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Crítica | Invencível – Vol. 12: Ainda de Pé

Uma aula de ação.

por Kevin Rick
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Como eu coloquei no subtítulo acima, o décimo segundo volume de Invencível é uma aula de ação. Primeiro que o enredo não faz rodeios. Já começamos Ainda de Pé com um flashback sanguinário, nos levando a um momento-chave na história de Mark: o assassinato do vilão Angstrom Levy. Quando o herói brutalmente matou o antagonista, a série fez um baita estudo de personagem dramático pelo lado da moralidade e dos crescentes problemas de temperamento do protagonista. Mas, agora, como típico de HQs, descobrimos que o vilão está vivo.

E não só vivo, como capitaneando um exército de Invencíveis de várias dimensões para fazer sua vingança. Meio absurdo, meio bobo e meio cômico, o estopim da batalha ou até mesmo o cabeça por trás dela, não é tão importante quanto a experiência da ação. Mas antes de tocar nela, gostaria de abordar o drama envolvido. Diferente de muitas obras que prezam a violência pela violência, Invencível consegue fazer isso com um senso de propósito narrativo e dramatúrgico muito interessante dentro dos dilemas de Mark como herói, suas escolhas de matar ou não matar, de ser humano ou de sucumbir à raiva dos seus genes Viltrumitas, e, claro, a velha trama do super-herói que não consegue balancear o manto com a vida pessoal.

Como disse muitas vezes, é tudo totalmente clichê e retirado de várias histórias da Marvel e da DC, em especial do Homem-Aranha. Kirkman às vezes faz isso como paródia e sátira, mas também como homenagem e desconstrução do que Mark vê como heroísmo – entrando aí o uso da violência com um intuito claro. O autor faz isso com muito cuidado aqui. Em meio ao frenesi de combates e destruição, há sempre ponderação pessoal. Vemos isso na sua relação como mentor para Oliver, tentando evitar seu envolvimento na batalha e o dilema moral, culminando no sensacional desfecho do volume quando Mark decide começar a matar vilões. Existem consequências ao deixar um vilão vivo e traumas que saem dessas situações. O texto dilui isso bem sem roubar o tempo da ação, que é o essencial desse volume, como as emocionantes cenas de aparente morte de Eve e a culpa da mãe de Grayson ao vê-lo hospitalizado – também é preciso elogiar os diálogos que estão afiadíssimos neste volume.

Através do meu texto, talvez possa parecer que Kirkman faz um profundo estudo psicológico da moralidade do herói. Não é exatamente assim. Isso aqui não é Demolidor ou Cavaleiro da Lua. Kirkman é mais emocional do que original, focando em simpatizar o leitor com seus personagens para que essas situações de violência tenham peso. A sequência do funeral de Rex é simplesmente fantástica em contextualizar isso. Simples, mas emocionalmente eficaz. O mesmo vale para a culpa de Grayson ao longo da história; de não salvar Eve, de deixar Oliver entrar na batalha, de não ter matado Angstrom e até mesmo dos vilões terem o seu rosto. Novamente, dramas diretos e facilmente assimiláveis que o roteiro de Kirkman é muito competente em sensibilizar o leitor. Tudo fica mais fácil quando nos importamos com bons personagens.

Depois de tudo isso, podemos falar da ação. Como citei no começo da crítica, a narrativa neste volume não demora para nos situar do tipo de leitura: franca porradaria. As versões paralelas de Grayson aparecem rapidamente e a violência só vai aumentando a partir daí. Ryan Ottley está na mais completa insanidade genial. Ele começa misturando grandes painéis de fundo com um luta global – todos os heróis estão envolvidos – com painéis menores logo no meio da montagem. É como ler uma página dentro de outra página, na qual o artista consegue trazer os diálogos enquanto mantém a sensação de grandiosidade do combate no entorno. E, claro, seus traços continuam um espetáculo de sadismo e agressividade, rendendo alguns momentos de selvageria chocantes.

Mas é quando o Viltrumita Conquest aparece que o décimo segundo volume se transforma em uma obra-prima de ação. Primeiro o mérito para Kirkman de emendar um conflito no outro dessa forma, algo raro em HQs. Existe um escalonamento de tensão muito grande na leitura, indo de um evento hostil a outro sem freios narrativos. E Ottley, então, decide pirar mais ainda. O artista dispõe de vários painéis largos e encenações épicas, assim como um cuidado absurdo para desenhar os voos da batalha com uma sensação de movimentação – notem como ele adora desenhar personagens saindo da folha. Dá quase para ouvir o vento cortando e os prédios sendo demolidos.

Além das “coreografias”, Ottley é visualmente brutal. Cada golpe é impetuoso e cruel. Alguns até asquerosos. O aparecimento de Eve e Oliver na batalha, e seus graves ferimentos, também funcionam muito bem para aumentar o drama. Temos também a personalidade repugnante, perversa e estranhamente carismática de Conquest, além da sua fantástica caracterização, que é outro fator em criar pura aflição. Tudo isso culmina em uma das melhores páginas de ação que já li em quadrinhos, onde Ottley justapõe a imagem do Invencível batendo no Conquest com vários pequenos painéis ao fundo. É de uma fluidez brutal, palpável em sua dor e hostilidade, e o mais próximo de animação que uma HQ pode chegar. O último capítulo do volume traz em foco os traumas desses eventos, finalizando uma obra-prima de ação dramática. É, os Dias Felizes acabaram.

Invencível – Vol. 12: Ainda de Pé (Invincible – Vol. 12: Still Standing) – EUA, 2009

Contendo: Invencível #60 a 65
Roteiro: Robert Kirkman
Arte: Ryan Ottley
Colorista: Bill Crabtree, FCO Plascencia
Letras: Rus Wooton
Editora original: Image Comics
Páginas: 156

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