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Crítica | Hotel Hazbin – 2ª Temporada

A manipulação da mídia é um inferno!

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, a crítica da temporada anterior.

A completamente insana série animada musical sobre o conflito do Inferno com o Paraíso criada por Vivienne Medrano retorna para uma segunda temporada quase dois anos depois da primeira, em uma produção de altíssima qualidade técnica que continua cativante e que ganha uma estrutura narrativa mais sólida, o que é ao mesmo tempo um pecado e uma bênção. No segundo ano, o novo e reformulado estabelecimento do título, que ganha ares de mega-hotel de Las Vegas, o que faz perfeito sentido, claro, passa a ser uma plataforma de Charlie Morningstar (Erika Henningsen), Vaggie (Stephanie Beatriz) e os demais para redimir almas que residem em Pentagrama depois que Sir Pentious (Alex Brightman), para surpresa do próprio Paraíso, é revelado como redimido e vivendo entre os anjos e as almas boas, O conflito, porém, é renovado quando o vilanesco Vox (Christian Borle), uma versão televisiva de Alastor (Amir Talai) começa uma campanha de difamação contra o hotel com o objetivo de arregimentar tropas para invadir e tomar o Paraíso, enquanto Lute (Jessica Vosk), a tenente de Adão, que morreu no conflito anterior, recusa-se a aceitar a presença de Sir Pentious por lá e tenta convencer Sera (Patina Miller) de que os extermínios devem voltar, para desespero da anja Emily (Shoba Narayan).

Como na primeira temporada, o design de produção, a animação, as canções e os números musicais são os maiores destaques, com um trabalho que, no geral, parece ser pelo menos na mesma categoria do ano inaugural, com a animação em si revelando-se até melhor, mais fluida, mais bem acabada. É bem verdade que os números musicais assumiram por completo a forma de verdadeiros videoclipes em boa parte das vezes, mas a “entrada e saída” deles continua funcionando muito bem, sem solavancos e com as letras efetivamente ajudando a contar a história e, em alguns casos, com belas coreografias. Chega a ser surpreendente como Medrano consegue manter acesa, sem concessões, a chama da musicalidade da série, sustentando o difícil padrão de duas normalmente ótimas canções por episódio que mereciam mesmo o tratamento da Broadway como aconteceu parcialmente e por apenas uma noite na festa de lançamento da segunda temporada em um dos teatros da celebrada rua de Nova York. Nesses aspectos todos que, no conjunto, representam boa parte do que é a série, posso dizer com muita tranquilidade que a experiência é uma delícia em termos estéticos e narrativos como foi a primeira temporada que, claro, tinha a vantagem da novidade.

Mas eu mencionei no parágrafo de abertura que o uso de uma estrutura narrativa mais sólida tem pontos positivos e negativos. Na verdade, eu poderia – e talvez devesse – substituir o adjetivo “sólida” por “tradicional, já que Medrano, talvez curvando-se às exigências da A24 para tornar a série mais vendável para um canal de streaming como o Prime Video, tenha se curvado ao uso de caminhos mais viajados, o que inevitavelmente tolheu sua liberdade, algo que já havia ficado claro entre o episódio piloto, lançado no YouTube em 2019 e a primeira temporada lançada no canal de streaming de Jeff Bezos em 2024, mas que fica mais evidente aqui, no segundo ano. Há um vilão marcadamente identificável na forma de Vox, que, espertamente, é a encarnação da televisão e, claro, da manipulação da informação que chega até mesmo a abafar Alastor e sua interessante ambiguidade, deixando o às vezes vilão outras vezes bonzinho Demônio do Rádio em um segundo plano. Há, também, histórias de origem, seja a de Sir Pentious, que é realmente interessante, ou as de Vox e Alastor que são, apenas, a mesma coisa em contextos diferentes. E, no geral, a história é de um trilho apenas, ou seja, as artimanhas de Vox para chegar à dominação total de Inferno e Paraíso.

Eu compreendo essa decisão de Medrano e, sob diversos aspectos, aplaudo, já que um de meus comentários menos elogiosos sobre a primeira temporada foi justamente a maneira solta como ela tratava do desenvolvimento narrativo. Usar mecanismos tradicionais para não se perder é uma escolha sábia e bem-vinda, mesmo que ela inafastavelmente tenha um lado negativo que ironicamente é igual ao positivo, ou seja, a série deixa de ter estribo solto para poder fazer absolutamente o que quiser. Tenho para mim, porém, que a criadora do chamado Hellaverso – há Helluva Boss compondo esse universo também originalmente lançado no YouTube e agora disponível no Prime Video com um episódio zero novo em folha – encontrou um razoável meio termo, mantendo a ousadia visual, mas segurando-se na ousadia narrativa. Suas maiores falhas é, de um lado, não aproveitar a linearidade e a “faixa única” da narrativa para trabalhar o desenvolvimento dos mais importantes personagens da série, ou seja, o casal Charlie e Vaggie, que permanece a mesma coisa que era antes e, de outro, reduzir o espaço dos coadjuvantes, notadamente Husk (Keith David) e Angel Dust (Blake Roman), mesmo que a presença da psicótica Niffty (Kimiko Glenn) tenha sido ampliada, ao lado do novo personagem Baxter (Kevin Del Aguila), cientista e ex-colega de Sir Pentious. E o mesmo acontece no Paraíso, com os recém introduzidos São Pedro (Darren Criss), um preguiçoso incompetente que faz questão de dizer que só cuida dos portões perolados, e Abel (Patrick Stump), filho de Adão que é alçado a líder dos exorcistas, mas que não tem ideia do que fazer, jamais ganhando o destaque que merecem e a raivosa Lute, que ensaia fazer e acontecer, acaba não sendo aproveitada em quase nada.

O que o segundo ano perde em ousadia sem rédeas, algo que a série nunca realmente teve por completo para além do episódio piloto, ela ganha em controle narrativo. É bem verdade que Vivienne Medrano perde uma oportunidade de ouro de prestar mais atenção em seus personagens principais, abrindo espaço demais para Vox e todos os seus estratagemas, mas, no final das contas, o capricho em todo o lado visual e musical faz com que um bom equilíbrio seja alcançado, ainda que em uma categoria abaixo da primeira temporada. Mesmo assim, Hotel Hazbin continua um deleite e não tenho dúvida de que conferirei as duas próximas temporadas que já foram anunciadas.

Hotel Hazbin – 2ª Temporada (Hazbin Hotel – EUA, 29 de outubro a 19 de novembro de 2025)
Criação:  Vivienne Medrano (VivziePop)
Direção: Vivienne Medrano
Roteiro: Adam Stein, Vivienne Medrano, Skye Henwood, Christina Friel, Connor Wright, Adam Neylan
Elenco: Erika Henningsen, Stephanie Beatriz, Alex Brightman, Keith David, Kimiko Glenn, Blake Roman, Amir Talai, Christian Borle, Jessica Vosk, Brandon Rogers, Lilli Cooper, Joel Perez, James Monroe Iglehart, Daphne Rubin-Vega, Jeremy Jordan, Krystina Alabado, Patina Miller, Shoba Narayan, Kevin Del Aguila, Patrick Stump, Don Darryl Rivera, Sarah Stiles, Darren Criss, Leslie Rodriguez Kritzer, Liz Callaway, Andrew Durand, Alex Newell
Duração: 235 min. (oito episódios)

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