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Crítica | Intrusion

por Felipe Oliveira
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Outubro (2021) chegou e, como de praxe, a aposta em produções inéditas de terror e suspense é mais do que aguardada todo ano pelos fãs dos gêneros. E desde o dia 8 deste mês de setembro, a Netflix tem entregado aos seus assinantes o chamado Netflix and Chills, programação dedicada para quem deseja dar o play em algo tão tenso e aterrorizante, e que o fará ficar na ponta do assento e roendo unhas. Certamente, outros títulos poderão dar conta de proporcionar este atrativo, o que não é o caso do intitulado Intrusion, novo filme do diretor Adam Salky (Drama Adolescente).

Vindo de realizações em curtas-metragens e de cunho dramáticos, esta é a primeira investida do cineasta no gênero do suspense, o qual teve a sorte emprestada do roteirista Chris Sparling (Enterrado Vivo) em incrementar um pouco de drama à história, o que não passou de um belo esboço que não chega a lugar nenhum. Aliás, esta sensação de algo vago, que mal arranha, mas quer ser muita coisa, permeia integralmente o curto período em que Intrusion se desenrola. Na familiar trama, conhecemos o casal de protagonistas formados pela teraupeta Meera (Freida Linto) e o arquiteto Henry (Logan Marshall-Green), que, a fim de superarem um recente quadro de depressão vivido por Meera após um câncer de mama, decidem recomeçar numa nova região, em uma casa projetada pelo esposo. A apenas dois meses dessa mudança, a busca pela paz é ameaçada quando a residência dos pombinhos é invadida por criminosos, o que faz Meera desconfiar de tudo.

Embora esta seja a primeira parceria de Salky com a Netflix, no caso de Sparling, é seu segundo trabalho do gênero para a plataforma depois do tedioso Mercy lançado em 2016, o qual roteirizou e dirigiu. Na vez, a produção mirava um tom indie ao propor uma reunião de uma família desalinhada durante um momento de perda, o que terminou revelando segredos desconhecidos entre os entes. Enquanto aqui, em Intrusion, a ideia de recomeço é gradualmente posta em dúvida quando um evento de violência provoca acerca do quanto o casal se conhecia. O que ambas produções têm em comum, é a ótica de querer moer uma base genérica até o último segundo a fim de oferecer uma reviravolta, nem que esta seja óbvia. O que não é problema algum trazer um plot twist esperado, a questão é sobreviver a um argumento fraco demais, de personagens fracos, atuações fracas, situações fracas, que resultam um suspense aguado. Ou seja, Intrusion.

Talvez, o longa seja um daqueles casos em que o elenco chama atenção mais do que seu enredo, dito isto, Pinto e Marshall-Green seriam os critérios principais para o filme de Salky ganhar uma chance, tendo em vista que seu plot mais que batido não seja um fator atraente. Contudo, não precisa de muito tempo de reprodução para perceber que Intrusion está fadado ao imenso potencial de sua ruindade, e que nem seus protagonistas se salvam. Costurando o primeiro elemento desse escopo, a trama se estabelece apresentando o casal aparentemente perfeito, de boa comunicação, atenciosos e amorosos um com outro; e enquanto Meera demonstra ser o lado mais emotivo da relação, o manso e cordial Henry — de cabelo sempre lambido —, certifica-se de reiteradamente, provar este seu perfil. A intenção é clara, mas é tão carente de substância para envolver o telespectador neste campo de casal embebidos em constante harmonia, que corrompe o clima para o desenvolvimento das sequências seguintes.

Para o segundo elemento, temos a projetada casa dos sonhos. É por meio desta peça que Salky utilizará como faísca para seu suspense, bem como, para o convite da óbvia reviravolta trazer o “ápice” da produção; o anfitrião questionável, caricato e anticlímax, que fraqueja na sua missão de entreter e dominar o evento. Mas estas características podem muito bem resumir Intrusion, que é falho e fraco em todas suas escolhas em querer ser fora da caixa, a começar pela ideia de contrapor o arco do home invasion com a provocante subversão de que a real ameaça pode vir de dentro.

A partir deste ponto, junto a desconfiança impressa na figura de Meera, o longa intenta envolver o telespectador no mesmo fio de dúvida sobre o que diabos estaria por trás de uma invasão domiciliar, capaz de tornar a perfeita demonstração de casal de minutos antes como algo incerto. Mas vejamos, toda essa linha de condução não consegue desenvolver nada tenso nem instigante, e não basta ser evidente “o fator surpresa” do twist, as colherzinhas de chá constantemente dadas na narrativa, mais irritam do que colaboram para a construção ao menos de atmosfera, porque, simplesmente, não há nada de genial ou muito bem desenvolvido no enredo, que por sinal é  muito ruim até em ser genérico.

Se a dupla de atores escolhida para protagonizar Intrusion tenha sido o aspecto mínimo para ser levado em conta, no final, a coisa toda só entregou desperdício de talento mesmo. Sendo o seu primeiro papel como estrela de um suspense, a personagem de Pinto não poderia ser tão mal escrita, nada inspirada e ainda ser a chave para o desenrolar do “misterioso” enredo, que ainda arrasta a audiência para algo pífio e enfadonho, atrelado a mecanismos convenientes e específicos demais, como se tivesse juntando as essenciais peças de um quebra-cabeça, mas que na verdade, só está seguindo a tabelinha. Mas foi interessante o artifício usado na cinematografia de Eric Lin acompanhando Meera em um movimento giratório na casa como imersão à reviravolta no ato final do longa, que corre para consumação de sua péssima história.

Em suma, Intrusion é mais um daqueles títulos de tramas insossas e ideias batidas que esperava impressionar com um suspense fraco apoiado no seu excesso de fórmulas e partes remendadas de outros thrillers tão ruins quanto.

Intrusion (EUA, 2021)
Direção: Adam Salky
Roteiro: Chris Sparling
Elenco: Freida Pinto, Logan Marshall-Green, Mark Sivertsen, Megan Elisabeth Kelly, Robert John Burke, Sarah Minnich, Clint Obenchain
Duração: 92 min

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