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Crítica | Josep

por Rodrigo Pereira
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A arte, de uma maneira geral, costuma ser censurada, perseguida e muitas vezes destruída em regimes fascistas. Seus criadores, obviamente, acabam trilhando o mesmo caminho, principalmente os mais revoltados e desafiadores. Um caso que pode ser citado como exemplo é o do ilustrador espanhol Josep Bartolí, que lutou contra o governo do ditador Francisco Franco no final dos anos 30. Além de artista, Bartolí também integrou o Partido Obrero de Unificación Marxista, um partido de extrema esquerda, o que o fazia um alvo certo do regime franquista. Em 1939, ele foge da Espanha rumo à França, mas vai parar em um dos campos de concentração para refugiados que o governo francês construiu.

É a partir daí que o diretor Aurel começa a contar a história de seu filme Josep. Apesar da dureza aparente dos acontecimentos, o realizador usa dessa situação para abordar a amizade que Josep (Sergi López) constrói com Serge (Bruno Solo), um dos guardas do campo de concentração que o artista foi enviado. Diferentes de outros guardas, Serge não consegue realizar as mesmas atitudes deploráveis e odiosas com os refugiados, algo que acaba o aproximando de Josep e dá início a sua amizade. É ele quem entrega um pequeno caderno e lápis para que o ilustrador consiga expressar sua arte mesmo em meio a todo aquele horror.

Por diversas vezes durante o filme vemos os desenhos de Josep sendo contrastados com o cenário da obra, como se seus trabalhos criassem vida em nossa frente. Aliás, ainda que diferente, o próprio traço da animação se assemelha ao do desenhista, criando algo que é único do diretor e ao mesmo tempo uma homenagem a outro artista.

Um dos pontos que mais me agradou foi justamente a forma interessante que Aruel utiliza os cenários de sua obra para evocar os sentimentos desejados. Junto da trilha sonora, ele cria momentos no campo de concentração que nos passam uma sensação de vazio completo, com poucos e afastados elementos acompanhados de uma trilha melancólica. Somos apresentados ao sofrimento daquelas pessoas através de humilhações e outras situações revoltantes, mas também por essas sequências mais estáticas, onde entramos em um turbilhão de sentimentos completamente misturados.

Após os acontecimentos no campo de concentração, Josep escapa do local com ajuda de Serge e vai para o México, onde somos apresentados à relação que teve junto de Frida Kahlo (Sílvia Pérez Cruz), a famosa pintora e revolucionária mexicana. Somos testemunhas de que o laço de amizade criado entre os dois durante aquele momento inesperado continua firme e forte, já que Serge vai ao encontro dos pintores no México, e assim segue pelos demais anos de sua vida.

Ao contar sua história através das lembranças, Josep nos mostra como a amizade pode sobreviver ao teste do tempo e aos mais difíceis momentos na vida das pessoas. Mesmo que os mais perversos tentem acabar com a arte, que tanto ajudou Josep Bartoli nos campos de concentração e outros antes dele, ela seguirá resistindo e ajudando outras pessoas a resistirem.

Josep – Bélgica, Espanha, França, 2020
Direção: Aurel
Roteiro:  Jean-Louis Milesi
Elenco: Sergi López, Bruno Solo, Emmanuel Vottero, Xavier Serrano, David Marsais, Valérie Lemercier, Thomas Vandenberghe, Gérard Hernandez, François Morel, Alain Cauchi, Bamar Kane, Sílvia Pérez Cruz, Alba Pujol, Sophia Aram
Duração: 74 min.

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