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Crítica | Jackass para Sempre

Idade não é documento.

por Ritter Fan
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A idade pode até trazer serenidade e sabedoria, mas é muito mais divertido quando ela não simultaneamente retira nossa juventude mental, permitindo-nos continuar a não nos levar muito a sério e, volta e meia, termos o direito de chutar o pau da barraca e fazer a loucura que nos der na telha desde que, claro, não prejudiquemos terceiros. No caso de Johnny Knoxville e companhia, agora na casa dos 50 anos, isso significa mantê-los tão escrachados, repugnantes e destemidos como antes, mesmo que os anos tragam as limitações físicas naturais que todos temos que enfrentar mais cedo ou mais tarde, especialmente quando, do outro lado, há um touro enfurecido vindo em nossa direção.

E, para provar que a idade não é mais do que um inconveniente detalhe para o pessoal do Jackass, eis que 20 anos depois do primeiro filme e doze anos depois do terceiro, eles retornam para mais zoeira escatológica, nojenta, violenta e perigosa, aproveitando para introduzir uma nova geração de “atores” para possivelmente continuar carregando a tocha do programa de TV criado por Jeff Tremaine, Spike Jonze e Knoxville no ano 2000 que velozmente se tornou um verdadeiro império do entretenimento. Começando com um elaborado e hilário – o melhor, na verdade! – preâmbulo em que o pênis de Chris Pontius é transformado em Peniszilla em um cenário miniatura que é entrecortado com filmagens repletas de efeitos especiais práticos que apresentam e também pisoteiam, esmagam e explodem o elenco, o filme mantém a estrutura clássica de esquetes compostas dos desafios mais enlouquecidos e das pegadinhas entre os membros da produção e também em relação a terceiros.

A qualidade da produção continua alta, na linha do que Jackass 2 estabeleceu, com o costumeiro bom trabalho de câmera – agora também contando com drones muito bem colocados – para capturar todos os mais indiscretos detalhes do que esses malucos se propõem a fazer e todo o verniz cinematográfico necessário para que o longa não pareça um programa de TV com minutagem avantajada. Claro que, quando falo qualidade da produção, quero dizer a qualidade possível e desejada para uma obra com essa proposta. Não se pode exigir sofisticação de cenas como a que transforma o saco escrotal de Preston Lacy em uma pera de treinamento de boxe ou como a que coloca quase todo o elenco para vomitar leite colorido. A tosqueira faz parte da proposta e ela permanece presente aqui, mas com aquele bem-vindo verniz que a eleva a algo que podemos, talvez, chamar de arte.

No entanto, seja em razão da idade da equipe, seja em razão de uma tentativa de universalizar algo que não é para ser universalizado, pois Jackass simplesmente não é para todo mundo, notei uma certa acomodação dos desafios a um denominador comum não tão extremo quanto os filmes anteriores. Sim, ainda temos Knoxville enfrentando seu tradicional touro e ainda há nojeira o suficiente para fazer o cinegrafista de cabelo branco vomitar diversas vezes, mas falta aquele esquete realmente marcante e original como o bungee jump de banheiro químico do filme anterior. Nem mesmo a equipe mais jovem é “premiada” com desafios mais arriscados, seja no quesito dor, escatologia ou outro qualquer.

Aliás, o grupo mais jovem que é apresentado no filme tem pouquíssimo espaço para dizer a que veio. Eles parecem estar ali apenas para fazer número, pois o foco permanece em Knoxville, Pontius, Lacy, Steve-O, Dave England, Wee Man, e Ehren McGhehey (Bam Margera, infelizmente, teve seu contrato rescindido durante a produção em razão do uso de drogas e sua presença é marginal, só em sequências que já haviam sido filmadas e, mesmo assim, com a montagem fazendo de tudo para eliminá-lo dos frames), algo que é até compreensível dada a legião de fãs da franquia, mas que não faz muito sentido se pensarmos em legado, que é a única razão possível para eles estarem ali.

Jackass para Sempre, em tese o último da série com a equipe original (será que eles terão coragem de retornar em mais uma década?), continua sendo muito divertido, por vezes surpreendente, ainda que, no conjunto, pareça mais domado que os longas anteriores. Não é uma surpresa dado o tempo que se passou, mas a nova geração, que poderia ter carregado o fardo mais pesado e tido um real teste de fogo aqui, foi deixada de lado para privilegiar os veteranos. Seja como for, o quarto longa da longeva e deliciosamente repugnante franquia de adultos querendo eternamente ser adolescentes é a prova cabal de que idade não é documento.

Jackass para Sempre (Jackass Forever – EUA, 2022)
Direção: Jeff Tremaine
Roteiro: Eric André, Colton Dunn, Spike Jonze, Johnny Knoxville, Bam Margera, Steve-O (baseado em criação de Jeff Tremaine, Johnny Knoxville e Spike Jonze)
Com: Johnny Knoxville, Steve-O, Chris Pontius, Dave England, Wee Man, Ehren McGhehey (Danger Ehren), Preston Lacy, Sean “Poopies” McInerney, Zach Holmes, Jasper Dolphin, Eric Manaka, Rachel Wolfson, Compston “Dark Shark” Wilson, Nick Merlino, David Gravette, Aaron “Jaws” Homoki, Natalie Palamides, Courtney Pauroso, Jules Sylvester, Rob Dyrdek, Eric André, Francis Ngannou, Danielle O’Toole, P.K. Subban, Tory Belleci, Machine Gun Kelly (Colson Baker), Tyler the Creator, Brandon Leffler, Michael Rooney, Scott Handley, Gary Leffew, Parks Bonifay
Duração: 96 min.

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