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Crítica | Hospedeiros – A Ameaça Interior

Uma jornada arrepiante e divertida com insetos assassinos e nojentos!

por Leonardo Campos
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Há limites que até o senso crítico mais aguçado não consegue ou tem interesse em ultrapassar. O meu é o contato, seja qual for, com as baratas, as criaturas mais bizarras do planeta. Asquerosas, toscas, feias e nojentas, os insetos deste segmento me arrepiam até mesmo no momento em que escrevo esta breve reflexão. Senti que era preciso vencer essa sensação incomoda e embarquei em Hospedeiros – A Ameaça Interior, ciente da missão que precisava dar conta. Não foi fácil, mas venci os 92 minutos deste telefilme lançado em VHS e DVD em 2000, sem exibição no circuito das salas de cinema. A produção, usurpadora da clássica estrutura popularizada por Tubarão, nos apresenta um grupo de habitantes de uma ilha remota, acometidos pelo aparecimento de baratas peculiares, modificadas geneticamente, em profusão e num processo reprodutivo absurdamente acelerado, para o pânico e horror dos personagens e de nós, espectadores. Diferente de Ninho do Terror, outra narrativa do segmento, as baratas aqui são mais exóticas, da espécie “vermelha africana”, o constante “outro” dos estadunidenses.

Na trama, dirigida por Ellory Ellkayen, cineasta guiado pelo texto da dupla formada por Daniel Zelman e John Chaplin, acompanhamos um homem recém-divorciado, cirurgião de Boston que entrou em colapso e decidiu viver algum tempo na ilha de Orr, numa residência deixada como herança. Na chegada, a recepção não é das melhores, pois o filme delineia o quão grosseiro é um determinado grupo de homens que faz de tudo para Ben Cahill (Thomas Calabro), o protagonista em questão, deixar o local. Eles possuem um passado nada amistoso com a família do cirurgião e transformam a sua estadia num verdadeiro inferno, só não pior que a presença das baratas que ameaçam aos poucos, numa tomada de espaço que é puro horror. A produção de baixo orçamento consegue, diferente de muitos do segmento, entreter e divertir, sem o marasmo ou a preocupação com mortes exageradas para trabalhar a sua história. Sem querer revolucionar nada e ciente de sua estrutura para entretenimento, Hospedeiros – A Ameaça Interior é basicamente um filme de baratas assassinas, trama absurda, mas que funciona.

A comunidade onde a história se desenvolve vive da pesca como maior fonte de aquecimento econômico. Na abertura, somos apresentados aos motivos da infestação dos insetos na localidade: o corpo de um marinheiro é lançado ao mar pelos tripulantes de uma embarcação e ao chegar até a costa, o cadáver acaba espalhando as criaturas que tinham dominado o pobre coitado que na linha Alien, O 8º Passageiro, carregava dentro de si os “bichos” que se reproduzem de maneira semelhante aos monstros do filme de Ridley Scott. Com elos de Aracnofobia, o protagonista possui um trauma no passado, que envolve baratas, situação que aumentará os seus desafios ao assumir o posto de herói e se responsabilizar pela salvação das pessoas que ficaram sob a sua proteção. O contato inicial se dá quando o xerife da ilha lhe pede que analise alguns animais e um cadáver, mortos em circunstâncias incomuns. Para ajudar e funcionar como possível elo amoroso, temos Kristen Dalton (Nell Bartle), uma professora carismática que acha o cirurgião um belo partido, tal como nós, espectadores.

Assim, após descobrirem que as baratas estão por detrás das mortes e causando a devastação na ilha, os personagens precisam arrumar estratégias de sobrevivência urgentes. O protagonista tem um desafio extra, a comprovação de sua inocência, pois Jack Wald (John Savage), um dos habitantes a infernizar a sua estadia, aparece morto, vitimado pelas criaturas assassinas da produção (nós sabemos), mas até então, o que consta é o atropelamento por parte do cirurgião que não o viu agonizante ao longo da estrada escura no caminho para casa. Aqui, as baratas não são poupadas pelo uso de pontos de vista por parte da direção de fotografia de Philip Linzey, realizador de imagens sob a dominância do filtro azul, para dialogar com a ambientação aquática da narrativa. Ele utiliza o recurso numa cena interessante de perseguição a um rato de laboratório, bem como noutras breves passagens, mas os efeitos especiais, visuais e o uso de baratas reais passam longe da economia. Vinny Golia assina a trilha sonora sem grandes momentos e Erick Aadahl entrega o irritante design de som das baratas bizarras.

Convenhamos, mesmo que você, tal como quem vos escreve, seja tomado pela sensação de horror só de pensar em baratas, presencialmente ou apenas na simples menção de seu nome ou visualização da imagem, quando nos dedicamos ao entretenimento diante de um filme sobre baratas assassinas, queremos ver, mesmo que para revirar os olhos, os animais em ação. Quando utilizado de maneira sublime, como a equipe de Spielberg fez com Tubarão nos anos 1970, compreendemos, mas quando o filme não possui tantos atributos, é preciso agir, explorar bem o animal e nos fazer sentir medo, agonia, enfim, qualquer sensação que represente que a narrativa de fato conseguiu nos transmitir algo que não seja apatia. Terry Sonderhoff, responsável pelos efeitos especiais, nos faz suar frio diante das baratas vermelhas africanas, espécie raríssima conhecida por viver em troncos podres, não ter asas e ser capaz de escalar superfícies de vidro. Nativas de Madagascar, tais criaturas alimentam-se de vegetais, mas para fins narrativos, em Hospedeiros – A Ameaça Interior, elas devoram carne humana vorazmente.

Hospedeiros – Ameaça Interior — (They Nest – Estados Unidos, 2000)
Direção: Ellory Elkayem
Roteiro: John Claflin, Daniel Zelman
Elenco: John Savage, Dean Stockwell, Thomas Calabro, Kristen Dalton, Tom McBeath, Mark Schooley, Travis MacDonald
Duração: 92 min.

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