Pela maneira como guia Improvisação Perigosa (2025), é perceptível que Tom Kingsley passou a maior parte de sua carreira dirigindo coisas para a TV. Colando três atores de improvisação teatral, sem qualquer experiência em operações policiais, no centro de uma missão para se infiltrar no submundo criminoso de Londres, o roteiro cria uma premissa interessantíssima que, infelizmente, não chega nem perto de ser totalmente explorada. A professora de improviso Kat Boyles (Bryce Dallas Howard, até que bem colocada no papel) lidera o grupo ao lado de Marlon Swift (Orlando Bloom, tão forçado quanto seu personagem), um aspirante a ator cheio de ideias exageradas sobre dramaturgia, e Hugh (Nick Mohammed, numa atuação apagada e dispensável), um tímido funcionário de TI que nunca se encaixa em lugar algum. O roteiro, escrito a oito mãos, tem o seu frescor inicial porque combina a espontaneidade da improvisação cômica com a tensão de um suspense policial. Contudo, a direção hesita em explorar a fundo as possibilidades cômicas e dramáticas dessa ideia, resultando num filme que é raso em tudo o que oferece.
O texto acerta ao estabelecer personalidades distintas para Kat, Marlon e Hugh, criando um contraste que serve como motor para o humor, algo recorrente nas comédias com mais de um personagem central. No entanto, a direção de Kingsley falha ao tentar reunir essas características com as exigências do mote policial. As atuações, embora competentes para o recorte desejado (com um nível proposital de canastrice por parte dos dois homens), sofrem com uma falta de sintonia com o tom de muitas cenas, especialmente em momentos que exigem transições rápidas entre comédia e suspense, algo que a montagem também não ajuda muito, diga-se de passagem. Esse descompasso é paulatinamente agravado pela trilha sonora, que, em vez de amplificar a tensão ou o humor, soa frequentemente perdida, falhando em reforçar a atmosfera pretendida, com exceção do único momento em que som e imagem têm uma relação mais complexa na obra – com It’s Not Unusual, de Tom Jones –, a despeito da finalização abrupta.
Diferente de muitas comédias de ação que se perdem em subtramas desnecessárias, Improvisação Perigosa pelo menos mantém um foco admirável na jornada central do trio. A progressão da história, que começa com uma operação modesta e evolui, com reviravoltas, para confrontos com figuras perigosas do submundo como Fly (Paddy Considine) e Metcalfe (Ian McShane), é bastante clara e evita dispersões. Ainda assim, a falta de aprofundamento nos arcos individuais limita o impacto emocional do filme. Cenas isoladas mostram Kat lidando com sua carreira estagnada, Marlon perseguindo seu sonho de atuar e Hugh tentando superar sua timidez, mas esses momentos são breves e carecem de desenvolvimento suficiente para criar uma conexão duradoura com o público. A narrativa, embora linear, sacrifica a profundidade em favor da agilidade, o que impede que os personagens se tornem mais do que esboços de suas próprias motivações.
Um dos aspectos mais promissores do filme, que é a interação entre a improvisação teatral e as demandas do trabalho policial, é, infelizmente, subutilizado. Pensar em atores usando suas habilidades de improviso (ou a falta delas) para enganar criminosos oferece um terreno fértil para humor e tensão, mas o roteiro só explora essa dualidade de maneira consistente no início e no desfecho. Sequências como a negociação inicial com a gangue albanesa ou a intervenção final para proteger Fly mostram lampejos do potencial cômico da premissa, com os personagens improvisando falas e ações para manter suas façanhas. No entanto, boa parte do filme ignora essa camada, optando por uma linha mais convencional de comédia de ação. A corrupção do Sargento-Detetive Billings (Sean Bean) e a presença de figuras como Shosh (Sonoya Mizuno) e Metcalfe adicionam intriga, mas não conseguem integrar a essência da improvisação ao cerne da narrativa, o que faz com que o filme pareça, em praticamente todo o seu desenvolvimento, desconectado da própria proposta.
Considerando a dinâmica entre ação e comédia, o longa entrega momentos de entretenimento, mas raramente vai além do superficial, resultando em uma experiência que diverte sem impressionar. A química entre o trio principal é suficiente para sustentar o filme (e algumas piadas), especialmente aquelas centradas na inaptidão de Hugh. Contudo, o longa não capitaliza seus pontos fortes, como a habilidade dos personagens de manipular situações através da improvisação, nem oferece caminhos técnicos que elevem os momentos-chave. A investigação paralela conduzida pelo Inspetor-Detetive Dawes (Ben Ashenden) adiciona uma camada de suspense, mas sua resolução é apressada, deixando, para nosso desespero, uma possibilidade de continuação.
Estamos diante de um exercício com alto potencial podado. A premissa de atores amadores navegando pelo crime organizado sob a fachada de suas habilidades cômicas sugere uma exploração ousada da identidade, da performance e da moralidade em situações extremas. No entanto, o filme estaciona no básico, preferindo uma abordagem mais convencional e não arriscando ou expandindo suas boas possibilidades. A narrativa poderia ter investigado como a improvisação molda a percepção de realidade ou como a pressão do disfarce afeta os protagonistas, mas essas ideias permanecem na superfície. O desfecho oferece um fechamento satisfatório, mas não provoca, é apenas convencional mesmo. Num enredo que deseja entrelaçar comédia, crime e ação para questionar os limites da autenticidade, o filme escolhe o conforto e a obviedade, deixando o espectador com um divertimento passageiro, mas sem o peso de uma experiência improvisadora raiz.
Improvisação Perigosa (Deep Cover) — Reino Unido, 2025
Direção: Tom Kingsley
Roteiro: Derek Connolly, Colin Trevorrow, Ben Ashenden, Alexander Owen
Elenco: Bryce Dallas Howard, Orlando Bloom, Nick Mohammed, Sean Bean, Paddy Considine, Sonoya Mizuno, Ian McShane, Ben Ashenden, Alexander Owen, Leart Dokle, Omid Djalili, Nneka Okoye, Freya Parker, Sophie Duker, Susannah Fielding
Duração: 99 min.