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Crítica | Jolt: Fúria Fatal

por Ritter Fan
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Fui capturado pela sinopse de Jolt: Fúria Fatal antes mesmo de perceber que a protagonista era Kate Beckinsale. Afinal, uma mulher que controla sua raiva por meio de choques elétricos auto infligidos é algo que chama atenção independente de qualquer outro fator pela simples bobagem que é a coisa toda. E o mais divertido é constatar, ato contínuo, que, de certa forma, algo muito semelhante já foi tentado antes duas vezes, mais precisamente em 2006 e 2009, resultando em Adrenalina e Adrenalina 2, divertidos, mas completamente imbecis longas-metragens em que o personagem de Jason Statham, para evitar a morte por veneno (no primeiro) e que seu coração pare (no segundo), precisa, dentre outras medidas extremas, tomar choques elétricos.

Portanto, lá fui eu mergulhar na bobeira total, com a vantagem de ter Beckinsale no lugar de Statham, esperando apenas diversão descerebrada. E ela veio, pois, vamos combinar, não poderia ser diferente diante da premissa tresloucada, com a bela Lindy Lewis (Beckinsale) usando um colete debaixo da roupa que lhe dá choques sempre que ela percebe que está perdendo o controle e aciona um dispositivo em sua mão. O que ela tem é uma condição genética que desde pequena a deixa assim, com esse tratamento/tortura, criado pelo Dr. Ivan Munchin (Stanley Tucci) que a atende em um “consultório” que parece uma pocilga, sendo o único que apresentou resultados.

Depois de uma talvez desnecessariamente longa explicação sobre a “origem” de Lindy, a história propriamente dita começa quando o simpático Justin (Jai Courtney), com quem ela tem uma noite de amor sem precisar do colete, o que era algo impensável, é morto off screen no dia seguinte, levando-a a investigar o ocorrido e a bater de frente com os detetives Vicars e Nevin (respectivamente Bobby Cannavale e Laverne Cox), o primeiro mais compreensivo e a segunda completamente seguidora das regras policiais. O resultado é a pancadaria de sempre seguida das reviravoltas de sempre que culminam nas pancadarias de sempre seguidas das reviravoltas de sempre, claro.

E essa estrutura batida até que funciona, com a direção de Tanya Wexler mantendo o ritmo frenético por algo como metade da duração do longa, aproveitando enquanto a premissa pode ser espremida algumas vezes sem se tornar meramente repetitiva, o que ela faz também utilizando o artifício de iniciar a ação, somente para depois descobrirmos que tudo não passou de uma possibilidade caso Lindy não se controlasse. Mas, como tudo na vida, há um limite para o que se pode fazer com o fiapo narrativo que mal e porcamente segura o filme no lugar e, quando chegamos na segunda metade, a costura começa a esgarçar e a desmontar a obra, especialmente com a revelação de – bocejo, bocejo – uma conspiração maior e mais sinistra por trás de tudo.

Mas o que mais desaponta é que a repetição cansada poderia ter sido facilmente evitada se o roteiro realmente apostasse as fichas em doideiras completas em níveis crescentes como a sequência na maternidade que, de tão absurda, me fez gargalhar e revê-la umas duas ou três vezes. Faltam mais momentos assim, diferentes e ultrajantes depois que a novidade inicial desaparece, mas o que Scott Wascha acaba entregando é algo substancialmente mais domado que termina por desperdiçar a premissa afrontosa. O que acaba segurando a coisa toda de pé mesmo depois da fase de “novidade” é o elenco, com Beckinsale mais uma vez provando-se como uma eficiente heroína de ação, Tucci sendo o sempre irresistível personagem que trafega entre a bondade e a maldade e a dupla formada por Cannavale e Cox divertindo mais do que tinha direito. Ah, e isso sem contar com uma ponta surpresa ao final – não leiam a ficha técnica para não levarem spoilers! – que, para a surpresa de absolutamente ninguém, desavergonhadamente escancara as portas para uma continuação.

Jolt: Fúria Fatal não tem nenhuma qualidade que o coloque acima do divertimento rasteiro puramente descerebrado, o que não seria um problema enorme se ele conseguisse ser algo de mínimo destaque nessa já tumultuada “categoria”. Mas o longa puxa o freio de mão da sensacional McLaren verde que Lindy dirige a partir de sua metade e transforma a mais pura bobagem divertida na mais pura repetição que por vezes ainda chega talvez a divertir. Uma pena que o filme vá descarregando sua própria bateria na medida em que avança…

Jolt: Fúria Fatal (Jolt – EUA, 23 de julho de 2021)
Direção: Tanya Wexler
Roteiro: Scott Wascha
Elenco: Kate Beckinsale, Bobby Cannavale, Laverne Cox, Stanley Tucci, Jai Courtney, David Bradley, Ori Pfeffer, Susan Sarandon
Duração: 91 min.

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