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Crítica | Hotel Transilvânia 4: Transformonstrão

Mesmo com história em piloto automático, possui alguns pontos inspirados.

por César Barzine
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Assim como alguns dos filmes antecessores a Hotel Transilvânia: Transformonstrão partem da presença deslocada de uma figura humana naquele universo de monstros, essa última produção da série também não difere dessa premissa, colocando, da mesma forma que no primeiro longa, o personagem Johnny em confronto com Drac, descambando no ponto central da trama. Drac tem a ideia de passar seu fabuloso hotel para as mãos de sua filha Mavis e seu marido Johnny, no entanto, quando este fica sabendo desse plano, começa a planejar mil e um ajustes no estabelecimento, o que assusta o seu atual dono por achar que isso iria tirar a essência do lugar, fazendo com que ele mude de ideia.

Mas não é exatamente nesse ponto que se encontra o motor da trama. Ao descobrir que ele não irá mais herdar o hotel, Johnny, por achar que isso se deve ao fato dele não ser um monstro, é imediatamente ouvido por um cientista que o leva para uma experiência que o transformará em um autêntico monstro. No final das contas, tanto o jovem Johnny quanto o próprio Drac se transformam em outro tipo de criatura: o primeiro vira um pequeno dragão e o segundo, acidentalmente, se torna um ser humano. E é daí que se encontra a real problemática da narrativa, que é encontrar, na América do Sul, um cristal necessário para reverter essa transição de corpos. Uma narrativa bastante esquemática, diga-se de passagem, pois poucas coisas são mais genéricas do que esse tipo de jornada traçada pela busca de um “objeto especial”.

Como podemos ver, todo esse processo até então descrito ocorre de maneira  apressada, no qual bem em seguida ao momento que um problema é apresentado surge uma solução; e, por trás dessa solução, há um outro problema. Johnny quer virar um monstro e instantaneamente vira; logo depois, o mesmo acontece de forma não deliberada com outro personagem, abrindo o principal conflito da animação; e logo em seguida, sem intervalo algum, surge a proposta de solução dessa questão e que é responsável por iniciar o segundo ato — que irá fazer os personagens correrem para um lugar completamente diferente, abrindo portas para o lado aventureiro do longa. Tudo isso ocorre de modo metodológico, como se o roteiro seguisse um passo a passo; o que, a princípio, não é um problema, porém, há aqui uma carência de maior substância para intermediar cada um desses estágios e tornar a narrativa mais orgânica.

Com efeito, o desenvolvimento restante da história opera neste mesmo caminho: a renovação da trama e a resolução de seus conflitos trabalham de forma meio abrupta. É só reparar em momentos tais como: os outros monstros que também se tornam humanos com apenas um elemento da história que surge do nada  (a bebida que eles tomam da fonte); o encontro das companheiras de Drac e Johnny com eles mesmos na América do Sul; a descoberta sem mais nem menos do cristal necessário para alterar os corpos dos protagonistas; e a tensão entre esses dois no final da trama, que claramente serve para não deixá-la morta em sua reta final. Aliás, a tal aventura que passa os personagens é bastante morna dentro do próprio conceito de aventura, pois além do tempo minúsculo mostrado desse núcleo, há também a falta de atritos na jornada encarada por eles.

Em contrapartida, esse dinamismo que demonstra certa preguiça do roteiro é também expresso, de maneira um tanto diferente, em alguns momentos de rápidos cortes e muita bagunça, realçando um teor cartunesco que o filme possui. Especialmente na primeira metade, existe de uma maneira vistosa toda essa aura cartunesca que perpassa Hotel Transilvânia, principalmente nas feições de Drac, que se alteram com força e corroboram o clima de agitação existente. Há também um excelente trabalho quanto ao aspecto visual, cujo um único plano costuma ter uma quantidade variada na tonalidade de cores, brilho e luz, criando uma experiência bastante vívida — com destaque para a sequência que incorpora uma estética vaporwave no segundo ato.  Em síntese, o carisma dos personagens, o visual estimulante e toda essa euforia nos movimentos corporais dos monstros e humanos são os responsáveis pelo lado contagiante desta obra, que infelizmente é prejudicada graças à pouca criatividade do roteiro.

Hotel Transylvania: Transformania (EUA, 2022)
Direção: Derek Drymon, Jennifer Kluska
Roteiro: Genndy Tartakovsky, Amos Vernon, Nunzio Randazzo
Elenco: Andy Samberg, Selena Gomez, Asher Blinkoff, Brad Abrell, David Spade, Fran Drescher, Jim Gaffigan, Kathryn Hahn, Keegan-Michael Key, Molly Shannon, Steve Buscemi
Duração: 87 minutos.

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