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Crítica | Implacável, O Assassinato do General e Crime Impunido de Medeiros e Albuquerque

Medeiros e Albuquerque cerca as histórias de detetive.

por Luiz Santiago
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Neste pequeno compilado, trago críticas para três contos do escritor Medeiros e Albuquerque, a saber, O Assassinato do General, Crime Impunido e Implacável. Essas três histórias foram publicadas no livro de contos intitulado O Assassinato do General. O volume saiu pela editora Benjamim Costallat & Miccolis, no ano de 1926. Você já leu algum desses contos? Qual a sua opinião sobre eles? Deixe seus comentários ao final da postagem!

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O Assassinato do General

Quando escreveu este conto, Medeiros e Albuquerque já tinha concebido, com alguns colegas escritores, uma experiência intitulada O Mistério (lançada em formado encadernado no ano de 1920), que hoje — salvo algumas pequenas tentativas mais suavizadas anteriormente — inaugurou a literatura policial brasileira. Este era um gênero caro ao autor, que sempre o revisitava, tanto de forma direta, quanto indireta. Em O Assassinato do General, seu livro de contos publicado em 1926, o autor trouxe três narrativas que mergulham ou se aproximam do gênero. A primeira e mais importante — que dá título ao volume — é, de fato, uma trama policial: um crime é cometido. Uma pessoa confessa o crime, mas existe uma certa dúvida sobre os motivos e a legitimidade da coisa toda. Segue-se a “resolução” do caso. Já as outras duas são experiências aproximadas, como vocês poderão ver nas críticas adiante.

Na presente trama, temos uma narrativa meio sonolenta de uma senhora (Madame Barcellos) que comparece a um jantar social na casa do General Fagundes. Ela esperava o marido, mas este telegrafa, dizendo que não poderia comparecer. É o início de um desconforto que ganhará força, e terminará no assassinato previamente anunciado. O leitor fica realmente com dúvida se Madame Barcellos tinha algum problema não declarado com o General. Por um momento, o autor deixa um certo suspense em relação a isso, mas no andamento da história, abandona qualquer possibilidade de “algo a mais” e faz com que sua aventura termine num campo moral e redentor: a mulher não matara, na verdade, o General. Este tinha um aneurisma estourado, portanto, as 12 balas descarregadas em sua cabeça do homem (!!!) não tiveram papel algum em sua morte.

Em dado momento da história, a Madame ironiza uma atitude considerada maluca de seu advogado (solicitar uma segunda autópsia do General), citando Sherlock Holmes. É sabido que Medeiros e Albuquerque era grande admirador da literatura de mistério de Arthur Conan Doyle, e sempre que podia, adicionava, em seus escritos, uma piscadela ao trabalho do colega britânico. No presente conto, porém, a citação é apenas irônica e nada tem a ver com a “resolução” do caso. Não existe, de fato, uma investigação. Mas o advogado de defesa da Madame teve uma intuição certeira. Graças a ele, a verdadeira causa da morte foi descoberta, e sua cliente foi inocentada. No todo, porém, a trama parece acenar com orgulho demasiado para esse moralismo fácil e jeitinho delicado de encerrar o problema, talvez porque uma mulher é a “criminosa”. Não é uma história ruim, mas, por pouco, não se torna uma medíocre.

O Assassinato do General (Brasil, 1926) 
Autor: Medeiros e Albuquerque
Editora original: Benjamim Costallat & Miccolis
Em: O Assassinato do General (Contos)
12 páginas

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Crime Impunido

Como as coisas mudam quando o personagem central é um homem, não é mesmo? O ranço do machismo na literatura chega a ser patético, de tão previsível! Aqui, Medeiros e Albuquerque faz jus ao título, não decepcionando o leitor quanto ao que acontece na história: a promessa de um crime impune é cumprida. Mesmo que não se trate de um conto policial, é uma história que flerta diretamente com esse Universo (mais uma vez referenciando Sherlock Holmes), através de uma abordagem metalinguística. O protagonista é um escritor. Homem viúvo, que ainda guarda inúmeros objetos da falecida esposa, de quem tem as melhores lembranças da vida. Um desses objetos era um pequeno móvel, agora corroído pelos cupins. Depois de muito o patrão protelar a arrumação dos papéis espalhados, a empregada coloca o tal móvel para fora, com a ajuda de outro funcionário da casa, forçando o chefe a fazer a tão prometida arrumação. E mexendo nas tábuas comprometidas das gavetas do móvel deixado pela mulher, ele encontrou uma carta, descobrindo, então, que havia a possibilidade de um caso sua amada e seu melhor amigo.

A base para a trama é batida, é verdade, mas o autor consegue explorar a traição a partir de um outro ponto de vista. Essa traição possui várias camadas, e é pegando carona em uma delas que o escritor dentro do conto monta a sua vingança, justamente na ideia de um “Crime Impunido“, título de um romance básico e pouco inspirado que ele escrevera há pouco tempo. A grande questão, nesse momento, é se ele conseguiria cometer um crime e passar impune. Como se trata de uma vingança, e como ele premeditou tudo, o leitor fica tenso, sem saber exatamente por qual caminho ele irá seguir. Embora o início e parte do desenvolvimento da história não sejam exatamente brilhantes, o final é delicioso, trazendo aquela sensação que sentimos nas melhores histórias de mistério ou aventuras similares a esse gênero, como é o caso do trágico melodrama aqui.

Crime Impunido (Brasil, 1926) 
Autor: Medeiros e Albuquerque
Editora original: Benjamim Costallat & Miccolis
Em: O Assassinato do General (Contos)
15 páginas

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Implacável

Por essa eu não esperava! O protagonista deste conto é um médico de 60 anos, que possui uma amante de “pouco mais de 20”. Ele a ama perdidamente; loucamente, diríamos. E como era de se esperar, se derrete de ciúmes pela moça. Mas em vez de falar com ela sobre os seus ciúmes doentios; causar uma briga e talvez afastá-la de sua vida, ele procura se livrar de seus adversários. Dessa forma, mantém-se “para sempre” ao lado da jovenzinha que ama. É uma sinopse macabra, se pensarmos bem, não é mesmo? Essa é a sensação que Medeiros e Albuquerque nos transmite aqui, falando sobre o caso de um homem que mantém a sua paixão viva impedindo que a jovem amante encontre alguém na vida. Mesmo que não exista no conto uma exploração mais detalhada sobre a personalidade do médico, só pelos seus atos já conseguimos fazer uma boa leitura a respeito de quem ele é.

No início da história, vemos o Doutor na cabeceira de um jovem enfermo. Ele é apenas um devotado médico que, sem nenhuma obrigação extra para com o garoto, dedica-se quase que inteiramente à sua recuperação. Só que não. Essa é uma das partes que mais me deixou com os olhos arregalados em Implacável. A naturalidade com a qual o Dr. Travassos cometeu o principal crime da história; a “única saída” diante de alguém que ele não conseguiria afastar facilmente, é de aplaudir pela malignidade. E a forma como Albuquerque termina o conto traz uma camada extra de sombra em cima de tudo o que aconteceu antes: as gargalhadas da plateia, em uma peça cômica, enchem os ouvidos da jovenzinha no dia da morte de seu possível namorado. Estarrecedor e incrível, ao mesmo tempo.

Implacável (Brasil, 1926) 
Autor: Medeiros e Albuquerque
Editora original: Benjamim Costallat & Miccolis
Em: O Assassinato do General (Contos)
9 páginas

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