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Crítica | Invencível – Vol. 4: O Melhor da Classe

por Kevin Rick
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O Melhor da Classe

Escrever sobre o quarto volume de Invencível sem repetir alguns argumentos da crítica de Perfeitos Estranhos é uma tarefa complicada, já que, O Melhor da Classe é basicamente uma reiteração do molde narrativo do terceiro volume — e também dos dois primeiros —, apenas sem a violência gráfica demonstrada durante a luta de Mark com Nolan/Omni-man, apresentando os momentos descontraídos da vida heroica intermediados por tramas mais amadurecidos e angustiantes que vimos Robert Kirkman introduzir no volume anterior. É um mais do mesmo, mas diferentemente de Oito é Demais, que pega as tendências e hábitos do volume inicial, Negócios de Família, e os torna maçantes e menos criativos, aqui, vemos uma repetição da construção narrativa sustentando o mesmo nível de qualidade, exibindo uma leitura de consequências dos eventos trágicos na família Grayson e os obstáculos de continuar uma vida que foi golpeada por eventos catastróficos.

Tratando-se de Mark, o roteiro da HQ continua bebendo da fonte adolescente de quadrinhos clássicos da Marvel e da DC, sempre reproduzindo, em especial, as temáticas habituais das histórias do Homem-Aranha, como por exemplo, a labiríntica rotina escolar/familiar/heroica, com as duas primeiras geralmente ficando em segundo plano do trabalho salvador de vidas. Claro que, conforme tenho reforçado de maneira incessante, Robert Kirkman manuseia os clichês do gênero de modo divertido e mais amadurecido narrativamente. Ora, temos um casamento atlântico com uma rainha peixe que só é consumado matrimonialmente através do coito público, após o pretendente digladiar um monstro marinho; temos um humano que virou uma criatura ciumenta e sanguinária após tentar emular os testes que tornaram sua mulher imortal; uma escolta universal de astronautas à Marte, deparando-se com uma raça marciana hostil; um confronto local, assistido por um criminoso, contra outros criminosos, que têm seguranças super poderosos, incluindo um felino intergaláctico que coleciona vitórias; e por aí vai. Toda a criatividade absurda e humorística de Kirkman florescem neste arco recheado de divertidíssimas histórias auto contidas que remetem-se à atmosfera descontraída e coming of age (he,he) do primeiro volume.

O Melhor da Classe

Aliás, o termo que procuro para definir este arco é balanceamento. Se Negócios de Família é uma leitura agradável e sublime, Oito é Demais é uma elaboração para futuros eventos e Perfeitos Estranhos é o amadurecimento da história, O Melhor da Classe é a amálgama de todos esses elementos dentro da trama perfeitamente equilibrada por um já mais eficiente Robert Kirkman, com superior controle do mote e escopo geral da obra. Já citei a comicidade do quadrinho, e é preciso notar a quantidade colossal de histórias paralelas que Kirkman criou nesse volume, pois além da narrativa principal contra seu pai, que não recebemos qualquer indício de resolução, o autor adentrou no universo de dimensões paralelas puxando personagens conhecidos e oferecendo novos intrigante membros para a série. Também têm-se um alien infiltrado na Terra, um antigo promissor parceiro tornado chefão do crime, o já citado vilão felino intergaláctico, o desenvolvimento do arco de Robô, entre outros vislumbres de futuros problemas para Mark. São todos núcleos feitos de maneira curta e instigante, levando a uma leitura obsessiva com posteriores desenrolamentos narrativos.

Entretanto, a melhor trama do quarto volume é a profundidade emocional da mãe de Mark, Deborah Grayson, levando à alcoolismo, depressão e relacionamento atribulado com seu filho, constituindo ótimos diálogos de culpa e descontentamento. Sempre gostei da sua inserção humorística na obra, numa espécie de janela descompromissada com a vida extraordinária dos seus familiares, mas Kirkman gira o arco da personagem para ares esmorecidos, abrindo um leque de pontos familiares que podem progredir em volumes subsequentes.

Ainda gosto mais do volume anterior, principalmente pelo desenrolar súbito de acontecimentos, proporcionando a melhor cena da serialização neste ponto, que é o confronto de Mark e Nolan, mas O Melhor da Classe é um belíssimo estudo de personagem, ou melhor dizendo, do âmbito familiar. O amadurecimento da história é acompanhado do crescimento artístico de Kirkman, comandando seu universo com mais destreza e balanceamento de gêneros. Só não gosto mais do volume, ironicamente, pelo mesmo motivo de exaltá-lo, que é a falta de um impulso narrativo ou um evento memorável, como acontece em Perfeitos Estranhos. Ainda assim, o quarto volume da HQ é mais uma ótima adição a contínua divertida e intrigante jornada do Invencível.

Invencível – Vol. 4: O Melhor da Classe (Invincible – Vol. 4: Head of the Class ) – EUA, 2004

Contendo: Invencível #14 a 19
Roteiro: Robert Kirkman
Arte: Ryan Ottley
Colorista: Bill Crabtree
Letras: Robert Kirkman
Editora original: Image Comics
Data original de publicação: Junho a novembro de 2004
Editora no Brasil: HQM
Data de publicação no Brasil: janeiro de 2012
Páginas: 172

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