Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Júlia Kendall – Vol. 13: Poesia Mortal (Cyrano)

Crítica | Júlia Kendall – Vol. 13: Poesia Mortal (Cyrano)

por Kevin Rick
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Poesia Mortal, ou Cyrano como no título original, é o tipo de obra que fica mais interessante ao ser contextualizada, abrindo um debate da arte como reflexo social e histórico no decurso temporal, mais necessariamente da infeliz atemporalidade de situações criminosas. Como meu digníssimo parceiro nas críticas da série disse no volume anterior, a linguagem das aventuras da criminóloga está ganhando um foco que não está nem no modus operandi do assassino e nem no mistério em torno da morte propriamente dita, mas na maneira que a justiça alcança o criminoso através de seus erros.

Nesse volume, a narrativa expande essa construção de um jeito bastante moderno, utilizando os males da tecnologia como sua abordagem criminal. Júlia Kendall confronta um assassino que utiliza o nome e a rima poética de Cyrano, um personagem de Edmond Rostand, que por sua vez é baseado no escritor Cyrano de Bergerac, no meio virtual, para atrair sua vítimas, todas adolescentes incompreendidas em busca de liberdade, de um amigo compreensivo. Dessa forma, a trama é, para a época, inovadora artisticamente, e mesmo que tenha se tornado um assunto batido atualmente, continua sendo extremamente relevante e perigoso. Júlia sempre enfrentou o desconhecido, mas agora se vê em conflito com um grande inimigo contemporâneo: o anonimato digital.

Abro, aqui, um espaço extremamente pessoal, pois como estudante de Direito, mais especificamente pelo meu foco acadêmico ser o Direito Digital e crimes cibernéticos, a experiência dessa história tornou-se ainda mais impactante e particular para mim, principalmente pela maneira que a leitura da obra me fugiu completamente da ficção. Um verdadeiro retrato perturbador de temas como pedofilia e homicídio infantil expandidos pelo âmbito virtual. O mistério e a investigação não ganham muita atenção, mas sim o crime, e a maneira que Kendall inova sua “caçada”, agora dispondo de pistas e rastros virtuais. O cercamento da Justiça chega, independente do meio que o assassino utiliza, mas ao contextualizarmos o crime cibernético para os dias atuais, tanto do ponto de vista da permanência, como também da expansão, no qual encontrar o anônimo tornou-se tarefa muito mais hercúlea que um simples hacker achar um endereço eletrônico, o delito, aqui, compõe uma atrocidade tão real, tão podre, que fica aquela reflexão pessimista e um sentimento de angústia após a leitura.

Ademais, Poesia Mortal traz um arco mais pessoal para Júlia, mantendo os tradicionais – e ótimos – pesadelos e conversações com sua avó, mas adicionando uma camada romântica agradável e íntima com Webb, que aprofunda seu relacionamento interessante para além das divertidas discussões. Por fim, este volume da série de Júlia Kendall, que sempre retratou o lado maligno da humanidade com bastante realismo, traz um crime e temas modernos com a usual perturbação, ganhando mais camadas ao pensarmos na contextualização temporal e no subtexto tecnológico.

Julia – Le avventure di una criminologa #13: Cyrano | Itália, outubro de 1999
Roteiro: Giancarlo Berardi, Michelangelo La Neve
Arte: Luigi Siniscalchi
Capa: Marco Soldi
Editora original: Sergio Bonelli Editore
No Brasil:
 Editora Mythos, 2005 e 2020
132 páginas

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