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Crítica | Irmão do Jorel – 1ª Temporada

Uma família estranha em uma série sensacional.

por Luiz Santiago
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Produzida numa parceria do Cartoon Network (Brasil) com a TV Quase e o Copa Studio, a série Irmão do Jorel é um verdadeiro orgulho nacional no ramo das animações para a televisão. Criada por Juliano Enrico, a série começou a ganhar forma após o seu idealizador vencer o Pitching Cartoon Network/Forum Brasil para projeto de séries, em animação ou live-action, voltados para crianças de 7 a 11 anos. Entre 2009 e 2013, o show esteve em intensa fase de produção, e inicialmente deveria chegar à TV com apenas 13 episódios ainda em 2013, mas a produção adiou o lançamento para 22 de setembro de 2014, aumentando o número de capítulos para 26.

Juliano Enrico já conhecia bem a família maluca que criou para a série, pois as ideias centrais de todos esses personagens vinham sendo abordadas por ele nas tirinhas que publicou na revista independente Quase entre 2002 e 2009. Além disso, essas figuras são fortemente inspiradas em coisas da vida pessoal do artista. Ele se utilizou de fotografias de infância e do fato de ser irmão de alguém muito popular, de modo que as pessoas o conheciam por ser “irmão de alguém”, muitas vezes nem sabendo o seu nome. De cara, houve a identificação de muita gente Brasil afora com essa situação do protagonista, e não apenas por pessoas que tinham irmãos populares, mas maridos, esposas, pais, mães, tios… enfim, alguém muito próximo.

O criador da série também diz em inúmeras entrevistas que buscou não só os arquétipos e estereótipos do lar para criar seus personagens principais, mas também experiências conjuntas, objetos e animais de estimação da família, como o cachorro Tosh (cujo nome vem do cantor Peter Tosh somado à aparência do cão-dragão de A História sem Fim) ou os patos de estimação da Vovó Juju, que foram inspirados na criação de patos que a avó de Juliano Enrico tinha no quintal da casa. A essência da série é uma costura hilária entre o lado pessoal de seu criador e elementos da música, do cinema, da televisão e das sociedades dos anos 1980 e 1990, o que torna o programa nostálgico e ao mesmo tempo contemporâneo pelas ideias que defende, pelas críticas que faz e pela sátira frequente à nossa realidade.

A série se desenvolve em torno de uma família composta pelo casal Danusa (Tânia Gaidarji, a mãe atleta/dançarina/dona de casa descolada) e Edson (César Marchetti, o pai que foi ator durante a ditadura militar e vive contando histórias desse período, decepcionado com o quanto seus ex-companheiros de luta se “venderam para o sistema”, especialmente Roberto Perdigoto); pelos filhos Nico (Hugo Picchi, o filho lento e desligado que tem uma banda e adora videogames), Jorel (Juliano Enrico, o perfeitinho da família, o popular, aquele a quem todos conhecem e amam) e Irmão do Jorel (Andrei Duarte, o caçulinha protagonista, em torno do qual a maioria dos eventos se passa); e pelas avós Gigi (Cecília Lemes, viciada em TV e fã de um personagem chamado Steve Magal) e Juju (Melissa Garcia, a fofurinha em pessoa que ama comidas — principalmente abacate — e as coisinhas simples da vida).

Cada integrante do elenco faz um trabalho absurdo de aplicação de voz para os personagens. O processo de produção da série facilita, inclusive, a expressividade, porque o roteiro é gravado pelo elenco e a animação é feita com base nessas interpretações, o que explica a fantástica identificação facial e gestual dos desenhos. Mas mesmo num grupo tão afiado como o que temos aqui, duas vozes se destacam: a do Irmão do Jorel e a da Vovó Juju. O timbre de voz que cada um desses atores encontrou para seus personagens, a inflexão vocal, as grandes expressões de emoção e os pequenos bordões ou onomatopeias recorrentes de cada um são absolutamente impagáveis. Além disso, a relação entre os dois personagens é de uma sutileza cômica e meio maluca que encanta de imediato. São os meus dois favoritos da série e a cada episódio eu me surpreendo, rio e até me emociono com as coisas que eles fazem ou pelas quais eles passam.

Em Irmão do Jorel nós encontramos referências imagéticas e narrativas a um número muito grande de filmes, tornando a série também um grande atrativo para cinéfilos. Os episódios não são organizados em uma continuidade óbvia e os eventos de cada capítulo são tão inusitados e insanos que fica difícil imaginá-los como “parte da vida real desses indivíduos“, mas essa é a graça do show. Uma mistura absurda entre o nonsense, a fantasia, a comédia, a ficção científica e a cultura pop é o que faz desse Universo algo único e delicioso de se acompanhar. As várias técnicas de animação utilizadas, os momentos musicais e o modo inteligente com metáforas, críticas e piadas de diversos níveis são feitas no decorrer da temporada tornam-se outros atrativos. É evidente que existem episódios mais inspirados que outros e que nem todos os momentos se elevam assim tão grandemente, mas nessa temporada inicial, a série consegue ser genuinamente engaçada a maior parte do tempo, e duvido muito que tenha alguém que passe por tudo isso e não saia maluco pela vida repetindo a vozinha da Vovó Juju ou os gritinhos de animação do Irmão do Jorel. É impossível, bem. Irmão do Jorel é um verdadeiro xodó da animação brasileira para a TV. Que orgulho!

Irmão do Jorel – 1ª Temporada (Brasil, 2014 – 2015)
Criador: Juliano Enrico
Direção: Juliano Enrico, Fernanda Tomasoni Laender, Pablo Zucarrino, Hernán LaGreca
Roteiro: Juliano Enrico, Caíto Mainier, Daniel Furlan, Arnaldo Branco, Valentina Castello Branco, Victor Gaspari Canela, Vini Wolf, Zé Brandão
Elenco: Melissa Garcia, Andrei Duarte, César Marchetti, Tânia Gaidarji, Cecília Lemes, Hugo Picchi, Juliano Enrico, Daniel Furlan, Jussara Marques, Cassius Romero, Alfredo Rollo, Raul Chequer
Duração: 26 episódios de 11 minutos cada

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