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Crítica | Jantar na América

por Luiz Santiago
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O tipo de impacto causado pela base cômica e desbocada que Jantar na América nos traz desde os seus primeiros minutos tenderá a definir aqueles que gostarão da obra e também os seus desafetos. Isso porque o filme, escrito e dirigido por Adam Rehmeier, irá delinear todos os ingredientes recorrentes já no início do primeiro ato: o punk drogado e agressivo Simon (Kyle Gallner) ameaçando todo mundo; e a boazinha e lenta Patty (Emily Skeggs) que aparece como uma salvação imediata para o jovem procurado, mas acaba se tornando uma outra coisa. Algo inesperado tanto para ele, quanto para ela.

Mas é na surpresa que Jantar na América nos pega. Se por um lado é verdade que o texto e a direção cultivam a atitude agressiva do protagonista (bem, ele é punk, então tem que agir da pior forma possível, aparentemente), por outro, o espectador verá somar-se a essa situação inicial uma interessantíssima e improvável relação entre Simon e Patty, sendo o produto de tudo o que eles fazem juntos e a grande diferença de personalidade entre eles aquele ingrediente mágico capaz de aquecer os corações e brincar de modo elogiável com os clichês do jovem rebelde, da maconha, do tráfico e de ações relacionadas.

É um filme do tipo “menino mal encontra garota do bem” que não tem vergonha de si mesmo e nem abandona as coisas ligadas ao personagem principal apenas para fazê-lo entrar em uma redenção moralista, encaixando-se no modelo ajeitadinho de sociedade e família onde cresceu. O fato é que Simon e Patty são deslocados do mundo de diferentes maneiras, e é exatamente o fato de não se sentirem confortáveis com esse mundo que os cerca que faz o filme ter combustível para queimar até o final, mais ou menos com uma trajetória de apaziguamento para ele e de “perdição” para ela.

Apesar de perpassar o filme, a música tem um papel mais forte no início e no final da obra, como uma catalisadora para os grandes acontecimentos na vida de Patty e, como descobrimos depois, também na vida de Simon. Dessa forma, não temos uma trilha sonora reforçando os estereótipos do enredo, mas aparecendo como interlocutora de um diálogo que escancara a personalidade desses indivíduos ao mesmo tempo que representa um pouco da vontade pulsante em todos eles: a libertação. Este é um ponto curioso na obra e que cerca tanto a dupla protagonista quanto os seus familiares. No caso dos parentes de Patty, a libertação vem através da maconha, numa abordagem cômica. No caso dos parentes de Simon, o filme dá a entender que não há libertação, e se envereda para um tipo de tragicomédia — vale destacar, porém, que o enfrentamento deles frente às famílias é de natureza bem diferente.

A relação de estranha cumplicidade, expressões de carinho e olhares e gestos sugestivos entre os atores Kyle Gallner e Emily Skeggs tornam algumas bobagens do texto mais palatáveis e vendem muitíssimo bem cada personagem, embora a atuação de Gallner seja esticada pelo diretor até o limite da forçação do bag guy que, na verdade, não é tão bad assim. De toda forma, o pecado vem mesmo pelo acúmulo disso ao longo do filme e seu impacto negativo não é grande.

O encontro inesperado de duas almas perdidas em labirintos bem diferentes gera um jantar com pratos rápidos, intensa música ambiente e um amadurecimento vindo pelas consequências do que foi plantado, com cada parte do casal seguindo por um rumo comportamental relativamente diferente — tornando-se pessoas melhores? –, isso tudo sem abandonar a alma rebelde e punk que ainda vive neles.

Jantar na América (Dinner in America) — EUA, 2020
Direção:
Adam Rehmeier
Roetiro: Adam Rehmeier
Elenco: Kyle Gallner, Emily Skeggs, Mary Anderson, Brian Andrus, Shelby Alayne Antel, Nevaeh Ashanti, Ryan Bean, Sophie Bolen, Kimberly Cruchon Brooks, Gary Brunner, Nick Chinlund
Duração: 106 min.

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