Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Júlia Kendall – Vol. 7: A Longa Noite de Sheila

Crítica | Júlia Kendall – Vol. 7: A Longa Noite de Sheila

por Luiz Santiago
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É muito interessante ver uma história de Júlia Kendall onde um padrão comportamental que ela cria para um criminoso não se encaixa, mas onde a opção de leitura oposta simplesmente não faz nenhum sentido para o caso. Isso torna a linha de eventos mais problemática e evidentemente coloca mais trabalho nas mãos da criminóloga, que perde o sono e parece encontrar-se em um labirinto de crueldade após o assassinato da jovem Sheila, em um parque da cidade. Estuprada e mutilada, a vítima é uma mulher negra, muito bonita, que teve uma briga com o namorado na noite anterior e que parou no parque para chorar, quando foi surpreendida pelo assassino.

Trata-se de um puro giallo, bem aos moldes cruéis de O Que Vocês Fizeram Com Solange?, ou seja, um crime brutal impulsionado por questões psicológicas doentias de um homem (logo, há um fator de sexismo a se considerar) e uma camada complicadora que é a questão racial. Ao longo da investigação o leitor também se depara com um outro problema, relacionado ao ambiente de trabalho da vítima. Como aconteceu na história anterior, Jerry Desapareceu, Giancarlo Berardi (que aqui divide o texto com Giuseppe De Nardo) se aprofunda um pouco mais no dia a dia dos personagens e nos dá detalhes que incrementam a base de pistas ou de suspeitos para o crime, apontando para infrações não mortais no cotidiano de algumas pessoas, como o assédio sexual que Sheila sofria de seu patrão no supermercado, por exemplo.

Em paralelo à história principal, os autores nos levam para um território mais tranquilo, cômico, quebrando um tantinho do horror que enfrentamos com a morte da jovem que sonhava em ser modelo. Nesse bloco, as discussões entre Júlia e Webb são intensificadas e, como sempre, servem de piadinha bem-vinda no decorrer da trama. Eles  constantemente divergem em relação ao método de fazer as coisas, e isso é oportunamente visto como um sinal de sentimento guardado em relação ao outro. Me pergunto se no futuro terão algum envolvimento romântico na série, ou se seguirão apenas como amigos e colegas de trabalho que respeitam bastante um ao outro, mas são honestos e seguros o suficiente para se oporem à visão do parceiro e levantarem a voz a fim de defender suas ideias.

Quando a resolução do caso apareceu, praticamente entregue de bandeja, eu estranhei. Imaginei que a coisa não seria assim tão simples, embora pudesse ter algo de verdade ali. Não era possível que a confusão no padrão do criminoso havia sido explorada no início da história sem que houvesse a intenção dos autores em retomá-la no final. Dito e feito. Quando a primeira confissão é encontrada, descobrimos apenas uma parte dos bastidores do crime infame contra Sheila, e somos “recompensados”, logo a seguir, com uma continuação mais bizarra e mais nojenta ainda.

Achei a estratégia final, com Júlia sendo usada como isca, muito parecida com algo que já tivemos na série, mas ainda assim é um caminho que faz sentido para a história, de modo que não se torna um momento ruim. E se o leitor achou que já tinha “visto de tudo” nessa saga… eis aqui mais um capítulo das aventuras de uma criminóloga em que somos surpreendidos com a maldade e a miséria que um ser humano pode causar a outro.

Julia – Le avventure di una criminologa #7: La Lunga Notte di Sheila (Itália, abril de 1999)
Roteiro: Giancarlo Berardi, Giuseppe De Nardo
Arte: Luigi Siniscalchi
Capa: Marco Soldi
Editora original: Sergio Bonelli Editore
No Brasil:
Editora Mythos, 2005 e 2020
130 páginas

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