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Crítica | Jujutsu Kaisen – 1ª Temporada

Bonitinho, mas completamente vazio.

por Kevin Rick
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Olhem, eu gosto de animes, mas pode não parecer, considerando que não sou grande fã de dois titãs recentes da mídia: Demon Slayer e, agora, Jujutsu Kaisen. Quando acabei a primeira temporada da série baseada no mangá de Gege Akutami, confesso que fiquei refletindo se meu gosto por shounens mudou e se agora não é um meio atrativo para meus interesses audiovisuais. Mas, olha, eu acho que não, porque continuo adorando Attack on Titan semanalmente, e me peguei por acaso revendo partes de Hunter X Hunter recentemente, em que a obra de Togashi continua tão boa, quiçá melhor, do que eu me lembrava. Então, para resumir, eu acho que na verdade o grau crítico da comunidade de fãs de animes está muito superficial para considerar Jujutsu Kaisen uma obra remotamente distante de algo genérico.

Como sempre, o visual parece falar mais alto que a substância. Tecnicamente, Jujutsu é ótimo, crédito do fantástico estúdio MAPPA. A produção não chega a ser encorpada como em Demon Slayer, já que a série não tem o mesmo rigor de DS para trilha sonora, cores e iluminação, mistura de animação com xilogravura, sombreamento e até direção cinematográfica, mas a MAPPA faz um trabalho eficiente em termos de fluidez dos combates e na construção visual dos ambientes. A animação se resolve tão bem no battle shounen quanto nas pitadas de horror que circulam o universo da obra, também sobrando louvores para os ambientes mais, digamos, alegóricos, resultado da chamada “expansão de domínio” do sistema de poderes (mais disso à frente).

A história, porém, é vazia. Vejamos a premissa de forma mais ampla: um garoto do ensino médio chamado Itadori descobre que existe um universo surreal e espiritual rondando a normalidade da vida humana, e que agora ele se tornou parte após conseguir poderes, principalmente pelo fato dele ter algum tipo de talento nato e habilidades excepcionais. Em suma, highschool, ocultismo e um protagonista especial e predestinado. Dá para citar dezenas de animes com premissas similares, em especial Bleach, considerando a cópia semelhança entre o protagonista e Ichigo, assim como o pezinho no sobrenatural de ambas as obras. Temos também o amigo misterioso (Fushiguro), um mestre fodão (Gojo) e um antagonista maniqueísta (Sukuna).

Para o mérito do anime, o texto de Akutami tem um certo nível de autoconsciência de seus clichês, indo da própria mídia japonesa até Senhor dos Anéis com a narrativa circulando diferentes referências, majoritariamente utilizadas de forma mais cômica, como o fato de Itadori ter força sobre-humana. Em alguns momentos parece descaso de Akutami, conforme explicações de construção de mundo são na base do “porque sim”, principalmente com a aleatoriedade de funcionamento do sistema de poderes ou das regras do mundo espiritual. No entanto, também há uma leve percepção subversiva, como na ótima escolha de colocar o inimigo principal no mesmo corpo do protagonista após Itadori engolir um dos dedos de Sukuna, considerados objetos amaldiçoados. Logo de cara, a trajetória até o final boss da maioria de animes é invertida, rendendo ótimas dinâmicas com boas piadas e interações cômicas, além de uma boa base dramática para conflitos internos (de forma até literal) de Itadori, mantendo um embate constante com o perigo sempre à espreita.

Essa escolha inicial de Akutami foi o único elemento que me fez perseverar pela temporada toda, porque o restante da narrativa é bem batida. Temos uma escolinha de feiticeiros, um trio de estudantes à la Naruto, e, claro, um arco de torneio que dá errado. Eu sou o único espectador completamente cansado de torneios em animes? É tão derivativo. Fico surpreso como mangakás parecem não aprender com artistas consagrados como Togashi e seu revolucionário Hunter X Hunter, navegando em diferentes estilos narrativos (da máfia, isekai, horror até exploração) ou então Eiichiro Oda e seu mais convencional One Piece que se resolve tão bem na estrutura de aventura em ilhas. Em Jujutsu, por exemplo, quando a história apresenta os dedos de Sukuna, pensei que teríamos uma narrativa de quests em busca dos objetos amaldiçoados, algo na minha opinião muito mais engajante do que o encadeamento genérico que vemos aqui. Sério, arco de torneio? Qual é.

Eu me pergunto o que diferencia Jujutsu Kaisen de algo como Tokyo Revengers, outro anime cheio de clichês, mas que pelo menos tem interesse em uma narrativa empenhada dentro de seus padrões. O sucesso da adaptação do mangá de Gege Akutami parece se resumir à ótima animação, que, aliás, contém sim uma beleza estética, mas não dispõe de qualquer escolha estilística que seja minimamente memorável. Para mim, isso resume bem o anime em questão: bonito aos olhos, mas vazio, sem nada especial. O fato de que o texto de Akutami preza por uma mistura de horror com comédia também parece afetar qualquer semblante de identidade da obra, sempre nos deslocando da atmosfera ocultista. Enfim, genérico. Mais de oitocentas palavras para chegar a esta conclusão, o mesmo sentimento decepcionante e inútil de assistir o ano de estreia de Jujutsu Kaisen. O anime pode melhorar no futuro? Tudo é possível, mas é improvável considerando o total descaso para construção de mitologia, estrutura narrativa ou desenvolvimento de personagens. Talvez valha a pena dar uma chance e continuar vendo, até porque, com exceção do machista Toudou, gosto do carisma do elenco, mas a história de Itadori parece um recorte sem brilho de muita coisa que já vimos antes.

Jujutsu Kaisen (呪術廻戦) – 1ª Temporada | Japão, 2020
Criado por: Gege Akutami
Direção: Sunghoo Park
Roteiro: Gege Akutami, Hiroshi Seko
Elenco: Junya Enoki, Yûichi Nakamura, Yuma Uchida, Asami Seto, Mitsuo Iwata, Nobunaga Shimazaki, Tomokazu Seki
Duração: 580 min. (24 episódios)

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