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Crítica | Jack (1996)

por Rafael Lima
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Quando se fala de Francis Ford Coppola, com certeza o que vêm na memória da maioria é o estilo operístico do cineasta, empregado em suas obras mais famosas, como a trilogia O Poderoso chefão; Apocalypse Now, ou mesmo Drácula de Bram Stoker. Entretanto, existe um lado de Coppola não tão famoso, que parece interessar-se pelo contraste entre o lado lúdico da juventude e seus pequenos dramas, com as preocupações da vida adulta. É esse lado do diretor que pode ser visto em obras como Agora Você é um Homem (1966) ou Peggy Sue- Seu Passado a Espera (1986), e que provavelmente o atraiu para Jack, que viria a se tornar um dos maiores fracassos de público e crítica da carreira de Copolla.

Na trama, o bebê de Karen e Brian Powell (Diane Lane e Brian Kerwin), nasce depois de apenas dois meses de gestação, surpreendendo os médicos e o casal. Logo, a criança batizada de Jack, é diagnosticada como sendo portadora de uma condição rara, que a faz envelhecer quatro vezes mais rápido que uma pessoa normal. Dez anos depois, Jack (Robin Williams), tendo sido mantido isolado do resto do mundo por seus pais, possui o corpo de um homem de quarenta anos, ainda que naturalmente tenha a mentalidade de um menino de dez. Seguindo o conselho do tutor de Jack, o Sr. Woodruff (Bill Cosby), os pais do menino decidem enviá-lo para a escola para que ele possa ter uma vida normal, apesar do estranhamento que sua aparência possa provocar nas outras crianças.

Escrito por James DeMonaco e Gary Nadeau, Jack configura-se desde os seus minutos iniciais como uma obra de caráter fantástico, para que o espectador aceite mais rapidamente que passaremos quase duas horas vendo um homem adulto comportar-se como uma criança de dez anos particularmente ingênua. A cena inicial, onde a personagem de Diane Lane entra em trabalho de parto durante uma festa de Dia das Bruxas, enquanto é observada por duas mulheres fantasiadas de gato que metralham comentários maldosos (que não ficariam fora de lugar em uma antiga animação da Disney), estabelece o tom de fábula da obra. Dito isso, o filme lida com uma questão mais objetiva e menos lúdica, que é a finitude da vida, pois somos lembrados o tempo todo que o protagonista não vai viver tanto quanto as outras crianças, algumas vezes até de forma brutal. 

Essa consciência de finitude acelerada da vida é indispensável para a mensagem que o filme quer transmitir, mas infelizmente, o roteiro e a direção de Copolla parecem encontrar dificuldade em equilibrar o tom fantástico e leve proposto, com a seriedade de seu principal arco dramático, o que também atrapalha o estabelecimento da suspensão de descrença que a premissa exige. Um dos principais problemas que parecem prejudicar este equilíbrio é a dificuldade do roteiro em estabelecer veracidade para as relações de seus personagens para que as recompensas emocionais soem genuínas. Por exemplo, o filme falha em estabelecer uma conexão real entre o protagonista e os seus novos amigos da escola, especialmente com Louie (Adam Zolotin), que faz as vezes de melhor amigo. Alguns podem até se divertir, com Jack se enturmando com os garotos em um concurso de peido, ou comprando revistas pornôs para eles, mas é difícil acreditar que o que vemos ali conduziria ao meloso 3º ato. Da mesma forma, toda a subtrama envolvendo a mãe de Louie (Fran Drescher), soa deslocada, especialmente em uma passagem situada em um bar, já que tais passagens mostrando o choque de Jack com a vida adulta apenas geram situações desconfortáveis e constrangedoras que não contribuem para a trama ou para o desenvolvimento de seus personagens.

A direção de Copolla se esforça para manter o ar de fábula que o início do filme propõe, encontrando os seus melhores momentos quando compreende que essa atmosfera de inocência fantástica dialoga com a sensação de isolamento do protagonista. As passagens onde Jack vê o mundo exterior da janela de seu quarto, vide o trecho no início, onde as crianças observam a casa onde vive um menino gigante; ou uma passagem posterior do filme, onde o protagonista vê uma borboleta entrando pela janela do quarto mostram o lirismo que este tom mais fabular da história carrega. Mas infelizmente, o diretor muitas vezes se entrega a clichês emocionais, como o crescendo de uma trilha sonora edificante nos pontos de virada do filme, em manobras que soam muito mais manipuladoras do que propriamente passos orgânicos do desenvolvimento dramático da narrativa.

O que impede Jack de desabar completamente, é que boa parte de seu elenco está muito bem em cena. Diane Lane é um grande destaque por conseguir incorporar de forma sutil e delicada os medos e preocupações da Sra. Powell, ao mesmo tempo em que demonstra o amor incondicional pelo filho, como vemos em uma cena simples, porém tocante, onde ela brinca com Jack vestindo uma roupa improvisada de Power Ranger. Mas é claro, é o saudoso Robin Williams que corre os maiores riscos com esse projeto. Ao ter que interpretar um menino de dez anos, o ator poderia facilmente ter escorregado para um desempenho ridículo, ou pior, de mau gosto. Mas Williams consegue construir o personagem de forma satisfatória entregando uma postura retraída, que combina com o temor do protagonista diante do mundo novo que encontra, mas ainda conferindo inocência e energia para a sua performance, sendo o principal responsável por permitir que o público mantenha a suspensão de descrença, mesmo diante da crise de identidade tonal da obra.

Jack acaba sendo um daqueles filmes que é menos emocionante do que acha que é, por não conseguir construir a sua narrativa para alcançar de forma satisfatória as recompensas emocionais que almeja. Entretanto, apesar de seus defeitos, e da incompreensão de muitos de como Francis Ford Copolla possa ter dirigido um filme tão pedestre e equivocado, a verdade é que, qualidade á parte, o longa metragem é um animal muito menos estranho na filmografia desse grande cineasta do que aparenta, devido as temáticas que apresenta.

Jack (Estados Unidos, 1996)
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: James DeMonaco, Gary Nadeau
Elenco: Robin Williams, Diane Lane, Brian Kerwin, Jennifer Lopez, Bill Cosby, Fran Drescher, Adam Zolotin, Todd Bosley, Mario Yedidia
Duração: 113 Minutos.

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