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Crítica | Jornada nas Estrelas: Nêmesis

por Ritter Fan
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estrelas 3

Obs: Leia, aqui, as críticas dos demais filmes da franquia.

Os quatros anos que separaram Jornada nas Estrelas: Nêmesis do filme anterior foi o maior intervalo entre filmes da série desde que ela começou, em 1979. E, nesse período, não só Jornada nas Estrelas: Voyager, chegou a seu fim, como a então nova série-prelúdio, Jornadas nas Estrelas: Enterprise, tinha dificuldades em encontrar sua audiência. O lançamento de Nêmesis acabou acontecendo em uma período de “baixa” para a franquia e não ajudou o fato de Insurreição ter rateado na bilheteria. O resultado foi um grande fracasso de crítica e público que não só encerrou – até 2009, claro – Jornada nas Estrelas no cinema, como acabou precipitando o fim de Enterprise em 2005.

No entanto, apesar de Nêmesis não ser realmente um grande filme, sua fama de “destruidor de franquia cinematográfica” é injusta, já que, no meio de um roteiro que não sabe muito bem fechar pontas e aprofundar personagens, ele tem muita coisa plenamente aproveitável e apreciável. E, de certa forma, mesmo terminando com um leve gancho para uma continuação – algo que realmente estava nos planos, mas que jamais foi para frente diante do pífio retorno financeiro – ele acaba funcionando como uma despedida à Nova Geração, ainda que não da maneira solene e sensacional como o adeus à tripulação original em A Terra Desconhecida.

O maior problema do filme é seu vilão, Shinzen. Não que Tom Hardy, em seu primeiro papel de destaque na telona, esteja mal como o ressentido clone de Jean-Luc Picard (Patrick Stewart) que deseja se vingar de tudo e de todos, mas o roteiro de John Logan peca ao jogá-lo na trama de qualquer jeito, sem uma construção minimamente razoável ou crível. É uma sucessão de “não-explicações”. Como assim um clone de Picard? E como é que ele saiu da prisão-mina dos romulanos? E que desejo de vingança é esse? São perguntas que Logan tenta responder, mas as respostas soam aleatórias, quase um “é assim, porque eu quero que seja assim”. Enquanto as motivações de Khan (em A Ira de Khan), de Chang (em A Terra Desconhecida), dos Borg (em Primeiro Contato) e até mesmo de Ru’afo (em Insurreição) são relevantes e lógicas dentro das bases estabelecidas em cada filme, Shinzen parece apenas um doido varrido fazendo cosplay de Cenobita.

E, pior, seu segundo em comando e protetor, um remano vivido por um completamente irreconhecível Ron Perlman, tem poderes telepáticos que ele usa para violentar Deanna Troi (Marina Sirtis) à distância em uma sequência perturbadora sem que isso faça qualquer sentido dramático e, como a cereja no bolo, sem que o assunto seja abordado e desenvolvido de maneira minimamente adequada ao longo da narrativa. Fica parecendo que John Logan, baseando-se na história criada por ele, o produtor Rick Berman e o ator Brent Spiner, que faz Data, simplesmente pegou diversas ideias díspares e as costurou em um arremedo de roteiro que mais parece uma colcha de retalhos.

No entanto, esse emaranhado narrativo tem suas boas ideias. A primeira delas é a narrativa envolvendo Data e uma versão prototípica sua – autodenominada B-4, que é before ou “antes”, em inglês – usada por Shinzen para atrair Picard para sua armardilha. Assim como a relação de “irmão” entre Shinzen e Picard, vemos a relação de androides irmãos sendo construída em ótima atuação “dupla” por parte de Spiner. Claro que é muito conveniente as duas narrativas ecoarem, mas é possível pelo menos ali ver um plano maior de Shinzen, uma espécie de “justiça poética” para seu estratagema genérico de aniquilação.

Outro elemento do roteiro que é muito bem aproveitado é a batalha espacial climática entre a Enterprise-E e a Cimitarra, a belíssima nave de Shinzen. Diria, sem muito medo de errar que, com exceção da pancadaria espacial que dá início a Star Trek: Sem Fronteiras, a batalha em Nêmesis é a melhor de toda a franquia cinematográfica de Jornada nas Estrelas. Afinal, diferente das demais, que normalmente seguem o padrão “Ultraman”, ou seja, “alguns tiros seguidos de escudos enfraquecidos, seguidos de avarias, seguida de Enterprise inutilizada”, aqui o roteirista se dá ao trabalho de escrever algo digno, que mostra toda a inteligência de Picard e a valentia de sua tripulação em um combate que vai do macro ao micro e de volta ao macro de maneira fluida e, mais do que isso, parecendo realmente algo urgente e destruidor.

Nesse tocante, vale chamar atenção para o excelente trabalho de computação gráfica, que traz à vida a batalha espacial com perfeição, com uma ótima fusão de efeitos em pós-produção e cenários práticos que, mesmo seguindo alguns padrões da série – quantas vezes veremos os tripulantes sendo arremessados por cima dos consoles na ponte da Entreprise? – deslumbram e criam efetiva tensão. A maquiagem dos remanos e dos romulanos também funcionam de maneira competente, ainda que tenham pouco destaque ao longo da progressão da fita.

Stuart Baird, muito mais um montador de filmes do que um diretor propriamente dito (Nêmesis foi apenas seu terceiro e último trabalho na direção), usa seu conhecimento técnico para criar sequências eficientes de conflito, incluindo as lutas corpo-a-corpo. Ele mantêm a câmera sóbria, sem invencionices e sem tentar vender gato por lebre, gerando um resultado honesto, ainda que, fora das sequências de batalha ou luta, apenas razoavelmente eficiente.

Jornada nas Estrelas: Nêmesis teve muito mais o azar de ser um filme menos do que ótimo em uma hora sombria para a propriedade da Paramount do que um cataclismo cinematográfico como muitos pintam por aí. Funciona como uma não muito efusiva despedida para a Nova Geração, ainda que Picard e sua tripulação merecessem muito mais.

Jornada nas Estrelas: Nêmesis (Star Trek: Nemesis) – EUA, 2002
Direção:
 Stuart Baird
Roteiro: John Logan, com base em história de John Logan, Rick Berman e Brent Spiner e na criação de Gene Roddenberry
Elenco: Patrick Stewart, Jonathan Frakes, Brent Spiner, LeVar Burton, Michael Dorn, Marina Sirtis, Gates McFadden, Tom Hardy, Ron Perlman, Shannon Cochran, Dina Meyer, Jude Ciccolella, Alan Dale
Duração: 116 min.


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