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Crítica | Jago & Litefoot – 1ª Temporada

Procurando respostas para o impossível.

por Luiz Santiago
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As duas equipes de Doctor Who estabelecidas no século XIX (a Paternoster Gang e a dupla da qual analisamos a série na presente crítica) foram pensadas no Universo Expandido como diferentes experimentos saídos da literatura gótica, mais especificamente, alocadas na literatura policial e detetivesca (às vezes com um quê de fantasia e sci-fi) que se estruturou em meados daquele mesmo século pelas mão de Poe, em Os Assassinatos na Rua Morgue (1841). Quando surgiram pela primeira na televisão, no arco The Talons of Weng-Chiang, Henry Gordon Jago e George Litefoot já estavam envoltos em todos esses bons elementos, podendo protagonizar uma história sombria e, de maneira bastante curiosa (entre o humor caótico de um e o dever rígido de outro) firmarem uma amizade que resultaria em constantes investigações de estranhas situações.

Em 2009, a Big Finish produziu The Mahogany Murderers para a série Crônicas dos Companions, um capítulo que gerou uma grande quantidade de pedidos dos espectadores para que a dupla voltasse a se reunir em outros áudios. No ano seguinte, estreaou a série Jago & Litefoot, com 4 episódios de aventuras autocontidas. No geral, esta é uma temporada com boas histórias, mas sem atrativos para além do básico. O que realmente se destaca aqui é a alta qualidade da produção de som (trilha sonora, edição e mixagem) mais o elenco, com louros absolutos para os protagonistas vividos por Christopher Benjamin e Trevor Baxter, reprisando com primazia os seus icônicos papéis da Série Clássica.

No episódio de abertura, The Bloodless Soldier, escrito por Justin Richards, temos um grupo de soldados retornando para a Inglaterra após prestar serviço militar na Índia. Infelizmente, eles trazem algo terrível consigo. Esta é uma história de atmosfera perfeita para a reintrodução dos personagens e criação de um ambiente familiar, o local onde a série se passaria. Aqui, vemos os personagens encontrando-se para beber e comer, enquanto um militar arranhado por uma criatura na Ásia, começa a sofrer transformações. Em outras palavras, começa a virar um lobisomem. O enredo parece não se preocupar muito com o vilão ou com os impactos disso para a cidade de Londres. É compreensível que a grande atenção fosse a relação entre os dois amigos e o estabelecimento de um marcante cenário e de coadjuvantes adequados para avançar com a série. Mas tendo isso em mente, seria melhor que o primeiro inimigo fosse mais simples. Pelo menos evitava a impressão de que está faltando um pedaço na história, ou a decepção de um final que não paga a promessa de desenvolvimento.

The Bellova Devil, de Alan Barnes, traz em seu início um clima bem humorado, com uma porção de piadas envolvendo demônios, vampiros e seres das trevas que nos arrancam boas risadas. A problemática surge quando um corpo é encontrado no metrô de Londres trajando uniforme de gala completo. O problema é que o corpo pertence a Reginald Colville, um homem que foi declarado morto seis semanas antes. Em uma tentativa de resolver o mistério, Jago e Litefoot se tornam “ladrões de corpos”, o que os colocará na trilha de alguns búlgaros e de um certo clube macabro, à la De Olhos Bem Fechados, mas com um propósito que não tem a ver com a libido. Depois de determinado momento, a trama fica chata e a história não consegue se tornar memorável, embora tenha boas imagens e um bom clima de terror.

Mais ou menos no mesmo caminho vem o episódio The Spirit Trap, de Jonathan Morris. Aqui, o enredo pega uma das grandes febres do século XIX, que eram as sessões espíritas, e foca na vida de uma mulher que, supostamente, falava com as almas que partiram. Mas é claro que isso tinha outra explicação. Por mais que a proposta seja boa e até a atuação de Jago e Litefoot seja bem divertida, o vilão em questão e até mesmo a maneira como o autor resolve o problema, não é digno de nota. Já o episódio que encerra a temporada, The Similarity Engine, de Andy Lane, tem muitos pontos positivos, com direito a uma finalização épica e o retorno de Heinrich Tulp, lá de The Mahogany Murderers, que encontra o seu definitivo fim aqui. A ideia de um personagem que esteve no futuro e que tenta replicar as grandes invenções no passado, com outros recursos, já cria uma atmosfera diferente e torna as discussões bem mais instigantes. Uma trama com a importância que vai muito além de seu tempo, numa discussão sobre tecnologia e uso de determinadas invenções por “pessoas erradas” que é a tônica em muitas áreas da ciência em nosso século.

Em seu primeiro ano, Jago & Litefoot explorou algumas situações urbanas e mitológicas/fantasiosas típicas do século XIX (no sentido de serem populares, recorrente na boa das massas, nos periódicos sensacionalistas ou na literatura de gênero), colocando a dupla protagonista para investigar — às vezes de maneira bem desajeitada, porque eles ainda não são, exatamente, experientes nisso — e tentar entender esses fenômenos. As melhores aventuras são as que abrem e fecham a temporada, mas no geral, temos um saldo positivo aqui.

Jago & Litefoot – 1ª Temporada (Jago & Litefoot: Series One) — Reino Unido, 30 de junho de 2010
Direção: Lisa Bowerman, John Ainsworth
Roteiro: Justin Richards, Alan Barnes, Jonathan Morris, Andy Lane
Elenco: Christopher Benjamin, Trevor Baxter, Lisa Bowerman, Conrad Asquith, Toby Longworth, John Banks, Alex Lowe, Robin Bowerman, Alex Mallinson, Stephen Thorne, Duncan Wisbey, Peter Silverleaf, Janet Henfrey, Lex Shrapnel, John Ainsworth, Matt Steer, David Collings
Duração: 4 episódios de c. de 60 minutos, cada um

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