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Crítica | Janela Indiscreta (1998)

por Luiz Santiago
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Janela Indiscreta não é um filme de roteiro fácil. Seu texto explora o tédio e acompanha a recuperação de um homem que, após um acidente, desenvolve um curioso passatempo que é observar por longas horas o cotidiano dos vizinhos através da janela de seu apartamento. O desafio do diretor ao realizar este filme é trabalhar com o diminuto espaço (a sensação de claustrofobia é um ingrediente essencial para a trama), tornar dinâmico o comportamento voyeur do protagonista e, ao mesmo tempo, criar um suspense que ganhe força progressivamente, resultado ‘acidental’ da observação a princípio mista de tédio e curiosidade.

Ao refilmar a obra de Alfred Hitchcock lançada em 1954, Jeff Bleckner (diretor com longa experiência na TV) tenta juntar da maneira mais pessoal possível esses elementos básicos do texto de Janela Indiscreta, aludindo aqui e ali à obra original mas dando à fita uma identidade típica dos anos 90, tornando-a um mistério menos glamouroso do que aquele que o Mestre do Suspense havia realizado.

Com elementos tecnológicos de ponta para a época e uma oportuna discussão sobre ciência – resultado da presença de Christopher Reeve no elenco, de quem falaremos mais adiante –, o diretor guiou o filme por uma linha de superação do homem mediante suas dificuldades físicas e explorou as paixões do protagonista de maneira bastante comum, quase rasa, um padrão também observado na forma como o próprio personagem entendia e julgava os vizinhos, objetos de sua observação diária.

A presença de Christopher Reeve (o eterno Superman) no elenco faz toda a diferença na composição do personagem principal. A essa época, o ator estava de fato tetraplégico, após um acidente sofrido em 1995, e não há como o público ignorar essa questão ao ver o papel que o ator interpreta aqui. O impacto desta questão traz um tipo de veracidade trágica e ao mesmo tempo genuína que nos faz ver o filme, ao menos por este lado, com outros olhos. Mesmo o diretor falhando bastante na condução do suspense à la Hitchcock (ah, esses remakes…) o espectador não desgruda os olhos da tela pela presença de Reeve, que, mesmo bastante limitado por sua condição, dava vida a um personagem de grande amplitude dramática.

Talvez por esse motivo o texto dessa versão de Janela Indiscreta tenha focado no lado mais humano, banal e urbano dos personagens, desviando um pouco o interesse pelo ambiente – fica evidente que o verdadeiro espetáculo ali era a personagem de Reeve e não o espaço de observação em si, algo que na versão de 1954 seguia em equilíbrio ou pendia para o lado do ambiente – e destacando-se mais na criação de uma atmosfera para o homem que estava lutando por sua recuperação física.

O jogo do crédito e descrédito de opinião é trabalhado de forma interessante no decorrer da história e devo dizer que existe bom uso da tecnologia a favor do mocinho, mesmo que esta tecnologia acabe por dividir com ele a importância dramática no contexto da obra e não apenas servir-lhe de motivo dramático. Mesmo assim, a armadilha não estraga a obra por completo, que sofre mais com a fata de rigor na condução do suspense e exploração estética do espaço externo do que no cotidiano de Jason Kemp (personagem de Reeve) que acredita quase cegamente na ciência e crê que um dia irá voltar a andar.

Em alguns momentos do filme temos inspirados planos das janelas à frente do apartamento de Kemp e uma fotografia que nos remete imediatamente ao filme de Hitchcock (sensação pontualmente impulsionada pela trilha sonora), mas esses momentos são raros e pouco ajudam na construção de uma opinião final positiva sobre a fita, que, embora traga atuações das quais nos lembraremos, não se livra da bandeira que fincamos com bastante razão em toda e qualquer refilmagem de grandes clássicos: isso jamais deveria ter sido realizado.

Janela Indiscreta (Rear Window) – EUA, 1998
Direção:
Jeff Bleckner
Roteiro: Cornell Woolrich, Eric Overmyer, Larry Gross
Elenco: Christopher Reeve, Daryl Hannah, Robert Forster, Ruben Santiago-Hudson, Anne Twomey, Ritchie Coster, Allison Mackie, Ali Marsh, Julie Baker, Maggie Kiley, Peter Giles
Duração: 89 min.

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