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Crítica | Invasão ao Serviço Secreto

por Iann Jeliel
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Franquias de ação não procuram criar arcos, elas mais gostam de jogar o protagonista em situações inusitadas, e no caso dessa, situações que de alguma forma coloquem em risco o patrimônio norte-americano. Bizarro pensar que aquele Invasão à Casa Branca virou uma trilogia agora com Invasão ao Serviço Secreto, porque não há nada que sustente uma unidade criativa da história, ou mesmo de inventividade da ação. 

O principal problema é a visão patriótica, prejudicando a seriedade das perdas em jogo e como elas afetam quem está fora do círculo local representado, como nenhum dos outros filmes desenvolveu bem os personagens, nenhum risco é sentido, nem pela pátria nem por quem vai salvá-la. Há até mais potencial nesse do que nos outros dois, que buscavam a dramatização só na invasão de patrimônios físicos sagrados (Londres e a Casa Branca) sob uma ameaça externa. Quando esta vira interna, dentro de uma entidade mais dispersa que é o serviço secreto, as possibilidades aumentam, mesmo quando trabalhadas nos clichês da nação contra o homem que a salvou (duas vezes, por sinal). 

Contudo, nem na obviedade o filme engrena, pelo contrário, só sabota o próprio suspense conspiracionista que tenta criar. As caricaturas políticas entregam logo cedo suas faces, e o restante fica só como enrolação de saber qual seria a motivação por trás de tudo, que pela habilidade do roteiro também não é muito difícil de prever. Se ao menos o caminho até lá conseguisse articular bem a intensidade de estar sendo perseguido pelo governo por todos os lados, poderia ser menos enfadonho, mas desde o primeiro, o texto passa a mão na cabeça do protagonista, não há desafio para ele, nem mesmo o de provar sua inocência.

Benning representa o revanchismo americano, agora não direcionado exatamente para terrorismo, mas do mesmo modo buscando resolver tudo na marra, onde os fins justificam os meios. Se é para a América, tudo é possível e inclusive facilitado para ele no processo da ação, limitada de sequências absolutamente sem inspiração. Com a solução de cada problema na palma da mão, sobra o seu desenvolvimento particular, que até tem um tempo reservado de tela para a questão da família e aposentadoria, dois pontos de partida interessantes para buscar criar uma vulnerabilidade nele na circunstância de tensão. 

Infelizmente, o aprofundamento buscado nas interações com seu pai, por exemplo, é raso e pouco objetivo, só inchando mais ainda a duração, e na prática, não oferecendo nenhum tipo de ajuda na resolução dos problemas da história. E a questão da velhice não o limita em nada na questão física, tampouco é preciso ser preenchida pela estratégia militar mais inteligente. Quando aparece, fica apenas no “quem atira primeiro”, em uma espécie de show-off recheado de câmeras lentas focadas nas armas de cima pra baixo, valorizando o poderio bélico e o colocando em um status de superioridade. 

Não sei a quem Ric Roman Waugh quer enganar nesse estilo de filmagem contraditório do discursinho pseudo questionador das mazelas de guerra e do vício americano em buscá-las. O filme se leva a sério demais para a pouquíssima substância material que apresenta e tenta ser maior que o orçamento permite. Os defeitos visuais e qualquer descompromisso técnico demostram bem isso, mas eles poderiam ser compensados no mínimo de gratificação como exercício de suspense, algo que pelo menos o primeiro atinge em algum nível, e o segundo, por não se levar tão a sério, também. 

Agora a decodificação do suposto thriller de espionagem é tão automatizada que engole o filme num marasmo absoluto de 2 horas, que poderiam facilmente ser 1:20 e correr o risco de continuar na mesma situação, tamanha a derivação de elementos. No mais, é um produto de fácil lucro, com uma premissa chamativa ao público médio, principalmente norte-americano, e além de não exigir nada dele, o satisfaz com respostas prontas politicamente superficiais. É um final (de trilogia?) digno do segundo escalão do Domingo Maior.

Invasão ao Serviço Secreto (Angel Has Fallen, EUA – 2019)
Direção: Ric Roman Waugh
Roteiro: Robert Mark Kamen, Ric Roman Waugh
Elenco: Gerard Butler, Frederick Schmidt, Danny Huston, Rocci-Boy Williams, Piper Perabo, Harry Ditson, Linda John-Pierre, Lance Reddick, Ori Pfeffer, Morgan Freeman, Jasmine Hyde, Ian Porter, Laurel Lefkow, Michael Landes, Mark Arnold, Kerry Shale, Tim Blake Nelson, John Strong, Mark Basnight, Jessica Cobley.
Duração: 120min

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