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Crítica | It’s Always Sunny in Philadelphia – 1ª Temporada

por Roberto Honorato
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Vendo a trajetória de It’s Always Sunny in Philadelphia, é difícil conceber como a série quase não foi para a frente e correu o risco de ser cancelada depois de apenas uma temporada com baixa audiência. Até o momento dessa crítica, a série já está em sua décima quarta temporada, e teve uma renovação de mais quatro, o que a torna a comédia mais longeva da história da TV. Mas o mais impressionante mesmo é como mais de uma década não diminuiu o fôlego dessa série, que encontrou poucos tropeços de qualidade no caminho.

A ideia surgiu da dupla de amigos Rob McElhenney e Glenn Howerton, atores desempregados que convidaram seu amigo, Charlie Day, para o piloto de uma série de comédia sobre… atores desempregados. Não era a ideia mais original, e depois de conseguirem um contrato com a FOX, a premissa foi mudada, transformando-se na história de um grupo de amigos no comando de um bar decadente em um bairro da Filadélfia. Para completar o elenco de protagonistas, Rob e Glenn tiveram a ideia de chamar uma mulher como o quarto membro do que logo seria conhecido como a “gangue” que estrela todos os episódios, e assim tivemos a inclusão de Kaitlin Olson, a única pessoa do elenco principal que não era originalmente amiga pessoal dos criadores, mas ela foi muito bem nos testes e casou perfeitamente com o humor exigido pela série.

Assim, temos a gangue do Paddy’s Pub, composta pelo zelador Charlie Kelly (Charlie Day); os donos do bar, Mac (Rob McElhenney) e Dennis Reynolds (Glenn Howerton), e a garçonete Dee Reynolds (Kaitlin Olson), também irmã de Dennis. A dinâmica entre eles é o primeiro enorme ponto de ruptura entre Always Sunny e outras comédias do gênero, já que nem mesmo a disfuncionalidade de uma família como os Bluth em Arrested Development atinge os níveis de narcisismo, egoísmo e desonestidade da gangue, sem contar o abuso de substâncias ilícitas, que nem a família da série Shameless é capaz de aguentar. E faço essas comparações porque a intenção de McElhenney e Howerton é exatamente essa, construir a exata antítese da sitcom, trocando abraços e lições de moral por traições na qual um amigo pode estar literalmente esfaqueando as costas do outro.

Essa mistura entre personagens sem qualquer traço de ética ou moral com a produção de baixo orçamento das primeiras temporadas (o episódio piloto original foi feito por apenas duzentos dólares, com toda a equipe sendo os atores se revezando entre interpretar os personagens e segurar a câmera), é o que fez da série uma experiência diferente, sem a pretensão de estúdios caros ou convidados especiais de grande nome (o que muda no futuro, mas é incorporado sem afetar a qualidade), e podemos ver isso até na escolha de músicas, todas aproveitadas de domínio público, o que cria um ambiente de produção independente mais atraente e orgânica. Até mesmo o decadente Paddy’s Pub, o bar da gangue, na verdade é um cenário emprestado de How I Met Your Mother, já que é o mesmo do MacLaren’s Pub, mas com menos mesas, cadeiras e clientes – e higiene.

A sujeira não está somente na superfície. As premissas são a coisa mais absurda e politicamente incorreta que você pode imaginar, e o enredo é desenvolvido da única forma que Always Sunny conhece, sem que qualquer lição seja aprendida. Logo no primeiro episódio, chamado The Gang Gets Racist(A gangue fica racista), temos Charlie procurando amigos negros para provar que não é racista, enquanto o resto da gangue contrata um amigo de Dee, também negro, para promover o bar. Com um tópico delicado como esse, a série consegue se salvar de “cancelamentos” pela forma que trata seus protagonistas, quatro brancos ignorantes, como o alvo da piada, nunca os piadistas.

Logo torna-se normal assistir episódios em que a gangue se dá bem às custas de outras pessoas, como acontece em “Charlie Gets Molested”, e mesmo não acontecendo tanto nas primeiras temporadas, onde o padrão é a gangue se dando mal, com o passar dos anos, cada vez mais personagens tem sua vida arruinada pelos protagonistas. Se tivesse que escolher um episódio marcante dessa temporada inicial seria o ridículo “Charlie Has Cancer”, onde, como diz o título do episódio, Charlie acredita ter câncer. Mas o que faz dele relevante é estabelecer um tom mais consistente para a série, além de algumas piadas e personagens recorrentes, introduzindo a extravagante atriz fracassada Artemis (Artemis Pebdani) e Carmen (Brittany Daniel), a personagem transexual que servia apenas como estereótipos ruins nas temporadas iniciais, mas tem um papel essencial para um desenvolvimento no futuro amadurecimento cômico da série, que aprende a fazer piada com tudo de uma maneira menos óbvia e preconceituosa.

Mesmo engraçada, a primeira temporada de It’s Always Sunny in Philadelphia tinha suas irregularidades, com um humor irreverente muito bom, mas ainda sem foco e necessitando de polimento, em um início onde a dinâmica entre personagens estava sendo desenvolvida aos poucos. A temporada seguinte trouxe uma das maiores mudanças da série, uma que demorou para realmente fazer efeito, mas quando fez, transformou-a do sucesso que é hoje.

It’s Always Sunny in Philadelphia – 1ª Temporada – EUA. 4 de Agosto de 2005 a 13 de Setembro de 2005
Criadores: Glenn Howerton, Rob McElhenney
Diretores: John Fortenberry, Daniel Attias, Rob McElhenney
Roteiristas: Glenn Howerton, Rob McElhenney, Charlie Day
Elenco: Charlie Day, Glenn Howerton, Rob McElhenney, Kaitlin Olson, Mary Elizabeth Ellis, David Hornsby, Artemis Pebdani, Lynne Marie Stewart, David Zdinich, Sandy Martin, Lance Barber, Andrew Friedman, Gregory Scott Cummins, Jimmi Simpson, Nate Mooney, Michael Naughton, Catherine Reitman, Travis Schuldt, T.J.Hoban, Thesy Surface, Chad L. Coleman, Brittany Daniel, Anne Archer, Dave Foley, Shelly Desai, Jessica Collins, Mary Lynn Rajskub, David Gueriera, Nick Wechsler
Duração: 7 episódios de 22 Minutos

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