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Crítica | Jogada de Rei

por Luiz Santiago
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estrelas 3,5

Histórias de superação e mudanças feitas por um professor, membro ou visitante de uma comunidade qualquer são bastante comuns no cinema americano, muito embora tenhamos exemplos desse tipo de filme na cinematografia de outros lugares do mundo. O tema nunca envelhece, nunca deixa de emocionar e nunca enfraquece em sua proposta e mensagem. Se bem realizado, o espectador terá uma boa sessão de uma história — na maior parte das vezes baseada em fatos — que irá conter oposição entre classes sociais, superação de dificuldades de todas as espécies, antagonistas emplacados em guetos temáticos e alguma lição moral às vezes forçada demais, às vezes aceitável o bastante para ser real. Este último é o caso de Jogada de Rei.

O filme nos traz a história de Eugene Brown, ex-presidiário que após 17 anos encarcerado resolve assumir um rumo diferente em sua vida, tentando emplacar em trabalhos honestos e abrindo um clube de xadrez, iniciativa tomada após sua curta experiência numa escola da comunidade onde morava. O personagem tem contornos bem traçados e o roteiro não perde muito de suas ações, trazendo-nos não só a sua atitude social como também o drama familiar causado por um passado completamente à parte da família.

Jake Goldberger pode não ter muita experiência na direção de filmes, mas consegue criar uma sólida linha de eventos em Jogada de Rei, desde a rápida apresentação inicial, que acima de tudo conta com um bom trabalho da montagem; até o desfecho simpático e de cunho emotivo, algo que não foge muito à cartilha desse tipo de produção. É claro que nesse ponto não existe inovação, mas o diretor não subestima a inteligência do público e nem facilita para seus protagonistas, o que torna a história um pouco mais real do que outras obras do gênero, especialmente no quesito de ampliar a visão para algo além da transformação.

Mesmo que tenhamos em mente as incursões ideológicas básicas, é impossível não levar em conta o bom trabalho com a mudança de vida através de um esporte. O que nos chama a atenção é que esse modelo não é algo tão comum, o que dá às ações um quê de novidade muito bem aproveitado pelo diretor e pelos roteiristas. A falha vem apenas quando falamos dos processos de mudança. Enquanto alguns personagens passam por uma boa ‘fase de testes’ e têm suas motivações postas e exploradas na tela, outros parecem ter se transformado sem que nada demais lhes impulsionasse. Essas abordagens, por destoarem completamente da reta central do filme, causam desconforto no espectador. Assim como o abandono temporário e programado de algumas linhas narrativas para dar atenção a outras.

Em par com isso, a eficiente montagem que temos no começo do longa não prevalece o filme inteiro e dá espaço para cenas e sequências que facilmente poderiam ser substituídas por outros acontecimentos realmente importantes para a construção da obra. Contudo, tais falhas não suplantam a qualidade geral de Jogada de Rei, que consegue manter um bom posto no final das contas. Cuba Gooding Jr. apresenta um bom personagem paternal. Nada que ultrapasse linhas imagináveis da dramaturgia, porém, uma boa atuação em um papel que lhe cai bastante bem.

Com um texto de porte notável, uma direção com um bom saldo de acertos e ótima trilha sonora, Jogada de Rei é uma boa sessão garantida, daquelas que tem muito para mostrar, mesmo nos traga um objeto principal já visto muitas vezes antes.

Jogada de Rei (Life of a King) – EUA, 2013
Direção: Jake Goldberger
Roteiro: Leeotis Burgess, Jake Goldberger, David Scott, Dan Wetzel
Elenco: Cuba Gooding Jr., Dennis Haysbert, LisaGay Hamilton, Thurston Hill, Chidi Ajufo, Jaida-Iman Benjamin, Rickey Brown, Carlton Byrd, Jim Calloway, Jordan Calloway, Ryan Cargill
Duração: 100 min.

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