Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Júlia Kendall – Vol. 14: O Caçador

Crítica | Júlia Kendall – Vol. 14: O Caçador

por Kevin Rick
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Um dos melhores elementos na estrutura de volumes/edições contidas na série da Júlia Kendall reside na diversificação de estilos de crime que o roteiro pode abordar. Infelizmente, a realidade oferece uma quantidade infinita de exemplos de transgressões humanas no campo do homicídio e da psicopatia para nossa criminóloga combater. E apesar da curta quantidade de volumes até aqui, existe uma gama bem grande de formas de delito tratada na série, desde o sequestro, justiça com as próprias mãos, pedofilia, crimes familiares, e, agora, a caçada humana.

Todos os crimes são, de certa forma, uma caçada, mas o literal “jogo” entre caçador e presa em ambientes normalmente florestais é bastante retratado na arte geral, especialmente no Cinema, como os recentes A Caçada (The Hunt) e Casamento Sangrento, e também na literatura, como, por exemplo, O Jogo Mais Perigoso, de Richard Connell, constantemente citado na narrativa. Berardi, junto de Gino D’Antonio, decidem tomar seu primeiro turno nesse tipo de história normalmente contada do ponto de vista da vítima, para compor a verdadeira caçada: o trabalho investigativo de Júlia, em uma interessantíssima análise criminal.

A história em si gira em torno de um desconhecido assassino que sequestra prostitutas e as leva para uma floresta com o intuito de caçá-las, em um sádico jogo, que é, como o usual, retratado do ponto de vista elitista, no qual Júlia desconfia de um ricaço chamado Lindsay. As cenas de assassinato são bem animalescas, com as mulheres nuas e mortas como simples presas, mas, como eu disse, a trama gira em torno da caçada da criminologia. Kendall compondo o retrato do assassino, indo na mansão de Lindsay fingindo ser uma ambientalista, o flerte misturado com ameaça/embate, a investigação posterior com Baxter nos cômodos da casa, sempre em busca de seu assassino, sua “presa” se achar melhor.

Mas, além da análise criminal no âmbito da caçada, é possível traçar um paralelo da protagonista como presa, não dos assassinos que procura, mas do seu próprio estilo de vida solteirona e independente, ou, melhor dizendo, da maneira que as pessoas a seu redor veem a vida adversa de um mulher autônoma. A maneira como Berardi tem feito um contínuo exercício de sua personagem tridimensional, e a maneira como isso afeta Kendall no meio do trabalho, familiar e, principalmente, romântico, estabelece o maravilhoso estudo de uma das minhas personagens favoritas na Nona Arte, quiçá no meio artístico como um todo. É praticamente impossível não adorar seus momentos de criminóloga maioral mesclados com as conjunturas intimamente intrigantes da personagem, novamente trabalhadas com simbologias no seu pesadelo e também com algumas, ainda que ache meio forçado da minha parte, situações com a sua gatinha solitária e “ameaçada” pelo bulldog.

No seu âmbito investigativo, Júlia é a caçadora suprema, em uma divertidíssima, e como sempre violenta, aventura sobre um estilo de assassinato bastante abordado na ficção, agora retratado do ponto de vista da criminologia como predador. No entanto, enquanto mulher, nossa protagonista é simplesmente humana, e está a mercê das dificuldades sociais sobre relacionamentos e do feminino numa posição de poder, no caso aqui, intelectual. O Caçador é mais uma deliciosa aventura da Júlia Kendall, uma personagem que só cresce no meu coração.

Julia – Le avventure di una criminologa #14: Il Cacciatore | Itália, novembro de 1999
Roteiro: Gino D’Antonio, Giancarlo Berardi
Arte: Laura Zuccheri
Capa: Marco Soldi
Editora original: Sergio Bonelli Editore
No Brasil:
Editora Mythos, 2006 e 2021
132 páginas

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