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Crítica | Jogos Letais

Uma surpresa da fase mais recente de Jean-Claude Van Damme.

por Ritter Fan
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Depois de Soldado Universal 3: Regeneração, de 2009,  Jean-Claude Van Damme resolveu tentar duas coisas diferentes. Em 2010, arregaçou as mangas e retornou à direção desde sua primeira tentativa em Desafio Mortal, de 1996, o que resultou em um filme que já sofreu diversas modificações, teve quatro títulos – Full Love, Soldiers, The Eagle Path e Frenchy – uma passagem breve pelo circuito de festivais e nenhuma distribuição, seja nos cinemas, seja em vídeo, situação que, inacreditavelmente, perdura até os dias de hoje, tornando a obra inacessível. Em 2011, o ator entrou para o elenco de Kung Fu Panda 2, emprestando sua voz ao Mestre Croc (trabalho que repetiria na continuação seguinte), marcando a primeira vez que atuaria dessa maneira.

No mesmo ano de 2011, porém, ele retornou ao protagonismo propriamente dito, ainda que dividindo a tela com Scott Adkins, marcando a primeira vez em que fica sem um lançamento próprio em um ano (2010) desde 2000 e iniciando uma parceria com o diretor Ernie Barbarash que lhe renderia outros dois frutos, 6 Balas, em 2012 e Osso Duro, em 2015. E, contra todas as probabilidades, considerando o estado da carreira de Van Damme a essa altura, Jogos Letais consegue ser um de seus melhores filmes, contando com uma história engajante, com estilo próprio, trabalhando bem a parceria dele com Adkins, com quem contracenara pela primeira vez, só que em papeis antagônicos, no fraquíssimo Operação Fronteira, e retornando a um grau de violência gráfica que há muito tempo não fazia mais parte do cardápio de filmes do belga.

O roteiro de Aaron Rahsaan Thomas usa tropos diferentes de filmes de ação – de um lado o assassino mercenário frio, mas que começa a ter coração e, de outro, uma história de vingança – em um texto que cria uma ótima convergência narrativa, colocando Vincent Brazil (Van Damme) e Roland Flint (Adkins) primeiro em rota de colisão e, depois, formando uma união hesitante ao redor do contrato para o assassinato de Polo Yakur (Ivan Kaye, que, por vezes, se parece demais com John Rhys-Davies). Para Vincent, Polo é apenas mais um alvo, mas, para Roland, o recém-libertado vilão é o responsável pelo estupro e estado comatoso de sua adorada esposa Anna (Bianca van Varenberg, filha de Van Damme), o que é suficiente para criar todo o drama e tensão necessários na fita, mas que o roteiro ainda cria uma camada extra ao fazer com que tudo não passe de uma armadilha de agentes sujos da Interpol para capturar Roland, a única ponta solta de um esquema criminoso do passado.

Usando filtro sépia apenas por escolha estilística, mas que, no final das contas, embeleza o filme (curiosamente, é a segunda vez em pouco tempo em que isso acontece com Van Damme, com a primeira tendo sido em JCVD), Barbarash dirige o filme com sobriedade e contenção, sem “espetacularizar” o drama de Flint ou esquecer da trama em prol de sequências de ação. Apesar de não ser um filme que foge do tamanho padrão dos longas do ator belga, percebe-se calma na construção dos dois personagens principais, ainda que usando arquétipos: Vincent é recluso, calado e extremamente organizado, vivendo em seu apartamento duplo, um caindo aos pedaços que serve de fachada para outro luxuoso e moderno, enquanto Roland vive escondido, mas integral e apaixonadamente dedicado à cuidar de sua esposa completamente paralisada em uma cama. A frieza de um e os sentimentos de outro criam o choque necessário para criar o embate inicial e para que haja um “cruzamento de personalidades”, digamos assim, com cada um caminhando para um meio-termo que é até bastante orgânico.

O lado dos vilões, incluindo aí não só Polo, como também os policiais corruptos, é bem menos desenvolvido, mas consegue oferecer um bom pano de fundo para que a ação realmente comece e continue, sem perder o ritmo, a partir do ponto em que Vincent e Roland têm seus planos frustrados um pelo outro, em uma sequência muito bem dirigida de atentado duplo a Polo. Esse momento, aliás, dá o tom ao filme todo, já que, por mais rápido que ele seja, é repleto de pequenas reviravoltas que são ecoadas posteriormente, com Barbarash não economizando no uso de sangue e atos de extrema violência, mas sem que eles pareçam demasiadamente gratuitos. Há até espaço para Van Damme efetivamente tentar atuar, algo que ele por vezes consegue, ainda que por outras vezes fique só na tentativa. Adkins é que não tem muito jeito e atua como o belga atuava no começo de sua carreira, ou seja, na base de caras e bocas.

Jogos Letais é um surpreendente filme da fase mais avançada da carreira de Jean-Claude Van Damme que não deixa nada a dever a várias de suas melhores obras clássicas. Aliás, em muitos aspectos, o longa é mais maduro e mais interessante do que a pancadaria que normalmente corre solta em grande parte de sua filmografia. É só uma pena que sua carreira já estivesse em franco declínio, o que contribuiu para que o filme passasse razoavelmente despercebido.

Jogos Letais (Assassination Games – EUA/Hong Kong/Romênia, 2011)
Direção: Ernie Barbarash
Roteiro: Aaron Rahsaan Thomas
Elenco: Jean-Claude van Damme, Scott Adkins, Ivan Kaye, Valentin Teodosiu, Alin Panc, Kevin Chapman, Serban Celea, Michael Higgs, Kris van Varenberg, Marija Karan, Bianca van Varenberg, Andrew French
Duração: 101 min.

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