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Crítica | Horus: O Príncipe do Sol

por Luiz Santiago
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Horus: O Príncipe do Sol foi o primeiro longa-metragem dirigido por Isao Takahata, grande animador japonês responsável por obras como Túmulo dos Vagalumes (1988) e O Conto da Princesa Kaguya (2014), além de ter sido um dos fundadores do Studio Ghibli.

Ao contrário do que muita gente pensa, esta animação não tem nenhuma relação com o deus Hórus da mitologia egípcia, filho de Osíris e deus do céu. O personagem principal, um garoto chamado Horus, vive na Escandinávia, durante da Idade do Ferro. Na abertura do longa ele é perseguido por uma alcateia de lobos cinzentos e há uma espécie de luta consideravelmente violenta entre ele e as feras. É dessa coragem de Horus que o roteiro de Kazuo Fukazawa começa a construir os temas centrais da fita.

Um dos pontos mais fortes da trama é a relação do garoto com o valor familiar e a honra, salientado quando a personagem Hilda entra em cena. Essa questão do valor de um garoto posto à prova nós podemos ver em outras animações japonesas dos anos 1960 como Príncipe Suzano e o Dragão de 8 Cabeças (1963) ou Gulliver’s Travels Beyond the Moon (1965). A diferença de Horus para esses outros pequenos heróis é que ele está inserido em um contexto (narrativo, principalmente) plenamente japonês, a despeito da localização da história.

Alguns espectadores e críticos chegam a apontar um afastamento ou ruptura de Takahata e relação à Disney, mas isso não é verdade. O tal afastamento só se dá em termos de roteiro, por assim dizer. O texto é baseado em um conto do povo Ainu, um grupo étnico que também habitava a ilha de Hokaido, no norte do Japão, e podemos ver algumas pinceladas bíblicas na aventura, mas não há marcas estruturais dos heróis, viagens ou sagas ocidentais, como O Mágico de Oz, Alice no País das Maravilhas ou As Viagens de Gulliver. Portanto, se existe um afastamento em relação à Disney, ele se dá nesse ponto da construção do texto e apenas nele.

Takahata (e Miyazaki) sempre destacaram o valor da obra de Disney e sempre disseram tomá-la como exemplo para certos elementos de suas próprias histórias. Em Horus, isso é bastante visível na presença do musical, que marca momentos-chave do longa e dão o tom de apresentação de Hilda, uma das personagens mais ricas comportamental e psicologicamente.

Inovando o processo de animação ao mesclar planos animados e desenhos fixos, além colocar em cena pontos de violência e pura maldade por parte dos vilões, Isao Takahata faz de Horus um belo cartão de visitas para sua obra vindoura. O filme possui falhas no roteiro — principalmente no desenvolvimento dos personagens e destino dado aos mesmos — mas tem um grande ganho na animação. Momentos como a destruição da aldeia por Grunwald, o Demônio do Gelo ou Horus atravessando a Floresta da Perdição são realmente inesquecíveis. Horus: O Príncipe do Sol pode não ter envelhecido bem, para alguns, mas sem sombra de dúvidas é uma divertida e cativante animação.

Horus: O Príncipe do Sol (Taiyou no ouji Horusu no daibouken) — Japão, 1968
Direção: Isao Takahata
Roteiro: Kazuo Fukazawa
Elenco (vozes): Yukari Asai, Mikijirô Hira, Etsuko Ichihara, Hiroshi Kamiyama, Gilbert Mack, Masao Mishima, Hisako Ohkata, Eijirô Tôno, Hisashi Yokomori, Tadashi Yokouchi
Duração: 82 min.

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