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Crítica | Influência (2019)

por Fernando Annunziata
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As vovozinhas sempre querem o melhor para nós.

É interessante que a Netflix disponha de uma diversidade de diretores para a produção de suas obras originais. Dessa forma, cada filme distribuído pela empresa é taxado como “diferente de todos que ela já produziu“. E alguns desses filmes conseguem até inovar, quando comparados a outros do mesmo gênero, a exemplo de Cam e Black Mirror: Bandersnatch. Entretanto Influência (2019), não segue o mesmo caminho. É tão costumeiro que a Netflix produza obras que visam ser inovadoras, com exceção dos clichês adolescentes, que quando nos deparamos com um filme banal de terror vindo dela, ficamos com sensação de estranheza.

Influência conta a história de Alícia (Manuela Vellés), que volta à casa em que nasceu a pedido de sua irmã Sara (Maggie Civantos). Acompanhada da filha Nora (Claudia Placer) e do marido Mikel (Alain Hernández), Alícia lembra do seu passado sombrio, ao passo que descobre ligações demoníacas com sua mãe Victoria (Emma Suárez).

O diretor e roteirista espanhol Denis Rovira van Boekholt parece querer se manter no tradicional, ao invés de ousar, em um filme experimental. O longa segue a tradicional linha do terror clichê: casa rústica, família unida, símbolos demoníacos e idosos sombrios. Isso tudo alinhado à fotografia pesada, voltada ao preto — o que atrapalha a visão do espectador em certas cenas. O único ponto que foge do tradicional é na trilha sonora, pois o áudio é guiado pela respiração lenta de Victoria, que passa quase o filme todo deitada na cama e respirando por aparelhos. Isso não é algo negativo, de imediato. O problema se encontra quando esse padrão tira a identidade do filme.

É comum que em obras do gênero apareça alguma espécie de demônio, com fisionomia assustadora. Porém, essas criaturas tem uma história por trás; um sentido para estarem ali. Isso não acontece em Influência. Na tentativa desesperada de lembrar os clássicos, o diretor se dispõe de uma feição demoníaca para representar o pai morto de Alícia, o que não faz sentido algum para a história, muito menos acrescenta em algo a ela. Outro ponto que o diretor erra é na linearidade. Os flashbacks não tem qualquer ligação entre si e os personagens não seguem um ritmo linear de sentimentos. Em uma cena, por exemplo, Alícia diz desesperada que quer sair daquela casa. Na cena seguinte, ela está fazendo faxina na casa, com um olhar calmo.

SPOILERS!

Ademais, a sensação é de que temos três filmes em uma 1h40. No primeiro ato, a obra não cativa. O telespectador fica perdido na história, pois os personagens são introduzidos de forma repentina: é muita informação para pouco tempo. Já no segundo ato, o filme constrói reviravoltas e arcos interessantes que serão aproveitados no terceiro ato. Os flashbacks, embora não tenham linearidade, constroem cenas dignas de serem vistas. Um exemplo é quando Sara e seu irmão são obrigados por Victoria a se olharem no espelho e seus corpos começam a entrar em decomposição. 

Em relação ao terceiro ato, o filme atinge seu ápice: parece que gastaram todo o orçamento aqui. Todas as alegorias do filme são explicadas eficientemente, assim como a presença de maquiagens magníficas, se não perfeitas, e de cenas de tirar o fôlego. Uma das cenas mais comoventes é a da explicação da morte do pai de Alicia, fator citado no início do longa, mas não especificado. É uma pena que neste ato também haja a presença da inútil volta ao clichê: é aqui que a personificação do demônio aparece.

No quesito atuação, não dá para passar batido a péssima performance da protagonista, Manuela Vellés. Ela passa o filme todo com os olhos e bocas abertos. Em certo aspecto, é possível associar sua atuação às de novelas mexicanas, por exemplo. Em outro ponto, a mirim Claudia Placer, que já teve seu papel de destaque em Verônica, volta com mais força ainda. A atriz consegue passar o sentimento da personagem em todas as cenas, ainda mais que temos uma transição da Nora boazinha para a Nora maléfica. 

Enfim, A Influência é no máximo um filme medíocre, que se sustenta no segundo e no terceiro atos. Para quem busca um terror sem inovações e que esteja disposto a aguentar um primeiro ato desgastante, o filme pode servir como um breve passatempo.

Influência (La Influenza) – Espanha, 2019.
Direção: Denis Rovira van Boekholt
Roteiro: Denis Rovira van Boekholt
Elenco: Manuela Vellés, Maggie Civantos, Claudia Placer, Daniela Rubio, Alain Hernández, Emma Suárez, Ramón Esquinas, Felipe García Vélez, Mariana Cordero
Duração: 1h 39 min.

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