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Crítica | Instinto Assassino (1991)

por Leonardo Campos
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Apesar de sua má fama no campo da crítica, ao revisitar Instinto Assassino, confesso que não achei a narrativa tão ruim e ofensiva como o indicado na opinião de outros colegas de campo ou apreciadores de filmes de terror, autores de críticas fora do circuito profissional. Acredito que o grande dilema desta produção, tal como ocorreu em 1987, no grotesco Sem Convite, é a inabilidade de alguns realizadores em transformar um gato numa criatura monstruosa e assassina. Acho que no caso dos cães, animais próximos no quesito convivência doméstica e harmoniosa com os seres humanos, a tarefa seja mais fácil de ser cumprida, pois os cães podem ser bem agressivos, a depender da situação e raça, além da capacidade de produzir estragos consideráveis. Nesta história de terror lançada como telefilme em 1991, o cineasta John Mc. Pherson comanda o roteiro de Shaun Cassidy, trama sobre um gato assassino que atormenta a vida de uma família que se mudou da cidade grande para viver uma versão do american way of life numa região interiorana.

São pessoas da cidade grande, habituadas ao esquema de violência, insegurança e outras celeumas dos ambientes urbanos da contemporaneidade. Com crianças e um cachorro, a família Jarret é capitaneada pelo casal Paul (Timothy Busfield) e Lindsey (Kathleen Quinn), agrupamento de pessoas que desejam, acima de tudo, renovação. Explico: com o casamento em crise, eles acreditam quem novo lar possa mudar a ordem das coisas. O que eles não imaginam é que um certo gato do local, criatura que retrocedeu na evolução e apresenta ações selvagens, fará de tudo para destruí-los. É uma alegoria para o casamento e sua degradação, algo que talvez os realizadores sequer tenham imaginado, mas está lá para ser interpretado. E nem é coisa de subtexto impermeável, ao contrário, é uma estrutura metafórica óbvia, seja nos diálogos ou na ação do gato, sempre a ameaçar um membro da família e avisar que “não desejo vocês por aqui”.

Ele inclusive mira direto em Benny, o cão amigo da família, estraçalhado na primeira oportunidade que o felino tem de ceifar vidas, preparação para os próximos da lista, os humanos. Ele nem sempre suas as suas patas. Em alguns casos, apenas um empurrão ou truque elimina num piscar de olhos a matéria e deixa apenas o espírito, para aqueles que acreditam nesta ordem das coisas. A sua missão assassina misteriosa não é explicada em detalhes, mas ganha por não ser mais uma iniciativa com criaturas geneticamente modificadas. Ao longo dos 83 minutos de Instinto Assassino, o que saberemos é que o felino é uma máquina de matar que age de maneira avassaladora, mas não possui porte que justifique o seu potencial. Uma arvore na entrada da casa, cheia de marcas de suas garras, já explicita logo no começo que essa criatura é bastante temperamental. Os telefones com defeito indicam a suposta presença de ratos, isca para um técnico ir até o porão e ser atacado pelo monstro com sede de matança. É como uma descarga emocional para o bicho.

E, quanto mais ele mata, mais quer colecionar cadáveres em sua lista de crimes. Por sinal, o gato é cheio de pudor e favorável aos valores familiares, pois ele mata sem piedade a irmã da protagonista, a jovem e sedutora Claire (Claudia Christian), obstáculo para o reajuste no casamento de Lindsey e Paul. Ela tem um caso com o cunhado e numa cena dirigida sem qualquer emoção, a esposa flagra um beijo da dupla e não faz absolutamente nada. Nem no ato, tampouco depois. Vejo a morte de Claire como apenas mais uma da lista em Instinto Assassino, pois o gato continua a sua saga de destruir todos, não apenas eliminar, numa visão cristã tradicionalista, “as impuras”. Ele é um gato slasher, mas este não é o foco. Numa determinada cena lá pelo meio, ele ataca a família ao se jogar no para-brisa do carro durante um deslocamento. O automóvel cai numa vala, mas os passageiros ficam apenas levemente feridos.

Diante do exposto, tal como a cartilha básica, os acontecimentos estranhos começam a se multiplicar de tal maneira que o patriarca da família decide investigar mais profundamente e chega as suas conclusões nada “normais”. Ele se toca um tanto tardiamente e se desloca para casa, rumo ao protecionismo familiar, sem saber que a esposa e a filha estão numa extensa perseguição com a criatura, o velho padrão narrativo do último ato. Com recursos visuais semelhantes aos apresentados em Evil Dead, a direção de fotografia de Jacques Haitkin investe no habitual ponto de vista, arrastando-se pelos espaços como se ocupasse o olhar do gato assassino, presença reforçada pelo design de som de Kyle Wright, setor que ganha o reforço pouco interessante da trilha sonora de Michael Colombier, um exercício de composição musical que dialoga com as capacidades dramáticas do próprio filme. O design de produção de Mick Straw concebe um “espaço família”, em especial na cenografia, para Instinto Assassino, horror ecológico abaixo da média.

Instinto Assassino (Strays–  Estados Unidos, 1991)
Direção: John McPherson
Roteiro: Shaun Cassidy
Elenco: Kathleen Quinlan, Timothy Busfield, Claudia Christian, William Boyett, Heather Lilly, Jessica Lilly
Duração: 83 min.

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