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Crítica | Interestelar

por Davi Lima
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O amor é a única coisa que transcende o tempo e o espaço.

A confusão entre a empatia e o amor, dentro da aula experimental da moral, que impõe a negação incoerente de uma dimensão familiar em prol do quântico como ídolo. Interestelar é uma comprovação de uma ideia que vai abandonando outras. O nome da filha precisa ser justificado até o final para que a explicação de tudo seja com base no quarto dela, mas abandonando tanto a ideia do símbolo fantasmagórico que o pai renega sua comprovação científica, mesmo ainda usando o livro de Stephen King na estante. Existe uma proposta de compensação dentro do universo da obra que vai desde conveniências tratadas como amor transcendental da gravidade à personificação do protagonista que é um receptáculo relativista mais do que a teoria explicada pela Doutora Brand.

Se Cooper é um fazendeiro que julga a sociedade do futuro como ignorante ao não aceitar o Apollo 11 como verdade, ele se entrega facilmente ao encanto de secretamente servir à NASA, porque tanto provará sua moral de que o ser humano é explorador como o desgarramento familiar pode causar um drama forte. Por um lado, Interestelar se torna um livro de ciências com explicações sobre o cosmo e o quântico, ele tenta de todas as maneiras justificar, dentro desse futuro que renega a agricultura e a Terra que não tem salvação, que a ciência exaltada não é só um ato de desbravamento, ou até mesmo de salvar a humanidade em outro planeta, e sim um ato que vai descobrir o amor com base no empirismo que se ama mesmo após a morte ou pela distância temporal. Teoricamente Interestelar é um filme apaixonado, em que há uma prova pentadimensional que perpetua a singularidade, mas todo o seu exercício de amor não é apenas uma representação de cientistas falando de amor, é na própria maneira como o filme trata seu drama, que torna discursos românticos esvaziados de lógica para que essa seja a justificativa em si de existir, logicamente para o drama do filme.

No entanto, o que parece passar despercebido é como todos os pontos de fato dramáticos ou até de suspense se baseiam muito mais no medo ou no distanciamento temporal que assusta do que de fato na comprovação do amor. Com boas atuações e drasticidades diante da transformação do tempo, a emoção à flor da pele não se alinha ao quântico idolatrado para encontrar o amor, na verdade mostra que no processo experimental do filme de alinhar todas as teorias científicas astronômicas com uma ficção de premissa clássica vai se esquecendo princípios da família que se baseia, ou de como o planeta Terra como interação com a natureza justifica bem mais decisões de um pai desesperado, mesmo que ele seja mais um fantoche de frases feitas, um caipira piloto que é objeto de manobra para que o discurso de empatia seja comprovado como medida científica.

Nesse experimento moral, em que a escolha pela ciência é sempre melhor em cima do fazendeiro considerado “burro” no filme, a empatia é como um abraço da personagem Murphy no irmão cheio de fuligem, ou como Matt Damon por não ter família é o pior ser humano do mundo, egoísta e desesperado após ter viajado meio mundo pela ciência porque não poderia se submeter à experiência temporal da empatia. Um filme que tenta se ajustar, como no personagem de Michael Cane que tem uma frase poética desmistificada por se tornar um mentiroso, ou Murphy que alcança a solução pela promessa do pai que em verdade tanto não foi cumprida (quanto à idade) como pela diferença de idade ela afasta seu pai para um novo desbravamento ilegal.

Não há o amor transformador que tanto se comenta na história e que se torna a resolução do filme. Existe o tempo, a memória, o símbolo e o quântico que para efeito dramático e explicativo é usado como termo emocional inconsequente diante de uma narrativa praticamente montada. É como o cenário nas cenas de documentário, ou a fazenda que se torna museu tão desleixado que o robô TARS, o mesmo que tem a porcentagem de humor exata e incapaz de ter medo, está lá jogado, e não aparece nenhum visitante. Aliás, nos detalhes de interpretação dos atores é possível perceber também que quem tem algum medo do espaço, como o cientista Doyle aparentava ter, não sobrevive, e o personagem Romilly como um mestre que passou anos estudando a singularidade é enganado por dados falsos sobre um planeta.

Onde está a empatia? A ciência se tornou ignorante ao poder do amor para ser conveniente apenas para a comprovação de que ele é o meio para alcançar o pódio da física quântica? Parece tudo bem mais realista que transcendental.

Interestelar (Interstellar – EUA/ Reino Unido, 2014)
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Jonathan Nolan, Christopher Nolan
Elenco: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain, Wes Bentley, Matt Damon, Mackenzie Foy, Michael Caine, Casey Affleck, Topher Grace, John Lithgow
Duração: 169 minutos

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