Alguns de vocês devem estar se perguntando o que raios é isso que o Plano Crítico decidiu criticar agora. Mas calma, há uma explicação. E ela se resume a um nome: Adi Shankar.
Não sabem quem é? Ai, meus sais…
Shankar é o produtor executivo de grandes acertos cinematográficos, como A Perseguição, O Homem da Máfia e, claro, o cultuado Dredd, além dos recentes O Grande Herói e Caçada Mortal. Mas Shankar, além de ser certeiro no que escolhe colocar nas telonas, ainda tem tempo para fomentar um hobby, que ele intitulou, jocosamente, de Bootleg Universe, literalmente curtas-metragens que ele solta no Youtube com suas próprias adaptações não-autorizadas de personagens famosos. Foi assim com o Justiceiro, no sensacional Dirty Laundry e Venom no irregular, mas ainda assim divertido Truth in Journalism.
Como Dredd foi um fracasso injusto de bilheteria e muitos fãs ficaram desapontados com as pouquíssimas chances de uma continuação, Shankar acrescentou o personagem a seu Bootleg Universe e lançou uma curta websérie de 6 episódios intitulada Judge Dredd: Superfiend, ou algo como Juiz Dredd: Super Inimigo (em tradução livre). Ela pode ser encontrada bem aqui.
O trabalho, que mistura animação em Flash com 3D, foca, na verdade, na origem do Juiz Morte, desde seu nascimento, criação pelo pai psicopata sádico, sua própria psicopatia, morte e, claro, a volta do inferno para atazanar os vivos. O Juiz Dredd mesmo só entra mais para o final, como um aceno aos fãs e para encerrar a história da única maneira que ela poderia ser encerrada: com absurdos e mais absurdos.
O trabalho todo lembra muito os desenhos mais risqué antigos da Cartoon Network, como Ren & Stimpy e A Vaca e o Frango e, nessa linha, não há economia na violência e nas atrocidades, mas tudo de maneira altamente estilizada e exagerada. Os designs dos personagens – vários da mitologia de Dredd aparecem – são fieis aos originais, mas com características próprias marcantes. Além disso, o roteiro segue de forma muito próxima a série Young Death – Boyhood of a Superfiend, escrita pelo próprio John Wagner, criador do personagem, e publicada na 2000 AD em 1992, o que faz do desenho algo quase canônico, podendo até mesmo ser visto como uma espécie de “continuação” de Dredd.
Há alguns problemas sérios com a fusão do Flash em 2D com a renderização de gráficos em 3D. A combinação dos dois muitas vezes não funciona e causa estranhamento. Mas claro, trata-se de uma série de baixíssimo orçamento, feita sem objetivo de lucro. No entanto, a eleição da mescla de estilos é o que critico. As passagens em 3D, especialmente nas estradas de Mega City, são completamente desnecessárias e tudo poderia ter sido trabalhado em 2D. Da maneira que ficou, toda vez que a história pula de 2D para 3D ou vice-versa, isso fica tão evidente que a imersão se vai.
De toda forma, no final das contas, a websérie funciona e mostra o potencial de divertimento adulto que o Juiz Dredd pode ter na animação. Quem sabe isso não convence alguma produtora a seguir por esse caminho e, com isso, nos presentear com mais Dredd nas telinhas?
Judge Dredd: Superfiend (Idem, EUA – 2014)
Direção: Enol Junquera, Luis Pelayo Junquera
Roteiro: Enol Junquera, Luis Pelayo Junquera (baseado em quadrinhos de John Wagner e Carlos Ezquerra)
Elenco: Jesse Snider, Jane Dashow, Darin De Paul, Marc Graue, Roger Rose, Michelle Ruff, Stephanie Sheh
Duração: 36 min. (aprox.)