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Crítica | Horário de Visitas

Slasher reflete misoginia num ritmo irregular, mas temática interessante.

por Leonardo Campos
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Sem o frenesi de outras produções do subgênero slasher, Horário de Visitas é o que podemos chamar de narrativa mais conceitual dentro deste segmento cinematográfico. Não há longas cenas de perseguição, tampouco mortes sangrentas e violentas. Tudo é muito limpo, calmo, ameno, por isso, o filme sofra um pouco com a sua falta de emoção ao nos entregar uma história com reflexão interessante, mas quebra considerável de ritmo em diversas partes. Ao conferi-lo, tive a impressão de estar diante de uma produção que se colocou como uma crítica ao próprio subgênero em que se encontra, especialmente, na questão do conteúdo misógino da maioria dos exemplares deste universo. Aqui, temos um assassino que odeia as mulheres e as persegue, tendo em vista aplacar a sua sede de violência, como resposta para um trauma do passado envolvendo questões violentas no ambiente em que viveu com os pais, escolha que traz um dos elos com a cartilha do slasher, configurando a sua legitimidade dentro do subgênero. Sem o sexo, a bebida e os adolescentes costumeiros, o filme segue por uma trilha diferenciada, colocando em cena uma final girl diferente das mocinhas jovens e recatadas deste tipo de trama.

Dirigido por Jean-Claude Lord, realizador que toma como ponto de partida, o texto dramático de Brian Taggert, Horário de Visitas nos apresenta a jornalista Deborah Bollin (Lee Grant), uma mulher socialmente empoderada, representante de uma conceituada emissora televisiva, atacada por uma figura misógina e violenta enquanto retorna para casa numa determinada situação. Pelo que podemos observar, o agressor é alguém que discorda do ponto de vista intelectual da personagem, uma mulher de opinião, raridade não somente no slasher, mas no cinema da época em geral. Depois do ocorrido, a protagonista é encaminhada para um hospital, espaço cênico sabiamente concebido pelo design de produção de Michel Proulx, setor que expõe a sensação de insegurança e uma atmosfera fria, silenciosa e cheia de corredores que parecem esconder o perigoso a cada passo avançado pelas figuras ficcionais que os atravessam. A contagem de mortes, devo ressaltar, é muito econômica, algo que colabora para o tom de “marasmo”.

Ao lado da direção de fotografia assinada por René Verzier, responsável por captar com eficiência tais espaços, deixando-os com uma considerável carga de periculosidade, o filme lembra o clima de Halloween 2: O Pesadelo Continua, produção que salvaguardadas as devidas proporções, nos remete ao que é proposto em Horário de Visitas, isto é, um psicopata violento a deslizar por um ambiente hospitalar, colocando não apenas o seu alvo em risco, mas qualquer um que atravesse o seu caminho. Aqui, não temos o misterioso Michael Myers com a sua assustadora máscara, mas um monstro nada sobrenatural, Colt Hawker (Michael Ironside), ator com excelente desempenho dramático, demonstrando que tal como o contemplamos no clássico Scanners: Sua Mente Pode Destruir, o seu potencial artístico esteve em alta na interpretação de vilões. Bem trabalhado no roteiro, ele tem outras dimensões retratadas na história, como os cuidados com o seu pai enfermo, escolha narrativa que o torna ainda mais humanizado.

Tal humanização, no entanto, não o faz menos perigoso. Ao contrário, cria uma atmosfera ainda mais realistas, por isso, aterradora. Ele é o perseguidor implacável que coloca não coloca apenas a vida da jornalista em risco, mas também da enfermeira Sheila Munroe (Linda Pearl), além de preocupar o parceiro de trabalho Gary Baylor (William Shatner), aliado da protagonista que tenta ajuda-la nesta jornada de paranoia, medo e perseguição, uma crítica sobre a violência contra as mulheres, acompanhada pelo bom desempenho da trilha sonora composta por Jonathan Goldsmith, trabalho que só não ressai mais por conta da edição que aparentemente, teve receio de cortar alguns trechos, dando ao filme uma extensão desnecessária, arrastando para a monotonia uma narrativa que tinha tudo para ser reflexiva e, ao mesmo tempo, eletrizante. Em seus 103 minutos de duração, Horário de Visitas empolga inicialmente pela proposta, perde o gás logo na primeira parte, mas não deixa de acreditar no conceito e encerra com dignidade, mesmo que falte entusiasmo, a sua horripilante crítica ao que há de misógino em nossa sociedade.

Horário de Visitas (Visiting Hours, EUA – 1982)
Direção: Jean-Claude Lord
Roteiro: Brian Taggert
Elenco: Lee Grant, Michael Ironside, Linda Purl, William Shatner, Lenore Zann, Harvey Atkin, Helen Hughes, Michael J. Reynolds, Kirsten Bishop
Duração: 114 min.

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