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Crítica | Invencível – Vol.2: Oito é Demais

por Kevin Rick
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Invencível é um quadrinho que se diverte sendo uma história de super-herói. Robert Kirkman não quer reinventar o gênero, e isso fica evidenciado no primeiro volume recheado de clichês, no qual o autor abraça as convenções clássicas de hq’s heroicas, entregando uma leitura divertida e descontraída que, ironicamente, termina por trazer um sentimento de novidade aos leitores mais assíduos de quadrinhos de heróis. O escritor mantém a estrutura serena em Oito é Demais, infelizmente entregando mais do mesmo, com as piadas da fantástica vida dos heróis se tornando repetitivas e menos criativas. No entanto, Kirkman também começa a dar indícios da violência que se tornaria tão característica de futuros arcos.

O segundo volume, assim como o primeiro, é composto apenas por quatro edições. Acredito que esta foi uma escolha inusitada de Kirkman e da editora já que há pouco espaço para constituir um arco de desenvolvimento interessante nessa quantidade efêmera de capítulos, especialmente por se tratar de um quadrinho que não têm muita coisa narrativamente acontecendo. As duas primeiras edições sustentam o mesmo arranjo de Negócios de Família, oferecendo duas histórias que funcionam como edição única, mantendo o sistema de aventura da semana. Na primeira, Mark enfrenta um alien a pedido de seu pai, enquanto no segundo capítulo, após visitar uma faculdade, coincidentemente, um vilão aparece justamente quando o protagonista está distraído com os acontecimentos de sua vida pessoal.

Claro que Kirkman gira essas comuns fábulas do gênero, parodiando estes clássicos contos. O alien que, obviamente, chama-se Allen, na verdade é bastante gentil, e está exercendo um serviço intergaláctico de testar campeões planetários. Enquanto o vilão surpresa da segunda história não queria machucar ninguém, além de si mesmo. Este último, porém, entrega o primeiro vislumbre de violência gráfica que seria a marca registrada do quadrinho, e também do autor. As duas batalhas são acompanhadas do humor visto anteriormente, brincando com os acontecimentos estereotipados de quadrinhos de heróis. Allen estava exercendo seu trabalho no planeta errado, algo que o pai de Mark, o perfeito super-herói, nunca descobriu, pois não foi capaz de dialogar com o oponente. Mark também cita a imbecilidade dos civis em quadrinhos, que sempre fogem para a direção errada.

Oito é Demais

O problema aqui são dois, a repetição e a previsibilidade. Invencível, até aqui pelo menos, quer ser um quadrinho de herói despreocupado, que diverte por estar se divertindo. Não há nada de errado em constituir uma narrativa simplória que brinca com convenções do gênero. A questão é que o roteiro de Kirkman que a princípio causava diversão com a imprevista série de acontecimentos, agora, torna-se apenas uma reiteração de temas anteriores, pois o leitor espera a paródia. Isto torna a leitura outrora rápida e jovial em uma observação vagarosa e previsível. Acredito que se Kirkman mantivesse esse estilo infantilizado narrativo para sua obra, ela ainda criaria um público fiel e teria uma duração longínqua, afinal, apesar da presumível cadeia de eventos, Invencível continua divertindo, e as interações da vida ordinária de Mark segue sendo o ponto alto da serialização, mas o autor opta por sacudir o enredo na segunda metade do volume. Antes de adentrar nessa parte final, cabe aqui um adendo para a mãe de Mark, a personagem mantém o contraste dos dois mundos da família cômico e agradável, através de sua aceitação e casualidade com as peripécias de seu marido e filho. Sua falta de tensão e curiosidade com o lado fantástico de sua família é hilário.

Kirkman não seria Kirkman se ficasse no lugar-comum. Ele é um dos meus escritores favoritos de quadrinhos pois existem poucos na indústria que trabalham tão bem com expectativas. A segunda metade de Oito é Demais prenuncia os caminhos que as aventuras de Mark irão tomar, mudando completamente o tom inocente da obra, em uma cena que inicia-se como uma paródia da Liga da Justiça, com os Guardiões do Globo sendo convocados para uma reunião, mas, instantaneamente, Kirkman surpreende o leitor primário do quadrinho ao assassinar todos os heróis, indo na contramão do teor sossegado construído. A violência é gráfica e colorida, e à partir daqui, Invencível irá mudar totalmente sua atmosfera. A edição final lida com as consequências destes eventos nos exibindo as repercussões das mortes e um funeral – contendo uma maravilhosa participação de Savage Dragon –, começando a expor temas e diálogos provocativos, afastando-se da superficial ingenuidade.

Minha dificuldade com essa segunda metade é que tudo é apenas construção para eventos futuros. O herói renegado de poderes que roubou um traje, o assassino dos Guardiões do Globo, os vilões que escavaram as covas deles, o papel de Omni-man nessa narrativa, entre outros, são apenas introduzidos ao mote, sem qualquer forma de desenvolvimento ou resolução na narrativa. Tudo isso remete-se a problemática que citei da duração do volume, que passa a impressão de terminar no meio da história. Oito é Demais é um volume aquém da qualidade da série, sendo basicamente um arco de elaboração para histórias posteriores, mas também é o marco inicial da revolução que Kirkman traria à sua obra.

Invencível – Vol. 2: Oito é Demais (Invincible – Vol. 2: Eight is Enough) – EUA, 2003/2004
Contendo: Invencível #5 a 8
Roteiro: Robert Kirkman
Arte: Cory Walker, Ryan Ottley
Cores: Bill Crabtree
Letras: Robert Kirkman
Editora original: Image Comics
Data original de publicação: Julho de 2003 a janeiro de 2004
Editora no Brasil: HQM
Data de publicação no Brasil: janeiro de 2006
Páginas: 128 páginas

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