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Crítica | Inferno na Terra: A História de Hellraiser 3

Os bastidores da composição do terceiro retorno dos cenobitas liderados por Pinhead.

por Leonardo Campos
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Dinâmico e mais objetivo que as produções anteriores sobre os bastidores da franquia, Inferno na Terra: A História de Hellraiser 3 é um documentário lançado em 2015, dirigido por K. John McDonagh e editado por Gary Smart. Com duração de 32 minutos, a narrativa oferece um olhar íntimo sobre os bastidores da terceira parte da icônica franquia criada por Clive Barker. Ao longo da produção, os depoimentos de atores, roteiristas e membros da equipe técnica revelam não apenas as dificuldades enfrentadas para a realização do filme, mas também a evolução da marca Hellraiser e seu impacto na cultura pop. Repleto de curiosidades e detalhes sobre os bastidores desafiadores, esta produção documental não só reflete as lutas e triunfos de um filme em particular, mas também ressalta a complexidade de interações entre criadores, fãs e a indústria cinematográfica. Um dos pontos altos do documentário é o relato de Doug Bradley, o ator responsável por dar vida ao famoso Pinhead. Durante um evento com fãs, ele percebeu a importância e a popularidade do personagem que interpretava. Esse momento de epifania foi crucial para entender como a interpretação de seu personagem se tornou um ícone cultural, ultrapassando as telas e se firmando no imaginário popular.

Essa revelação é intensificada por depoimentos de outros envolvidos que compartilham suas experiências e percepções sobre a recepção do filme. A consciência de Bradley sobre a identidade de Pinhead se contrasta com as dificuldades enfrentadas na produção do terceiro filme, envolvendo conflitos com os produtores, desafios financeiros após a falência da produtora original e complicações legais em torno dos direitos autorais. Essas questões evidenciam não apenas as tensões internas na equipe, mas também a luta contínua para manter a integridade de uma franquia que já havia cativado um largo público. Outro ponto a destacar é a interação de Peter Atkins, o roteirista do filme, cujas reflexões sobre sua contribuição oferecem um contraponto interessante. Atkins reconhece que Hellraiser 3 pode não ter sido o favorito dos fãs, mas destaca a singularidade que o filme ocupa no universo da franquia. Essa admissão demonstra uma humildade e uma consciência crítica que muitos criadores carecem, permitindo que os espectadores vejam as nuances e complexidades da produção cinematográfica.

O documentário também menciona que, ao contrário de seus predecessores, desta vez, os realizadores tinham um orçamento significativamente maior, possibilitando cenários mais elaborados e efeitos especiais que não só ampliaram a experiência visual, mas também ajudaram a solidificar a imagem de Pinhead como o cenobita central e a figura mais emblemática associada à série. Essa transformação é central para a narrativa do documentário, evidenciando como a figura de Pinhead evoluiu de um personagem interessante para um ícone do gênero de terror. Além disso, a mudança da locação de filmagem do Reino Unido para os Estados Unidos trouxe novos desafios culturais e criativos para a equipe. Essa transição não se tratou apenas de alterar a paisagem física, mas também teve implicações profundas na forma como a história foi contada e recebida. Com um toque de humor, os entrevistados compartilham curiosidades sobre os bastidores, tornando o documentário não apenas uma análise crítica, mas também uma ode nostálgica à passagem do tempo e ao legado duradouro que Hellraiser deixou no cinema.

As histórias contadas por aqueles que estiveram na linha de frente da produção encantam, ao mesmo tempo em que se tornam informativas para interessados na linguagem do cinema, pois destacam a importância da franquia como um marco significativo no gênero, especialmente através do papel central que Pinhead desempenhou. Em linhas gerais, Inferno na Terra: A História de Hellraiser 3 não apenas captura a essência de um filme que enfrenta sua própria crítica e reinterpretação, mas também serve como uma reflexão sobre a relação entre criadores e o público. Ao enfatizar a evolução de Pinhead e as dificuldades enfrentadas durante a produção, o documentário oferece uma visão abrangente da complexidade na criação de uma obra cinematográfica. Como lição deste documentário, aprendemos que o legado de Hellraiser 3 é, portanto, muito mais do que os seus aspectos técnicos ou financeiros. É a celebração de uma jornada que, apesar dos desafios, resultou na consagração de um personagem que se tornaria uma parte indelével da cultura pop.

Assim, este documentário não só informa sobre o filme em si, mas também inspira uma apreciação mais profunda pela arte da narrativa no cinema de terror. E, nos faz retornar ao filme, haja vista a nossa necessidade cinéfila de rememorar sua estrutura dramática e estética, para refletir que o filme dirigido por Anthony Hickox expande a mitologia apresentada nos filmes anteriores, particularmente em sua exploração dos cenobitas, figuras ficcionais que tiverem os seus respectivos designers como um ponto de destaque, mantendo a estética gótica e surreal que marcou a franquia. A utilização de efeitos especiais práticos é uma característica notável, contribuindo para o tom visceral do horror. Desta vez, Ao contrário dos primeiros filmes, o terceiro capítulo da franquia incorpora humor ácido de forma mais pronunciada. Essa escolha divide opiniões, pois enquanto alguns veem isso como uma tentativa de inovar, outros criticam por diminuir o impacto da narrativa de horror. Em seus 97 minutos, a narrativa aborda temas como redenção e punição, questionando se a vida em si é um ciclo de dor. Os cenobitas, como agentes de punição, refletem a ideia de que a dor é uma parte intrínseca da existência humana. Ademais, a estrutura do filme é mais fragmentada do que nos anteriores, apresentando uma narrativa não linear, confundindo alguns, mas contribuindo para a atmosfera de confusão e desespero vivenciada pelos personagens.

E, sendo uma das escolhas mais interessantes, o cenário se move para uma cidade moderna, contrastando com as ambientações mais sombrias dos filmes precedentes. Essa mudança reflete a evolução da série, mas também pode ser vista como uma tentativa de adaptar o horror a um público mais amplo e contemporâneo. Ao explorar o medo existencial e a busca insaciável por prazer e poder, sugerindo que os verdadeiros monstros são as próprias falhas humanas, o filme levanta questões filosóficas sobre a natureza da humanidade e a busca por significado. Com ritmo que apresenta momentos de alta tensão seguidos de sequências mais lentas, o que pode desagradar alguns espectadores. Hellraiser 3: Inferno na Terra tem um lugar único dentro da franquia, sendo um divisor de águas que moldou as direções futuras para os filmes de terror. A sua tentativa de equilibrar horror com elementos comerciais e humorísticos levantou debate sobre a essência do gênero e a fidelidade da franquia às suas raízes. Não é perfeito, mas respeita elementos peculiares de seus antecessores, sendo a porta de entrada para uma série de liberdades criativas que transformaram este universo em um ciclo gigantesco de produções equivocadas, com alguns raros bons momentos até a chegada da eficiente releitura de 2022, assertiva ao atualizar o mundo dos cenobitas para o cenário tecnológico contemporâneo.

Inferno na Terra: A História de Hellraiser 3 (Hell on Earth: The Story of Hellraiser III) — Estados Unidos, 2015
Direção: Christopher Griffiths, K. John McDonagh
Roteiro: Nicholas Helmsley, Gary Smart
Elenco: Doug Bradley, Ken Carpenter, Gary Smart, Nicholas Helmsley, Kevin McDonagh, Andrew Robinson, Clare Higgins, Imogen Boorman, Tony Randel, Christopher Figg
Duração: 32 min

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