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Crítica | Imagens do Além

por Leonardo Campos
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Os espíritos orientais são vingativos e as tantas refilmagens produzidas pelos estúdios hollywoodianos desde O Chamado comprovaram a eficácia e o desastre deste tipo de releitura cinematográfica. Alguns filmes foram bem concebidos e conseguiram ganhar a sua formatação ocidental, tornando-se independente do ponto de partida. Outros, como Imagens do Além, falham por não conseguir tornar a sua existência um exercício de linguagem que consiga ir além dos elementos estéticos. No que tange aos seus atributos dramáticos, a produção peca bastante na organização estrutural do argumento, texto base que por sinal, já veio pronto para os realizadores. Refilmagem de Espíritos – A Morte Está ao Seu Lado, a narrativa em questão traz, como já apontado, bons momentos visuais, mas pouco magnetismo dramático.

Diante do exposto, sustos provenientes de truques com a profundidade de campo ou saltos mediante os tantos ferrões musicais não permitiram que Imagens do Além se tornasse um filme além do entretenimento ligeiro. Lançado em 2008, sob a direção de Masayuki Ochiai, cineasta guiado pelo roteiro adaptado por Luke Dawson a trama basicamente nos apresenta todos os traços vistos na versão “original, isto é, um fotógrafo, desta vez, profissional, é perseguido por um fantasma que faz parte de seu passado. A entidade, em busca de retaliação, clama por justiça e não vai sossegar até cumprir a sua missão destrutiva, tal como tudo que lhe foi feito enquanto ainda era viva. Subjugada, a assombração vaga em busca de vingança.

O casal da vez é Ben (Joshua Jackson), fotógrafo de moda, jovem atraente e muito simpático, cuidadoso com a sua noiva, Jane (Rachael Taylor), mulher dedicada que tenta se desenvolver diante do desafio proposto logo após a sua festa de casamento. A partida, junto ao noivo, para Tóquio, pois ele não pode negar uma excelente proposta de trabalho em sua área, ofertada graças aos seus contatos. No caminho para um chalé que tem o Monte Fuji como plano de fundo, os recém-casados supostamente atropelam uma mulher. Acidentados, desmaiam e quando acordam, a vítima sumiu. Terá sido ilusão ou ela foi socorrida por alguém?

Interessante como a questão cultural se estabelece neste trecho. Na versão tailandesa, não há muitos diálogos preocupados com respostas. A entidade aparece, há o acidente, mas as perspectivas não são muito didáticas, digamos, com respostas que ficam por conta da própria participação do espectador, ativo, diferente da versão estadunidense, mais organizada para não deixar qualquer traço sem explicação. Atordoada com o acontecimento, Jane não consegue viver um dia sequer em paz. Ela rememora constantemente o acidente e a culpa por supostamente ter ceifado a vida de alguém. Junto a isso, presenças sobrenaturais insistem em deixar o seu cotidiano mais assombroso, sempre a aparecer nas fotos, reflexos do espelho, etc.

Inicialmente os envolvidos enxergam como um problema tecnológico, mas não demora para o espírito deixar recados mais incisivos. Jane, desconfiada de que há algo muito errado, inicia a sua investigação me torno da presença e descobre se tratar de Megumi (Megumi Okina), uma das mulheres do passado de seu marido no Japão. Depois de muita insistência, ela descobre que eles tiveram um problema no relacionamento, pois a jovem apresentava comportamento semelhante ao que o campo da psicologia chama de transtorno borderline. Eles se juntam, conseguem contato com a mãe da jovem, descobrem que o cadáver ainda habita o lar da senhora que não aceita o suicídio inexplicado da filha, etc.

Após convencer, o funeral é agendado e as respostas parecem suficientes. Mas os problemas estão longe de acabar, como contemplaremos, haja vista a morte de Adam (John Hensley) e Bruno (David Denmon), dois dos maiores amigos de Ben em Tóquio, personagens que descobriremos, também fazem parte da história que envolve Megumi. Assim, não é apenas o marido de Jane que está na lista, mas outras pessoas por detrás de uma história macabra, explanada pelo espírito que se comunica com a jovem por meio de movimentos em fotografias. Ela leva Jane até o esconderijo secreto de imagens de Ben.

É quando ela e nós, espectadores, somos informados que os planos de Ben para afastar a namorada persecutória nipônica incluía um ritual de sedução, isca para a moça ser abusada por seus dois amigos. Fotografada, ela é ameaçada pelo trio e perturbada, some, tornando-se mais uma das tantas vítimas diárias de suicídio. A diferença é que na dinâmica narrativa de Imagens do Além, ela não descansa até cobrar a sua dívida, o que envolve a morte dos amigos de Ben e a presença constante em seus ombros, o que justifica as dores no pescoço do rapaz ao longo do filme. Sem boas perspectivas para quem participou das atrocidades, a única que escapa da tragédia vingativa é Jane. Ademais, os amigos morrem e o ex-marido da jovem é condenado a ficar internado numa instituição psiquiátrica com o encosto colado em suas costas para o resto da vida.

Como apontado na abertura, esteticamente, Imagens do Além cumpre bem o seu papel. A direção de Katsumi Yanagijima funciona bem, preocupada com os contrastes, adequada nas cenas noturnas, um grande defeito em muitos filmes de terror, excessivamente escuros, além de empregar o ponto de vista de forma eficiente, sempre a nos promover um espetáculo de sustos. Os efeitos sonoros de Scott Jennings fornecem os ruídos necessários para a sensação de horror nas cenas de impacto, num trabalho “musical” paralelo ao que Nathan Barr faz em sua condução na trilha sonora, bastante intrusiva. Os efeitos visuais da equipe de Hajime Matsumoto cumprem o trabalho de criação fantasmagórico, em simbiose com o design de produção cuidadoso de Nofirumi Ataka, em especial, o setor de maquiagem, responsáveis por não deixar a assombração subserviente aos processos criativos em computadores.

Imagens do Além (Shutter) — Estados Unidos/Japão, 2008
Direção: Masayuki Ochiai
Roteiro: Luke Dawson
Elenco: David Denman, John Hensley, Joshua Jackson, Megumi Okina, Rachael Taylor
Duração: 85 min.

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