das narrativas do horror ecológico, mas como uma reação natural ao contato de humanos numa zona de circulação sob o rígido controle de Hank. Nos primeiros momentos, as coisas já apontam desastre quando um grupo de visitantes vai ao local para estudar um financiamento e os felinos aprontam várias emboscadas para deixar os humanos apavorados. São momentos engraçados, mais voltados ao estilo narrativo de Crocodilo Dundee, diferente do tom de A Sombra e a Escuridão, por exemplo, tramas diferentes, sobre temas bem diferentes, mas que coadunam aqui na relação humanos e animais. Ainda assim, mesmo com o tom de humor, esse contato apavora.

Foram 11 anos de filmagens, 70 pessoas com alguns ferimentos no processo, numa realização que hoje talvez não pudesse acontecer da maneira que ocorreu em 1981, haja vista o novo olhar da sociedade para a inclusão de animais reais em filmagens que podem promover angustia e impelir sofrimento aos bichos, nada mais justo. Sem CGI como proposta para construção dos elementos narrativos, Homens e Feras contou com os efeitos especiais da equipe de Dory Forma, eficientes para dar ritmo ao divertido filme que não se define entre humor e horror, posicionado no entre-lugar, o design de som de Gregory Sanders ajuda na permanência dos animais em cena, através de sensações auditivas, mesmo quando as criaturas não aparecem no quadro, a trilha sonora de Terrence P. Minogue estabelece um clima de exotismo e o design de produção de Joel Marshall constrói um espaço adequado para todos os diversos momentos aventureiros deste “clássico”.

Quem mais tem história para contar é o diretor de fotografia Jan de Bont, conhecido por sair do terreno em questão e assumir a direção de alguns filmes famosos, todos exagerados na adrenalina. Ele levou 220 pontos ao perder parte do couro cabeludo durante as filmagens, após ser atacado por uma das feras. Ainda assim, alguns trechos de Homens e Feras são conduzidos com firmeza por este setor, sempre conectado com as tensões de cada cena, correto no momento de fechar ou abrir mais os quadros para a contemplação da aventura. Ademais, o filme foi parte do interesse do produtor de O Exorcista com Hedren, ambos numa parceria que os levou para uma viagem ao continente africano, tendo em vista conseguir gravar com os leões de verdade. Criados sem fiscalização, isto é, ilegalmente, as criaturas transformaram o enredo família numa história de intensa busca pela sobrevivência, inesquecível para todos os envolvidos.

Homens e Feras (Roar/Estados Unidos, 1981)
Direção: Noel Marshall
Roteiro: Noel Marshall, Ted Cassidy
Elenco: Tippi Hedren, Noel Marshall, Melanie Griffith , Jerry Marshall, John Marshall, Kyalo Mativo, Rick Glassey, Frank Tom, Steve Miller
Duração: 102 min.

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