Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Júlia Kendall – Vol. 3: Na Mente do Monstro

Crítica | Júlia Kendall – Vol. 3: Na Mente do Monstro

por Luiz Santiago
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Após o final de Objeto de Amor, quando Myrna Harrod conseguiu escapar da polícia, uma grande dúvida foi plantada: até quando o roteirista Giancarlo Berardi levaria o drama dessa assassina adiante, até que ela, enfim, fosse presa? A resposta para esta pergunta vem aqui em Na Mente do Monstro, terceira edição da série Júlia Kendall: Aventuras de uma Criminóloga, lançada originalmente em dezembro de 1998. Como continuidade direta dos eventos da edição passada — bom, na verdade, uma continuação do problema apresentado já na estreia do título, Os Olhos do Abismo — vemos Myrna disfarçada, trabalhando com documentos falsos na empresa Garden City, em um grande shopping da cidade.

Como é citado em dado ponto da aventura, há nesta história toda um quê de A Carta Roubada, de Edgar Allan Poe, uma vez que Myrna está camuflada, à plena vista das pessoas e dos policiais que a seguem. Mas aqui há um tom diferente na história. Vemos as idas e vindas da psicopata do trabalho para casa e imaginamos qual será o passo que a fará matar,  o que ela fará a seguir. O roteiro, nessa edição, usa bastante narração e leva a maior parte da aventura como um drama doméstico ou de conflitos cotidianos, em detrimento da investigação mais ampla de um caso — o que é compreensível, pois aqui se fecha o arco de Myrna. Por outro lado, essa toada deixa a edição um pouquinho menos interessante que as suas antecessoras.

A arte aqui é de Gustavo Trigo, com a colaboração de Marco Soldi e Luca Vannini, e o trabalho dos artistas tem uma ótima dinâmica sequencial, fazendo com que a gente sinta bem a passagem do tempo e vá acompanhando com interesse o deslocamento dos personagens. Exceto no núcleo de Júlia, todos os outros são frequentemente retratados em planos mais distanciados, como se os artistas quisessem mostrá-los engolidos pelo ambiente que os cerca, anônimos, sem importância maior, sem algo pessoal que os prendesse à essa realidade. Essa conversa, aliás, é levantada pela própria Myrna em suas divagações. O título da história diz muito sobre como o roteiro guia o seu foco aqui. Nós passamos a ver o mundo a partir da percepção de Myrna e mesmo que a gente sinta bastante falta de um trabalho mais firme de Júlia, aproveitamos bastante essa nova perspectiva.

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Myrna disfarçada em um encontro inesperado, na versão colorida desta edição.

A obsessão de Myrna por Júlia acaba atingindo Norma Kendall, a irmã caçula, que vem em uma visita reparadora de feridas do passado, mas que ainda guarda um segredo. Um vício que Júlia constata, mas não fala nada a respeito. Na reta final da história as coisas começam a ficar bem mais intensas e a impressão é que Myrna irá escapar novamente. Curioso que nesta visão mais íntima, o autor também tratou de maneira muito inteligente (e lógica, diante das novas condições da serial killer) o modo como ela comete os assassinatos. Embora siga o padrão de violência típica dos gialli, as mortes realmente estão mais limpas. O cuidado da criminosa para não ser pega fez com que ela seguisse o seu impulso assassino sob um tratamento bem diferente, o que não torna a revelação dos corpos menos impactante, diga-se de passagem.

A frieza e crueldade de uma psicopata é trabalhada nesta edição a partir da seguinte premissa: “o que esse tipo de pessoa faria se soubesse ou desconfiasse que a polícia está quase colocando as mãos nela?“. O resultado, como sempre, nos surpreende bastante e traz um desfecho ágil e cheio de bom suspense, talvez com um pouquinho de desacerto no ritmo, mas nada que incomode de verdade. Com o destino de Myrna definitivamente traçado, fica agora um novo caminho aberto para as investigações de Júlia em outro caso. Além das questões em torno de sua irmã Norma que, ao que tudo indica, deve piorar após o choque causado pelo sequestro. Uma boa deixa para a sequência desta excelente saga.

Julia – Le avventure di una criminologa #3: Nella Mente del Mostro (Itália, dezembro de 1998)
Editora original:
 Sergio Bonelli Editore
No Brasil:
 Editora Mythos, 2005
Roteiro: Giancarlo Berardi
Arte: Gustavo Trigo (com a colaboração de Marco Soldi e Luca Vannini)
Capa: Marco Soldi
Tradução: Júlio Schneider
132 páginas

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